O espaço litúrgico deve ser funcional, favorecer o encontro entre as pessoas e o encontro com Deus, e ser sinal do mistério que ali se celebra. A beleza, a dignidade e simplicidade do espaço devem estar em sintonia com a beleza do Mistério pascal de Cristo. Se há um lugar profundamente modelador de todo um imaginário, identidade, interioridade e postura cristãs de uma comunidade, é o espaço que ela frequenta. Dependendo do espaço litúrgico, assim vai ser em grande parte a fé e a espiritualidade da comunidade: mais ou menos comprometida com o projeto de Deus, mais ou menos alienada dele; mais ou menos unida neste projeto, mais ou menos dividida por interesses egoístas.
O mesmo vale para o canto e a música, criteriosamente escolhidos, correspondendo ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Como parte integrante e significativa da ação ritual, ela tem a especial capacidade de atingir os corações e, como rito, grande eficácia pedagógica para levá-los a penetrar no mistério celebrado. Para isso, ela precisa estar intimamente vinculada ao rito, ou seja, ao momento celebrativo e ao tempo litúrgico.
No universo litúrgico os sinais, símbolos e ritos proporcionam a união entre as pessoas que celebram, e delas com Deus. As celebrações que realizamos procuram ligar a fé com a vida. O mistério de Cristo anunciado é o mesmo celebrado na liturgia para ser vivido. Usamos componentes da vida humana para expressar o mistério. A música litúrgica favorece a compreensão do sentido, dos gestos, dos símbolos e dos ritos, e educa para a participação ativa, à contemplação e ao silêncio.
A liturgia é muito rica no uso de símbolos, gestos, ritos. Mas são sempre usados com simplicidade e sobriedade para não desviar da centralidade do mistério de Cristo. Hoje, a cultura midiática incentiva o uso de muito palavrório, muitos penduricalhos e muitas coisas que põem no centro o ser humano e escondem a beleza simples de Deus.
SINAL: leva a mensagem de uma pessoa para outra. Ex.: sinais de trânsito. O sinal é um veículo que leva a realidade temporal à realidade sobrenatural. Ex.: sinal da cruz. Dentro da liturgia o sinal tem a função de indicar a presença do sagrado, comunicar a mensagem, estabelecer uma íntima comunhão entre o divino e o humano, provocando deste último uma resposta. Os sinais sensíveis conferem significado à liturgia, e realizam a santificação do ser humano. O sinal claro ajuda a expressar a fé, composto por palavras e gestos.
SÍMBOLO: é uma coisa que lembra a outra. É uma forma de se fazer compreender melhor e sentir mais de perto uma coisa que não podemos ver ou entender bem. Recorde-se, por exemplo, da maneira de traduzir um grande amor: não se faz com palavras, mas com algum símbolo, tais como: cartões, flores, doces e outros. Num símbolo o que vale não é a coisa em si, mas o que ela representa: todo símbolo revela uma realidade maior. Exemplos de símbolos utilizados na liturgia: pão (união, alimento, vida, comunhão, mistério eucarístico, entre outros); vinho (alegria, felicidade, generosidade de Deus, união); água (vida, morte do mal, purificação)
O símbolo pode ter várias interpretações e deve ser expressivo. Ter consenso mínimo entre os participantes, ser constante, contínuo e repetitivo. Ele fala por si, excluindo explicações excessivas, facilita a expressão de ideias e sentimentos, envolvendo a pessoa como um todo (corpo, sentidos, alma, coração).
RITO: é um uso repetido de gestos. A nossa vida é um verdadeiro rito. Cotidianamente, costumamos fazer as coisas da mesma maneira: tomamos banho, nos alimentamos, vamos à Igreja e procuramos nos acomodar no mesmo lugar. Na liturgia também, realizamos gestos nas diversas celebrações. O que faz com que eles sejam rito é a repetição. O jeito de fazer não precisa ser explicado. Mas, é fundamental fazer tudo como se fosse a primeira vez. Também é imprescindível acreditar no que se está fazendo: há uma grande diferença em acender uma vela porque está escuro e acender a vela do altar. O rito deve nos conduzir ao sagrado, ao Mistério.
O rito litúrgico possui uma estrutura previamente formada pela Igreja e tem por objetivo unir o grupo celebrante, favorecer a participação de todos, promovendo a comunicação com Deus e a sacralização da vida. Possui uma dimensão amorosa, simbólica e orante. Integra o sentido teológico-litúrgico com a atitude interior e a ação corporal.
O contexto cultural, a fundamentação bíblica, a tradição litúrgica e a introdução no mundo divino são razões importantes que bem trabalhadas facilitam a nossa participação neste universo simbólico. Ao contrário, a falta de uma catequese apropriada, o mau uso da linguagem simbólica e a recusa da pessoa em comunicar-se com Deus impedem uma vivência sadia e proveitosa da liturgia.
A chave de compreensão dos sinais, símbolos e ritos utilizados na liturgia é a experiência autêntica e concreta de quem pertence à Igreja e vive a fé cristã. “… também enquanto a Igreja reza, ou canta ou age, é que se alimenta a fé dos participantes” (SC 33). Não se pode mudar os ritos litúrgicos por própria conta, isso revela autoritarismo e desrespeito ao povo.
Na liturgia, assembleia do povo de Deus, nos defrontamos com o Eterno, ouvimos a voz do Pai, fazemos memória do Filho, banha- dos no silêncio do Espírito, somos transformados por este encontro e somos enviados à sociedade, para fazer ecoar aquilo que ouvimos, vimos, presenciamos e no qual fomos mergulhados. Liturgia: imprescindível acontecimento transformador para podermos sair em missão.
A Liturgia a serviço da vida plena para todos
A liturgia é o centro de toda a evangelização, onde a Palavra é anunciada e a Eucaristia é celebrada e assumida como força transformadora da vida. Diz o Papa Francisco: ” a Igreja evangeliza e se evangeliza com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte de um renovado impulso para se dar” (EG, n. 24).
Na liturgia dominical, a assembleia celebra aquilo que faz parte da sua vida, isto é, celebra aquilo que viveu durante a semana e parte da celebração renovada e fortalecida para viver bem e melhor a semana seguinte. Desta forma, a liturgia se torna o ponto culminante e, ao mesmo tempo, o ponto de partida da vida e da ação da assembleia celebrante, isto é, da Igreja.
É através da liturgia que a Igreja se faz povo, isto é, se faz comunidade de fiéis, que querem viver unidos no amor de Deus e testemunhá-lo no mundo. A liturgia deve levar sempre à ação, impulsionar ao serviço da vida (cf. Jo 10,10), porque é missão dos discípulos o serviço à vida para todos (DAp, n. 358-359). Através da liturgia, Deus convoca o seu povo, fala com ele e sela sua aliança. E, por meio da liturgia, o povo responde afirmativamente à convocação de Deus. Ela é a ação mais eficaz da Igreja (cf. SC, n.7).
Bibliografia
Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB.
Liturgia na Ação Evangelizadora: Uma leitura litúrgica das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.