No dia 26 de julho de 2025, às 10h, os idosos e idosas da Casa Santa Ana, no bairro Garcia, Blumenau, com seus familiares, funcionários da Casa, Amigos da Casa Santa Ana e a dedicada comunidade das Irmãs Elisabetinas, responsáveis pela instituição, participaram de santa missa em louvor à padroeira. Presidida pelo bispo diocesano de Blumenau, a celebração aludia à data consagrada a Santa Ana, esposa de São Joaquim, pais da Virgem Maria e, portanto, conforme a tradição, avós de Jesus. Por isso, a Igreja os invoca como os padroeiros e protetores da terceira idade.
De acordo com a significativa alegoria das ovelhas, referente aos discípulos e discípulas de Jesus, constante nos evangelhos, aquele espaço sagrado da capela da Casa Santa Ana, representava realmente um aprisco de ovelhinhas junto do seu pastor, Dom Rafael. Cada um dos velhinhos e velhinhas, segundo sua medida, ali, manifestava a sua efetiva participação ao especialíssimo ato religioso. “Améns”, “Aleluias”, melodias em diferentes tonalidades, oração da consagração junto com o celebrante-presidente, essas coisas, a ninguém dos presentes incomodava e, muito menos ao paciente, concentrado e dono-de-si, Dom Rafael. Ao contrário, tornava o ambiente revestido da caridade, já luminosa no atendimento profissional e amoroso, dispensado no dia a dia do ancionato.
A homilia, como sempre, generosa e profunda, no perfil pastoral do bispo de Blumenau, destacou a constante oração que distinguiu o santo casal Joaquim e Ana. Já idosos e inférteis, sentiram-se desafiados na sua fé e esperança no Deus de Abraão, Isaac e Jacó. E instigados pela mentalidade judaica daquele tempo que pregava não ser abençoado um casal sem filho, põem-se em fervorosa oração de súplica para que o Senhor lhe desse descendência. Reza a tradição que Joaquim retirou-se ao deserto, em jejuns, penitências e preces, como também a sua esposa, em casa, orava devotamente com esse legítimo, sofrido, desejo de Javé. O “Deus dos pobres”, os ouviu: deles nasceu Maria, a mãe de Jesus.
Aliás, a liturgia daquele final de semana, providencialmente, tratava da resposta à solicitação dos apóstolos de que o Mestre lhes ensinasse a orar. Nesse sentido, o texto lucano relata a parábola do amigo que, no inconveniente horário da meia noite, vai pedir três pães ao vizinho para atender a outro amigo apenas chegado de viagem à sua casa. O vizinho, qualificado também de amigo, incialmente se nega a atender sob a justa alegação de que já está deitado com a família. O suplicante, todavia, não se conforma: insiste, pois não podia, de forma alguma, deixar o visitante ir dormir com fome. A impertinência do hospitaleiro homem faz com que o vizinho se levante e lhe entregue os pães. O mesmo texto acrescenta que não lhe deu somente o que pediu, mas também “tudo o que precisasse”. O Mestre sugere que o mesmo devemos fazer nós diante do nosso todo misericordioso Amigo, o Pai do céu. Importuná-lo, até, não lhe desagrada, antes, move a sua bondade incondicional e infinita. Possuidor da abundância de todos os bens, o que poderia ele negar a um dos seus queridos filhos?
Não menos sugestiva, no contexto dessa celebração eucarística, tornava-se a data comemorativa dos avós, transcorrendo justamente neste mesmo final de semana. Instituída pelo saudoso Papa Francisco em 2021, este ano tem por tema “Bem-aventurado aquele que não perdeu a sua esperança”. Extraído do Livro do Eclesiastes, também chamado de Sirac (Eclo 14,2), este lema afina-se plenamente com o Ano Santo do Jubileu do 2025º aniversário da Encarnação que celebramos este ano, igualmente cognominado de “jubileu da Esperança” por causa do seu próprio lema: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Estatísticas oficiais apontam que, no Brasil, a terceira idade já é parcela mais que significativa da população, mérito de cuidados medicinais e preventivos, aliados à diminuição da queda da taxa nacional de natalidade. Cidadãos centenários, entre nós, por sua vez, atingem a generosa cifra de 38 mil. Essa realidade acentua a responsabilidade de lideranças e famílias cercarem os idosos e idosas de acolhida, afeto, atenção às suas limitações e necessidades. Nos Inspirem e nos ajudem os santos padroeiros e protetores Ana e Joaquim, numa sociedade que se apregoa-se ser inclusiva, respeitosa dos direitos de todos os seus cidadãos, humanizada e humanizadora, especialmente dos mais fragilizados .
Texto: Pe. Raul Kestgring – Blumenau, 28 de julho de 2025
Imagens: Irmãs Elisabetinas da Casa Santa Ana, Blumenau