Francisco entre o Presidente (e) e o Secretário (d) da Federação Luterana Mundial – AFP
01/11/2016 15:19
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Malmö (RV) – Às 12h45min deste 1º de novembro de 2016 o Papa Francisco embarcou no avião da Alitália que o levou de volta a Roma, após passar pouco mais de 24 horas em terras suecas, naquela que foi a sua 17ª Viagem apostólica internacional. A viagem, considerada histórica, é um passo que adquire grande importância na relação entre católicos e luteranos.
Ao participar do início da celebração ecumênica dos 500 anos da Reforma protestante ocorrida em 1517, o Papa quis, com seu gesto corajoso, demonstrar a sua proximidade para colaborar na superação de uma mentalidade do confronto. Recordemos que as comemorações dos centenários da Reforma sempre foram caracterizadas por polêmicas, muitas vezes com acusações recíprocas e não raro com agressões mútuas. No contexto de uma fé cristã, isto representa um escândalo. Desta vez não. Pela primeira vez, a celebração é realizada de forma ecumênica.
A presença do Papa em Lund não é um fato isolado, mas é fruto de um intenso diálogo que já se realiza entre as duas Confissões desde 1967, com o Concílio Vaticano II. Marcos importantes nesta trajetória foram a Declaração Comum sobre a Justificação, de 1999, e o Documento “Do Conflito à comunhão”, de 2013.
O lema que guiou o encontro – “Do Conflito à Comunhão. Juntos na esperança” – bem revela o espírito que guiou os eventos em Lund e Malmö: lançar uma luz em acontecimentos passados, curar a memória, trabalhar juntos no presente e lançar um olhar de esperança em direção ao futuro. A decisão do Papa demonstra justamente esta vontade de união e propõe um futuro de alegria de comunhão e união naquilo que é compartilhável.
A cerimônia na Catedral de Lund, teve um forte caráter penitencial, que bem se insere neste Ano Santo da Misericórdia. Unidos, luteranos, católicos e ortodoxos presentes, compartilhando a mesma fé em Jesus Cristo, dirigiram-se ao Pai pedindo perdão pelas divisões e reafirmando o desejo de um futuro compartilhado. Na Declaração conjunta, é reiterado o compromisso em favor de um testemunho comum e lançado um apelo aos católicos e luteranos do mundo inteiro para que , “mais do que os conflitos do passado, seja o espírito da unidade entre nós a guiar a colaboração e aprofundar a nossa solidariedade”.
O Papa afirmou, na sua homilia, que “temos a possibilidade de reparar um momento crucial de nossa história, superando controvérsias e mal-entendidos que impediram de nos compreendermos uns aos outros. Não podemos resignar-nos com a divisão e o distanciamento que a separação gerou entre nós”, disse com veemência.
A presença de Francisco na Suécia não representou a solução das questões ainda pendentes, especialmente no campo teológico, mas foi um passo importante na relação entre as duas Confissões. Foi reiterado, em diversas ocasiões, que católicos e luteranos tem mais coisas que os unem do que os separam, e nisto foi colocado o foco.
Neste sentido, realizou-se o grande evento na Arena de Malmö, que fortaleceu o compromisso com o ecumenismo da caridade e do trabalho, com a assinatura da Declaração entre a Caritas Internationalis e o Serviço Mundial da Federação Luterana. Assim, reafirma-se que diante dos desafios de uma humanidade fragmentada e marcada por conflitos, é imperativo o testemunho comum dos cristãos, também com o trabalho comum em prol dos pobres, marginalizados, necessitados.
Gratidão, penitência, superação, esperança, foram palavras-chaves que caracterizaram o histórico dia 31 de outubro de 2016. “Este é o testemunho que o mundo espera de nós, disse Francisco. E nós, cristãos, seremos testemunhas críveis da misericórdia, na medida em que o perdão, a renovação e a reconciliação forem uma experiência diária entre nós”.
De Malmö, na Suécia, Jackson Erpen
Fonte: Site da Rádio Vaticano