Neste salmo, Davi exprime a sua alegria e gratidão diante da assembleia: conheceu o perigo e a angústia, mas invocou com confiança o Deus de Israel e reencontrou a paz.
O protagonista deste hino é Deus, com a sua misericórdia. Com a sua presença forte e decisiva junto do pobre e do oprimido que O invoca.
Para que outros alcancem a salvação, Davi sugere algumas atitudes do coração: evitar fazer o mal e realizar sempre o bem.
Sublinha também a necessidade de não difamar o próximo. De fato, a palavra pode levar à guerra.
«Procura a paz e segue-a».
Na linguagem bíblica, a paz tem numerosos significados, como por exemplo o bem-estar físico e espiritual, ou o acordo entre indivíduos e entre povos. Mas ela é, acima de tudo, uma oferta de Deus, através da qual descobrimos o seu rosto de Pai.
Portanto, é indispensável procurar Deus na nossa vida, de forma intensa e apaixonada, para experimentarmos a verdadeira paz.
É uma busca abrangente, que exige que façamos a nossa parte, seguindo a voz da consciência que nos impele a escolher sempre o caminho do bem e nunca o caminho do mal.
Muitas vezes, bastaria que nos deixássemos encontrar por Deus, que há muito tempo anda à nossa procura, à procura de cada um de nós.
Como cristãos, pelo batismo, vivemos já numa relação íntima com Jesus: Ele é o Deus próximo que nos prometeu a paz. Ele é a paz. E recebemos também o Espírito Santo, o Consolador, que nos ajuda a partilhar com os outros aqueles frutos da paz de Deus que já experimentamos. Ele indicar-nos-á o modo de amarmos as pessoas à nossa volta. Poderemos, assim, resolver conflitos, evitando acusações infundadas, juízos superficiais e maledicências, e abrir o nosso coração para compreender os outros.
Talvez não consigamos deter todas as armas que ensanguentam muitos locais da Terra, mas podemos agir, pessoalmente, para reavivar relacionamentos feridos na família, na nossa comunidade cristã, no local de trabalho, no tecido social da nossa cidade.
Com o esforço de uma pequena ou grande comunidade, decidida a testemunhar a força do amor, podem-se reconstruir pontes entre grupos sociais, entre Igrejas, entre partidos políticos.
«Procura a paz e segue-a».
A procura convicta da paz, sugerir-nos-á também comportamentos adequados para protegermos a Natureza, dádiva de Deus para os seus filhos, que está confiada à nossa responsabilidade para as novas gerações.
Assim escreveu Chiara Lubich, em 1999, a Nikkio Niwano, fundador do movimento budista japonês Rissho Kosei Kai: «[…] Se o homem não estiver em paz com Deus, a própria Terra também não estará em paz. As pessoas religiosas dão-se conta do “sofrimento” da Terra, enquanto houver quem não a use segundo o plano de Deus, mas só por egoísmo, por uma ambição insaciável de posse. É este egoísmo e esta ambição que contaminam o ambiente, mais e antes de qualquer outro veneno, que mais não é do que uma sua consequência. […] Quando se descobre que toda a Criação é dádiva de um Pai que nos ama, é muito mais fácil encontrar um relacionamento harmonioso com a Natureza. E se se descobre que este dom é para todos os membros da família humana, e não só para alguns, prestar-se-á mais atenção e respeito a tudo o que pertence à humanidade presente e futura».
Letizia Magri