Onde está a fonte da liturgia? Está no coração de Deus como relação amorosa como sua fonte e fim; está na Palavra que se fez carne (cf. Jo 1,11), Jesus Cristo, vivo anúncio do amor divino, a sua pessoa; está na ação do Espírito Santo que nos transforma em Corpo eclesial de Cristo. Conhecer a liturgia é uma ferramenta indispensável para praticá-la, vivê-la, amá-la e, principalmente, transmiti-la. A liturgia é, antes de tudo a obra do próprio Cristo, que oferece ao Pai o sacrifício de sua vida pela salvação da humanidade.
A palavra liturgia indica ação sagrada, isto é, a ação do povo que celebra a participação de Deus em sua vida ao longo da história. Ele criou o mundo belo como nossa morada, e nos fez à sua imagem e semelhança. Não desistiu da humanidade mesmo diante das inúmeras vezes em que ela se afastou. Mas, veio sempre em seu socorro, libertando-a das diversas formas de escravidão (Ex 3,6-8; Lc 4,16-21).
A celebração fala da vida na dimensão da fé. É festa. Produz entusiasmo e força para viver bem a vida. A festa faz a comunidade e a comunidade faz a festa. Assim como na vida fazemos uma festa, a liturgia também é uma festa. Porque celebra agradecida a presença do mistério: a vida de Cristo na vida do povo. Para isso são necessárias pessoas que acolhem, coordenam, servem e animam. Da liturgia emana a força de que necessitamos para perseverarmos na fé, continuando a missão dada por Cristo de anunciar sua palavra no mundo através de um testemunho coerente e entusiasta de vida. Ela também é o ponto de chegada de toda a ação da Igreja, solicitando que seus membros participem dela por inteiro. A liturgia pela qual se exerce a obra de nossa redenção contribui do modo mais excelente para que os fiéis, em sua vida, exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a natureza da Igreja (SC 2).
O centro de toda a celebração é o mistério pascal (paixão, morte e ressurreição de Cristo), onde fazemos memória da entrega total de Jesus Cristo, dando a vida para que todos tenham vida. “Façam isto em memória de mim” (Lc 22,19). “Toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7). “A liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força” (SC 10).
Consequentemente, as celebrações litúrgicas têm o sagrado de- ver de possibilitar a toda assembleia poder sentir, experimentar, vivenciar este Jesus como a Fala do Pai, pelo seu Espírito, presente no meio de nós. Trata-se de um direito e dever de todos, provindo do Batismo ( cf. SC, n.14). Liturgia não é tanto barulho que nós fazemos para Deus ou diante de Deus, mas muito mais atenciosa escuta de Deus presente na globalidade da celebração e renovação da Aliança conosco.
A consciência da sacramentalidade da liturgia é sumamente importante na evangelização. A liturgia celebrada nos educa na fé precisamente mediante sinais sensíveis. Por isso, a necessidade de tomarmos consciência sobre a importância da arte de bem celebrar como a melhor evangelização.
O mistério escondido nos ritos
A celebração litúrgica é um ato comunitário e não interesse de cada um em particular. Sendo um ato comunitário, todos os fiéis necessitam ser levados à plena, consciente e ativa participação nas celebrações litúrgicas. Pelo Batismo todos participam do sacerdócio de Cristo (SC 14). O gesto litúrgico não é autêntico se não implicar num compromisso de caridade, na vivência comunitária e de transformação da sociedade. A celebração litúrgica coroa e comporta um compromisso com a realidade humana (Medellin 9a).
Sendo a liturgia o lugar especial de presença do Evangelho vivo e, portanto, o lugar privilegiado de educação da fé, ou melhor ainda, a “mistagogia permanente da Igreja”, isso deve aparecer na própria maneira como ela é celebrada. Caso contrário, é como se os canais ficassem entupidos e a fonte estagnada. A beleza encantadora e contagiante do mistério escondido nos ritos e nos símbolos deve poder expressar-se com toda a sua pujança, naturalmente educadora, na maneira como os ritos e símbolos são trabalhados.
A discreta harmonia dos ritos, das vestes litúrgicas, da decoração e do espaço litúrgico, tudo isso educa para o sentido do mistério e sua repercussão para a vida concreta. Igualmente importante é a atenção a todas as formas de linguagem previstas pela liturgia: palavra e canto, gestos e silêncios, movimento do corpo, cores litúrgicas dos paramentos. Com efeito, a liturgia, por sua natureza, possui tal variedade de níveis de comunicação que lhe permite cativar o ser humano na sua totalidade.
O Diretório Nacional de Catequese no Brasil fala da necessidade de “liturgias vivas e dinâmicas”. Entende-se: vivas, porque expressam a vida de Jesus mergulhada nos acontecimentos de nossa vida, e vice-versa: dinâmicas, porque celebradas na força do Espírito, isto é, com espiritualidade.
Bibliografia
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB.
Liturgia na Ação Evangelizadora: Uma leitura litúrgica das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.