5º Domingo da Quaresma
1ª Leitura: Jr 31,31-34
2ª Leitura: Hb 5, 7-9
Evangelho: Jo 12,20-33
PASSOS PARA VER JESUS
A 1ª leitura deste domingo contém uma das promessas mais carinhosas do Antigo Testamento: a promessa de uma “nova aliança”. A antiga tinha sido rompida demasiadas vezes. Ficou gasta. Deus vai recorrer ao último recurso: uma nova aliança, diferente da anterior. A Lei não estará mais escrita em tábuas de pedra ou em rolos de papel, como os dos escribas. Estará inscrita no coração de cada um. Ninguém precisará ainda de mestre! Todos conhecerão Deus, e Deus os acolherá, esquecendo seus pecados.
A 2ª leitura, da Epístola aos Hebreus, fala no mesmo sentido. Anteriormente, a carta expôs que Jesus substitui as grandes instituições de Israel: ele é o sumo sacerdote no lugar de Aarão, o mediador no lugar de Moisés. Para tanto, ele participa em tudo de nossa condição humana, exceto o pecado. Participa da agonia. Grita a Deus entre lágrimas, e é ouvido pelo Pai. Este o tira, não da morte, mas da angústia. Jesus sabe que Deus está com ele, ele o “aprendeu” (Hb 5,8). Assim, no evangelho, na hora da angústia (12,27: “Pai, salva-me desta hora”), Jesus reconhece a vontade de Deus não como algo terrível, mas como glória, ou seja, como o íntimo de Deus, revelando-se no amor de seu Filho para todos: “Pai, glorifica teu nome” (12,28). Também nossa vocação na “nova Aliança” é: conhecer Deus de perto, do modo como Jesus o aprendeu.
O evangelho: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus” (Jo 12,21b). Este foi o pedido que um grupo de gregos dirigiu ao Apóstolo Filipe em Jerusalém. Este é anseio de muitas pessoas de fé: ver Jesus, percebê-lo em seu dia a dia, caminhar em sua companhia. Filipe combina com André, seu companheiro no Apostolado, e os dois levam a questão a Jesus. Em sua resposta, Jesus oferece valiosas instruções para aqueles que, de verdade, desejam estar com Ele. São elas:
1) Disposição para morrer – Jesus se utiliza da metáfora do grão de trigo para ilustrar a fecundidade de uma morte que gera vida: “Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24). O martírio e a entrega de Jesus vieram coroar a disposição que ele manifestou durante toda a sua vida. Com sua prática, o Mestre revela o quão libertador é ao ser humano quando ele consegue morrer para o egoísmo, a ganância, o ódio e a indiferença para produzir, com seu próprio testemunho, preciosos frutos de partilha e solidariedade.
2) Desapego – A capacidade de perceber que as pessoas são sempre mais importantes do que as coisas, certamente preservaria a humanidade de muitos sofrimentos. Desapegar-se da própria vida não significa adotar, em relação a si próprio, uma postura de desleixo e falta de cuidado com a saúde, mas cultivar em si a empatia, ou seja, a capacidade de perceber e se comprometer com as necessidades e os sentimentos do outro como se fossem seus. “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (Jo 12,25).
3) Espírito de serviço – Jesus joga com o significado dos verbos “seguir” e “servir”, revelando o quanto estas ações caminham juntas quando o assunto é o discipulado. O seguidor de Cristo deve necessariamente ser também um servidor da humanidade. São termos inseparáveis que qualificam e distinguem a fidelidade e a dedicação do discípulo. Não existe, portanto, seguimento sem serviço, especialmente aos mais pobres e desprotegidos da humanidade.
4) Coerência entre ensinar e viver – Chama a atenção a profunda e total coerência de Jesus entre aquilo que Ele ensinou e viveu. Olhando para o Mestre, percebe-se o grau de exigência deste desafio.
5) Perseverança na angústia – Jesus sentiu-se angustiado diante dos sofrimentos que teria pela frente (Cf. 12,27). No entanto, consegue enxergar o significado de sua entrega e assim torna-se capaz de seguir adiante em sua destemida missão. Para adquirir esta força, Cristo lançou mão de um profundo espírito de oração e diálogo interior, no profundo de sua consciência, para ouvir a voz do Pai.
Aproximando-se o final do Tempo da Quaresma, mais uma vez Jesus espera de seus seguidores uma disposição renovada para acompanha-lo até as últimas consequências em seu projeto de construção do Reino de Deus, pois ”Se o grão de trigo não morrer na terra, fica só, mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24).
Pe Osmar Debatin