Dom Rafael Biernaski
Bispo de Blumenau(SC)
A Quarta-feira de Cinzas dá início a uma caminhada, um verdadeiro processo de morte e ressurreição que culminará na vitória da vida (Páscoa). “Converti-vos e crede no Evangelho”! Quaresma é tempo propício à conversão: “Dai-nos, no tempo aceitável, um coração penitente, que se converta e acolha o vosso amor paciente” (Hino quaresmal). Para isso, torna- -se indispensável a escuta da Palavra, o cultivo da oração pessoal, o amor a Deus e a solidariedade fraterna. Encontramo-nos diante dos três eixos que formam a espiritualidade quaresmal, assumido como caminho de conversão a Deus e aos irmãos: oração, jejum e esmola. Partimos da experiência de que Deus nos concede este Tempo Santo como dádiva de Seu imenso amor por nós.
Assim, através da oração, a Igreja procura a face de Deus, entra em comunhão com Ele. A oração torna presente o Cristo diante do Pai, seja no deserto ou no monte, ensinando aos seus discípulos que pedem: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11,1)!
O jejum atinge o homem no seu relacionamento consigo mesmo e com a natureza criada. Jejuar significa abster-se de um pouco de comida. Esta ação vale pelo seu sentido, não pela quantidade. A esmola é um bem material que se doa gratuitamente, sem exigir qualquer coisa em troca. É dar de graça, mas acompanhado do sentimento de compaixão. Em suma, devem ser experiências vividas numa atitude de escuta do Senhor que nos convida: “Lavai- -vos, limpai-vos, tirai da minha vista as injustiças que praticais, parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto” (Is 1,16-17). E a cada ano, para bem vivermos a Quaresma, a Igreja do Brasil nos propõe a Campanha da Fraternidade para despertar uma cultura de fraternidade, denunciando ameaças e violações da dignidade humana, conduzindo à solidariedade e à comunhão, mas também como oportunidade de experimentar a vida nova que gera a conversão pessoal, comunitária e social.
Em 2018, temos como Tema “Fraternidade e superação da violência” e o Lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8). O objetivo é “construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”. O tema deste ano permite refletir sobre as inúmeras formas de violência, desde aquela presente nas relações sociais cotidianas até os extremos das ações geradoras de morte e destruição da cidadania. E também nos animará no compromisso de seguir o exemplo do Senhor que veio para “que todos tenham vida em abundância” (Jo 10,10).