Meditação após a Via Sacra no Coliseu de Rom
Apresentamos, a seguir, a meditação do Papa Bento XVI, na noite da Sexta-Feira Santa, no final da Via Sacra realizada no Coliseu de Roma.
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Queridos irmãos e irmãs:
Em oração, com ânimo recolhido e comovido, percorremos nesta noite o caminho da cruz. Com Jesus, subimos ao calvário e meditamos sobre o seu sofrimento, redescobrindo quão profundo é o amor que Ele teve e tem por nós.
Mas, neste momento, não queremos nos limitar a uma compaixão ditada somente pelo nosso fraco sentimento. Queremos sentir-nos partícipes do sofrimento de Jesus, queremos acompanhar nosso Mestre, compartilhando sua Paixão em nossa vida, na vida da Igreja, para a vida do mundo; porque sabemos que, precisamente na cruz, no amor sem limites que se doa inteiro, está a fonte da graça, da libertação, da paz, da salvação.
Os textos, as meditações, as orações da Via Sacra nos ajudaram a contemplar este mistério da Paixão, para aprender a imensa lição do amor que Deus nos deu na cruz, para que nasça em nós um renovado desejo de converter nosso coração, vivendo cada dia o mesmo amor, a única força capaz de transformar o mundo.
Nesta noite, contemplamos Jesus em seu rosto repleto de dor, escarnecido, ultrajado, desfigurado pelo pecado do homem; amanhã à noite o contemplaremos em seu rosto cheio de alegria, radiante e luminoso. Desde que Jesus foi colocado no sepulcro, o túmulo e a morte já não são um lugar sem esperança, onde a história se fecha com o fracasso mais completo, onde o homem toca o limite extremo da sua impotência. A Sexta-Feira Santa é o dia da esperança maior, aquela que é amadurecida na cruz.
Enquanto Jesus morre, enquanto exala seu último suspiro, grita com alta voz: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Entregando sua existência, doada nas mãos do Pai, Ele sabe que sua morte se converte em fonte de vida. Como a semente na terra tem de romper-se para que a planta possa crescer. Se o grão de trigo que cai na terra não morre, permanece só; mas se morre, dá muito fruto.
Jesus é o grão de trigo que cai na terra, que se parte, que se rompe, morre e por isso pode dar fruto. Desde o dia em que Cristo foi levantado nela, a cruz se transformou em um novo início. Da profundidade da morte se levanta a promessa da vida eterna; sobre a cruz brilha o esplendor vitorioso da aurora do dia da Páscoa.
No silêncio que envolve esta noite, no silêncio que envolve o Sábado Santo, tocados pelo amor sem limites de Deus, vivemos na espera da aurora do terceiro dia, a aurora da vitória do amor de Deus, a aurora da luz que permite aos olhos do coração ver de forma nova a vida, as dificuldades, o sofrimento.
Nossos fracassos, nossas desilusões, nossas amarguras, que parecem marcar o desabamento de tudo, são iluminados pela esperança. O ato de amor da cruz, confirmado pelo Pai e pela luz fulgurante da ressurreição, envolve e transforma tudo. Da traição pode nascer a amizade; da negação, o perdão; do ódio, o amor.
Concedei-nos, Senhor, carregar com amor nossa cruz, nossas cruzes cotidianas, na certeza de que elas estão iluminadas com o fulgor da vossa Páscoa. Amém.
ZENIT, 02.04.2010