17 de setembro de 2009 -5a. feira da 23ª semana do Tempo Comum
Evangelho segundo Lucas 7,36-50
Um fariseu convidou Jesus para jantar. Ele entrou na casa do fariseu e sentou-se à mesa. Uma mulher, pecadora da cidade, soube que Jesus estava à mesa na casa do fariseu e trouxe um frasco de alabastro, cheio de perfume. Ela postou-se atrás, aos pés de Jesus e, chorando, lavou-os com suas lágrimas. Em seguida, enxugou-os com seus cabelos, beijou-os e os ungiu com perfume.
Ao ver isso, o fariseu que o tinha convidado comentou: “Se este homem fosse profeta, saberia quem é a mulher que está tocando nele: é uma pecadora. Então Jesus falou: “Simão, tenho uma coisa para te dizer”. Ele respondeu: “Fala, Mestre”. “Certo credor”, retomou Jesus, “tinha dois devedores. Um lhe devia quinhentas moedas de prata, e o outro cinqüenta. Como não tivessem com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles o amará mais?” Simão respondeu: “Aquele ao qual perdoou mais”. Jesus lhe disse: “Julgaste corretamente”. Voltando-se para a mulher, disse a Simão: “Estás vendo esta mulher? Quando entrei na tua casa, não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, lavou meus pés com lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me beijaste; ela, porém, desde que cheguei, não parou de beijar meus pés. Não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. Por isso te digo: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados, pois ela mostrou muito amor. Aquele, porém, a quem menos se perdoa, ama menos”. Em seguida, disse à mulher: “Teus pecados estão perdoados”. Os convidados começaram a comentar entre si: “quem é este que até perdoa pecados?” Jesus, por sua vez, disse à mulher: “Tua fé te salvou. Vai em paz!”
Comentário deste evangelho:
“Porque muito amou”
“Beija-me com os beijos da sua boca!”(Ct 1,2). Quem é que fala assim? A Esposa (do Cântico dos Cânticos). E quem é esta Esposa? A alma sedenta de Deus. E a quem fala? Ao seu Deus… Para exprimir a ternura recíproca de Deus e da alma, como poderemos encontrar nomes mais ternos, senão aqueles de Esposo e de esposa? A eles tudo é comum, eles não possuem nada em nome pessoal nem em separado lugar. Única é a sua herança, única a sua mesa, unica enfim a carne que juntos constituem (Gn 2,25)…
Portanto, se a palavra amor se aplica de modo particular e em primeiro lugar aos esposos, não sem motivo se dá o nome de esposa à alma que ama Deus. O seu amor é evidente, dado que pede a Deus um beijo. Não deseja nem a liberdade, nem uma recompensa, nem uma herança, e nem mesmo um ensinamento; somente um beijo, como uma casta esposa, transportada a um amor sagrado e incapaz de esconder a chama que a consuma..
Sim, o seu amor é casto, pois ela deseja somente o seu amado, e não qualquer coisa de sua propriedade. O seu amor é sagrado, pois ela ama não através de grosseiro desejo da carne, mas na pureza do espírito. O seu amor é ardente, pois, inebriada deste mesmo amor, ela esquece a grandeza dAquele que ama. Não é por acaso ele quem faz tremer a terra com um simples olhar (Sl 103,32)? E é a ele que ela pede um beijo! Será que não está ébria? Sim, está ébria do amor pelo seu Deus… Que força tem o amor! Que confiança e que liberdade no espírito! Como manifestar com maior clareza que “o amor perfeito lança fora o medo” (1Jo 4,18)?
São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e doutor da Igreja
Discurso 7 sobre o Cântico dos Cânticos
(Tradução do italiano: Pe. Raul Kestring)