Jesus está a caminho para Jerusalém, acompanhado pelos seus discípulos. Já começou a prepará-los para o desenlace decisivo: a rejeição por parte das autoridades religiosas, a condenação à morte por parte dos romanos e a crucifixão, que será seguida pela ressurreição.
Para Pedro e os outros que seguiram Jesus, é um assunto difícil de entender, mas o Evangelho de Marcos nos acompanha nessa progressiva descoberta da missão de Jesus: realizar a salvação definitiva da humanidade por meio da fragilidade do sofrimento.
Durante o percurso, Jesus encontra muitas pessoas e se identifica com cada uma nas suas necessidades. Nesta passagem, vemos como ele acolhe o grito de ajuda de um pai. Este lhe pede a cura para o próprio filho que se encontra em grave dificuldade, provavelmente epiléptico.
Para que o milagre se realize, Jesus, por sua vez, pede uma coisa a esse pai: que tenha fé.
O pai do menino exclamou: “Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé.” [1]
A resposta do pai, pronunciada em alta voz diante da multidão que se juntou ao redor de Jesus, é aparentemente contraditória. Esse homem, como muitas vezes também nós, experimenta a fragilidade da fé, a incapacidade de depositar confiança plena no amor de Deus, no projeto de felicidade que Ele tem para cada um de seus filhos.
Por outro lado, Deus dá confiança ao homem e não realiza nada sem a sua contribuição, sem o seu livre consentimento. Ele pede a nossa parte, ainda que pequena: reconhecer a Sua voz na consciência, confiar Nele e começarmos, também nós, a amar.
O pai do menino exclamou: “Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé.”
Grande parte da cultura na qual estamos imersos exalta a agressividade em todas as suas formas como a arma por excelência para alcançar o sucesso.
Já o Evangelho nos apresenta um paradoxo: reconhecermos a nossa fraqueza, os limites, as fragilidades como ponto de partida para entrarmos em relação com Deus e participarmos com Ele da maior das conquistas: a fraternidade universal.
Jesus nos ensinou com toda a sua vida a lógica do serviço, a opção pelo último lugar. É a posição mais excelente para transformar a aparente derrota em uma vitória, não egoísta e passageira, mas compartilhada e durável.
O pai do menino exclamou: “Eu creio, mas ajuda-me na minha falta de fé.”
A fé é um dom que podemos e devemos pedir com perseverança, para colaborarmos com Deus na abertura de caminhos de esperança para muitos.
Chiara Lubich escreveu:
Acreditar significa sentir-se olhado e amado por Deus. É saber que Deus observa cada oração nossa, cada palavra, cada gesto, cada acontecimento triste, alegre ou indiferente, cada doença, tudo, tudo, tudo. (…) E se Deus é Amor, a consequência lógica só pode ser a confiança completa Nele. Então podemos ter aquela relação de confidência que nos leva a falar muitas vezes com Ele, a expor-lhe as nossas coisas, os nossos propósitos, os nossos projetos. Cada um de nós pode abandonar-se ao seu amor, na certeza de ser compreendido, confortado, ajudado. (…) Podemos pedir-lhe: “Senhor, faze-me permanecer no teu amor. Dá-me de nunca viver um momento sequer sem sentir, sem perceber, sem saber por fé, ou mesmo por experiência, que Tu me amas, que Tu nos amas”. E depois, podemos amar. E de tanto amar, a nossa fé se tornará cristalina, inabalável. Não só acreditaremos no amor de Deus, como também sentiremos de maneira palpável sua presença no nosso ser, e veremos acontecer “milagres” ao nosso redor. [2]
Letizia Magri
[1] Para este mês, a Palavra de Deus que estamos propondo é a mesma que um grupo de cristãos de diversas Igrejas da Alemanha escolheu para viver durante o ano inteiro.
[2] LUBICH, Chiara, Palavra de Vida de outubro de 2004.