De Münchem, Alemanha, Bento XVI lança ao mundo um apelo a vencer a “surdez” à voz do Absoluto e o cínico “desprezo de Deus” proclamando em alta voz a novidade do amor até o fim.
O mundo tem necessidade de Deus. De um Deus que à fúria cega do ódio opõe a suave força redentora do sofrimento. De um Deus que, diante do poder destruidor do mal levanta o muro sem fronteiras e insuperável da misericórdia. De um Deus cuja “vingança” é a Cruz: o “Não” à violência. “O amor até o fim”.
De München, no coração daquele Ocidente que se diz cristão, mas que continua muitas vezes “surdo” à voz de Deus, Bento XVI sacudiu as consciências com uma mensagem forte, vibrante, inequívoca. Uma mensagem que provoca e incomoda. Que inquieta e ao mesmo tempo dá paz interior. Que compromete e, ao mesmo tempo, liberta. Porque “a fé – lembrou – pode desenvolver-se somente na liberdade”. E foi exatamente um apelo à liberdade dos homens o centro da reflexão que o Papa confiou aos que participaram da Santa Missa na manhã de domingo 10 de setembro de 2006. Um apelo a “abrir-se a Deus”, a “procura-lo”, a “dar-lhe escuta”, confessando “em alta voz e sem meios termos” a novidade do seu anúncio de salvação.
Um apelo a vencer aquela “deficiência do ouvido” nos seus relacionamentos que parece afligir dramaticamente o nosso tempo. Sem esta “percepção decisiva” – anunciou o Papa – a razão exclui o Absoluto da própria visão da vida e se corrompe no desprezo de Deus, no cinismo que arroga o direito de zombar o sagrado escondendo-se dentro da máscara da tolerância. Na verdade, explicou Bento XVI, a tolerância não pode não compreender o temor de Deus. Daquele Deus que devolveu ao maligno as armas do ódio e da violência, consumando a sua “vingança” na misteriosa sublimidade da Cruz. Testemunho solene e último do amor sem reciprocidade, sem retorno.
L’Osservatore Romano – 11-12 de setembro de 2006 – Tradução do italiano por Pe. Raul Kestring