Tive a oportunidade de partilhar com o Pe. José Vidalvino Fontanella da Silva a tarefa de atender pastoralmente a Paroquia Imaculada Conceição, Rio dos Cedros, praticamente em todo o período em que ele permaneceu como Administrador Paroquial da referida comunidade paroquial. Foram sete anos!
Quando da sua transferência, já expressei minha gratidão a ele por sempre me ter acolhido, principalmente nos finais de semana, quando normalmente, a vontade de Deus para lá me destinava. Digo principalmente, pois em muitas ocasiões, em dias de semana ele me solicitava para missas, cursos, eventos que lhe superpunham as agendas. Na verdade, numa paróquia tão extensa, o padre muitas vezes se vê impossibilitado de atender até compromissos rotineiros. E sempre que minha agenda permitia, atendia-o com alegria fraterna.
À medida que o tempo vai distanciando a sua ausência do meio dos riocedrenses, de nós, tenho a impressão de ir percebendo também o legado evangelizador que Pe. José Vidalvino deixou para a história de Rio dos Cedros.
Destaco aqui alguns elementos que compõem, pode-se dizer, o luminoso legado.
Primeiro, a sua perseverança. Um homem que assume um desafio tão exigente como o de pastorear uma extensa comunidade paroquial, com suas potencialidades, mas também com seus limites, e nesse “sim” persevera, talvez seja o primeiro legado a ser nele reconhecido. Não esqueçamos, a perseverança é fruto da ação do Espírito Santo numa pessoa, notadamente num sacerdote. Pe. Fontanella perseverou por sete anos, escreva-se nos anais históricos da evangelização na Paróquia Imaculada Conceição de Rio dos Cedros!
Continuando no sentido evangelizador, a tarefa prioritária da Igreja e, portanto, também do padre, Pe. José manifestou-se criativo. Não lhe bastavam compromissos rotineiros, “desobrigas”. Sua inquietude pastoral levaram-no a criar meios eletrônicos, radiofônicos de anúncio de Jesus Cristo. A rádio comunitária Santa Terezinha iniciada por ele é prova disso. Seu ardor missionário levou-o a trazer para a paróquia o movimento chamado de Acampamento. A região beneficiou-se dessa sua notável. Expandiu o Movimento para o Rio Grande do Sul. Projetou missões campístas em diversos lugares, inclusive no estado do Pará. Como não reconhecer suor, lagrimas, sono, tempo, empenhados com tantos jovens, casais, idosos, crianças e adolescentes, em vista de torná-los melhores cristãos, melhores cidadãos, construtores da nova sociedade da paz, da justiça, do amor. Em sua fala de despedida do Administrador Paroquial, o Sr. Prefeito de Rio dos Cedros destacou o Acampamento como obra evangelizadora iniciada e conduzida pelo jovem sacerdote.
Em seu tempo de pastoreio em Rio dos Cedros, Pe. José deu significativos passos na regularização fundiária das terras da Igreja. Não foi fácil esta verdadeira luta. Encontrou resistências, incompreensões. Por outro lado, não lutou sozinho, teve apoio de lideranças qualificadas da paróquia e da cidade. Não esqueceu o líder municipal de citar também essa conquista do Pe.Vidalvino.
Pe. José incentivou e mais, mediou, a negociação de terreno da Igreja próximo à Igreja Matriz, o que fez surgir verdadeira obra cultural para a cidade e região: espaçoso museu que está guardando a memória dos colonizadores de Rio dos Cedros. Citou também essa obra o Sr. Prefeito, em sua suscinto e objetivo pronunciamento.
Ainda não menos importante empenho do ex-Administrador Paroquial tornou-se a regularização dos salões de promoções e eventos das comunidades, inclusive as igrejas, diante das exigências legais de segurança. Algumas tragédias que repercutiram nacionalmente, como o incêndio da boate Kiss, em Porto Alegre, levantaram fortemente esse apelo. Boa parte desses espaços públicos de aglomeração de pessoas na Paroquia riocedrense adaptaram-se a esses cuidados preventivos. Faço questão de citar também neste aspecto o destaque do Sr. Prefeito, usando da palavra naquela inesquecível noite.
Diz-se que numa folha de papel branca um ponto escuro chama mais a atenção do que todo o espaço em branco. Assim pode ser o olhar crítico-negativo para com uma pessoa e sua obra. Pe. Fontanella, como todos os seres humanos, expunha também seu limite. No entanto, seria flagrante e grande injustiça não reconhecer as luzes que projetou em tantas pessoas, comunidades, grupos.
Finalizando, repito aqui e me explico um pouquinho mais do que escrevi como despedida e gratidão ao Pe. José: As obras evangelizadoras ficam. São fruto da graça de Deus em nós. De certa forma, nós, em certo momento, as perdemos porque as circunstâncias levam-nos a devolvê-las a Ele. Uma transferência implica nesse despojamento. A morte é isso também, não é mesmo? Veja só como reza a canção: “Já em ti me perdi, minha vida te dei. Mas eu sei que a encontrarei lá onde está meu tesouro”. Nosso tesouro é Deus. Nada o pode substituir. Nem as boas obras que deixamos para trás!
Obrigado, Pe. José Vidalvino Fntanella! Prossiga perseverando no seu sim ao Senhor que te chamou e enviou!
(Texto: Pe. Raul Kestring – Fotos retiradas da internet)