A grande mártir Anastácia nasceu em Roma e foi martirizada durante o período de perseguições contra os cristãos perpetrado por Diocleciano entre os séculos III e IV d.C. Seu pai era pagão e sua mãe convertera-se secretamente ao cristianismo.
O mentor de Santa Anastácia durante sua juventude era um cristão piedoso e erudito chamado Crisógono (celebrado em 22 de dezembro). Após a morte de sua mãe, seu pai lhe oferecera em casamento, contra sua vontade, a um pagão de nome Públio. Por recusar-se a consumar seu casamento com um pagão, e visando preservar sua virgindade, Anastácia sofreu muito nas mãos do marido.
Sendo criada como cristã desde pequena, ela encontrava consolo ao visitar as prisões romanas, para alimentar e cuidar daqueles que sofriam por sua fé em Cristo. Nessas visitas, Santa Anastácia se disfarçava de mendiga, e ia acompanhada apenas por um criado. Através de subornos, os guardas lhe permitiam acesso livre aos prisioneiros.
Quando seu criado contou a Públio o que ela fazia, ele espancou a esposa e a trancou em casa. Santa Anastácia então só mantinha contato com seu mentor, Crisógono, através de cartas. Escrevendo sobre seu sofrimento, ele lhe aconselhou a ser paciente e aceitar a vontade de Deus, além de avisá-la que Públio morreria no mar, o que não tardou a acontecer – algum tempo depois, seu marido morreu afogado em um acidente com um navio que estava a caminho da Pérsia. Após a morte do marido, ela passou a distribuir seus bens para os pobres e necessitados.
Nesse tempo, a perseguição de Diocleciano tornou-se mais acirrada e sangrenta. Crisógono, que não aceitou renunciar sua fé mesmo diante das ameaças do imperador, que o interrogou pessoalmente, foi decapitado e teve o corpo jogado ao mar. O corpo e a cabeça do santo mártir foram trazidos à praia pela maré, e pela Divina Providência, seu corpo fora encontrado por um presbítero e secretamente enterrado.
Após a morte de seu mentor, a santa ia de cidade em cidade para cuidar de prisioneiros cristãos. Conhecedora das ervas medicinais da época, ela cuidava dos ferimentos e aliviava o sofrimento dos cativos. Por causa de seu talento médico, Santa Anastácia recebe em grego o título de Pharmakolytria (“aquela que cura os venenos”), e por sua intercessão muitas pessoas foram curadas dos efeitos nocivos de poções, venenos e outras substâncias malignas.
Em suas visitas ela conheceu uma jovem viúva romana chamada Teodota, que se tornou sua auxiliar. Quando as autoridades descobriram que Teodota era cristã, a levaram para a prisão.
Nessa época, Santa Anastácia estava na Ilíria (que corresponde atualmente à Albânia e partes da Bósnia). Ao chegar na prisão e encontrar as celas vazias, Santa Anastácia descobriu que eles haviam sido executados naquela mesma noite. Tomada pela tristeza, ela começou a chorar. Os guardas perceberam então que ela era cristã, e levaram-na para o governador[1] que, após interrogá-la, tentou, por meio de ameaças de tortura, persuadir Santa Anastácia a abrir mão de sua fé e oferecer sacrifício aos ídolos. Sem obter sucesso, ele a enviou de volta a Roma, onde seria questionada por um sacerdote pagão chamado Ulpiano.
O astuto pagão ofereceu duas opções a Santa Anastácia: uma vida de luxo e riquezas ou temíveis sofrimentos. Ele lhe apresentou ouro, pedras preciosas e roupas finas, e também seus instrumentos de tortura. Sem pensar duas vezes, Santa Anastácia recusou-se a abrir mão de Jesus Cristo e escolheu o martírio.
Abismado pela escolha da prisioneira, ele lhe ofereceu três dias para reconsiderar, não por pena, mas porque, arrebatado pela beleza da santa, planejava violentá-la após esse período, caso ela não cedesse. Passado os três dias, Ulpiano tentou saciar sua luxúria à força, mas assim que a tocou, ficou imediatamente cego, e sua cabeça doía tanto que ele gritava como se estivesse enlouquecido. Dizendo que fora amaldiçoado, ele exigiu ser levado a um templo pagão para fazer um sacrifício a seus ídolos, mas morreu no caminho.
Após o episódio, Santa Anastácia foi libertada, e novamente junto com sua assistente, voltou a cuidar de cristãos cativos. Porém, pouco tempo depois, Teodota e seus três filhos foram presos novamente. Seu filho mais velho, Evódio, desafiou corajosamente o magistrado, e foi espancado até a morte. Sua mãe e seus irmãos, após longa tortura, foram queimados vivos – também no dia 22 de dezembro, celebramos os santos mártires Teodota e filhos.
Santa Anastácia foi capturada novamente e condenada à morte por inanição. Ela ficou na prisão por sessenta dias sem alimento. Santa Teodota e os filhos apareciam para ela todas as noites para lhe encorajar e dar forças.
Vendo que Santa Anastácia não sofrera no cárcere, o magistrado ordenou que ela fosse afogada com outros prisioneiros, entre eles um presbítero [2] chamado Eutiquiano.
Os prisioneiros foram postos em um barco que foi lançado em mar aberto. Os soldados perfuraram o casco e partiram em outra embarcação. Então um anjo apareceu para os prisioneiros na proa do barco e os guiou até uma praia. Ao atingir terra firme devido ao milagre, os criminosos aceitaram Jesus Cristo e foram batizados por Santa Anastácia e Santo Eutiquiano. Posteriormente, todos foram recapturados e receberam a coroa do martírio.
Santa Anastácia foi presa a um poste e queimada viva. Seu corpo, que não havia se carbonizado, foi recolhido por uma cristã chamada Apolinária, que a enterrou no jardim de sua casa.
No século V as relíquias de Santa Anastácia foram transladadas para Constantinopla, em uma igreja construída e dedicada à santa. Posteriormente alguns de seus ossos foram transladados para o mosteiro de Santa Anastácia, próximo ao Monte Atos, na Grécia, onde estão até hoje.
NOTAS:
[1] Muito provavelmente Santa Anastácia era uma patrícia, e não plebéia. Do contrário, ela teria sido presa, e não levada para falar com o governador distrital – esse era um privilégio apenas dos patrícios.
[2] Padre.
Fonte: www.oca.org