Pe. Carlos Ronaldo Evangelista da Silva
O evangelista Lucas quer mostrar em Maria um perfeito modelo de vida cristã e dizer às primeiras comunidades que, em Maria, se antecipa a vocação da Igreja e de cada cristão em relação à revelação divina dada em Jesus Cristo: “E entre eles estava Maria” (At 1,14). Presente na origem da Igreja, junto com os apóstolos, Maria tem lugar único na nossa fé. Ela é modelo de vida cristã. Como discípula de seu próprio Filho, ela é para nós um exemplo simples para seguir: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5).
Maria é sempre apresentada como uma presença discreta, preocupada somente com a compreensão e a realização da vontade do Pai, a partir dos acontecimentos na vida de Jesus: “Maria, contudo, conservava cuidadosamente todos esses acontecimentos em seu coração”. (Lc 2, 19). Mas o que faz de Maria um modelo a ser seguido, é o fato que “ela viveu completamente toda a peregrinação da fé como mãe de Cristo e depois dos discípulos, sem estar livre da incompreensão e da busca constante do projeto do Pai” (DAp, n.266). Ela é “a discípula mais perfeita do Senhor” (LG, n.53), “a máxima realização da existência cristã” (DAp, n.266). Então, podemos aprender dela a docilidade ao Espírito Santo, para que em nós seja feita a vontade de Deus. Como ela, queremos crescer e amadurecer na fé, para sermos, como o Filho pediu: sal da terra e luz do mundo. Como ela, queremos viver a misericórdia, o serviço e anunciar a Palavra com alegria. Dela aprendemos a cantar as maravilhas que Deus realiza no seu povo, sobretudo nos mais humildes. “Permaneçamos na escola de Maria” (Bento XVI), pois é a primeira discípula de Jesus, e testemunho vivo do ouvinte da Palavra.
O Concílio Vaticano II, situando-se na linha da Tradição, projetou uma nova luz sobre o papel da Mãe de Jesus na vida da Igreja. “A bem-aventurada Virgem Maria, pelo dom da maternidade divina, que a une com o seu Filho Redentor, e ainda pelas suas graças e funções singulares, encontra- -se também intimamente unida à Igreja: a Mãe de Deus é a figura da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo”. Como Virgem, acreditou que conceberia e daria à luz um filho: o Santo, ao qual corresponde o nome de Jesus (= Deus que salva). Como serva do Senhor, permaneceu perfeitamente fiel à pessoa e à missão deste seu Filho. Como Mãe, pela sua fé e obediência, gerou na terra o próprio Filho de Deus por obra e graça do Espírito Santo. Para isto cooperou – como ensina o Concílio Vaticano II – com amor de mãe. Descobre-se aqui o valor real das palavras de Jesus, na hora da Cruz, à sua Mãe: “Mulher, eis o teu filho”, e ao discípulo: “Eis a tua mãe” (Jo 19, 26-27). São palavras que determinam o lugar de Maria na vida dos discípulos de Cristo e exprimem a sua nova maternidade como Mãe do Redentor: a maternidade espiritual, que nasceu do mais íntimo do mistério pascal do Redentor do mundo.
O Papa Francisco, na Exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, propõe cinco atitudes para os evangelizadores (EG 24):
Ir na frente: a comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (1Jo 4,10).
Envolver-se: com obras e gestos, os evangelizadores abaixam-se e assumem a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo.
Acompanhar: a comunidade acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam.
Frutificar: a comunidade mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda.
Festejar: os evangelizadores, cheios de alegria, sabem festejar. Celebram os passos dados, cada vitória.
Essas atitudes estão antecipadas em Maria. Ao olhar para ela, vemos que é o modelo dos discípulos missionários. Maria sai na frente, indo depressa ao encontro de Isabel (Lc 1,39). Em Caná, toma a iniciativa, quando percebe que falta o principal da festa (Jo 2,1-12). Maria se envolve inteiramente na missão de educar Jesus. Quando este se torna adulto e parte em missão, ela acompanha discretamente seu filho. Porque Maria tem fé, escuta a Palavra, medita no coração e a frutifica. “Bendito é o fruto de teu ventre”, diz Isabel! (Lc 1,42). Por fim, ela sabe festejar. Seu cântico de louvor começa com uma explosão de alegria: “Minha alma engrandece o Senhor. E se alegra meu espírito em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46).
IMAGEM de Nossa Senhora, das mais antigas, datada do século VI (Constantinopla)