Micael Vier B.
Os povos indígenas e afrodescendentes estão promovendo uma radical mudança civilizatória no continente latino-americano ao conceber a natureza enquanto sujeito de direito e ao promover um desenvolvimento democraticamente sustentável, pontuou o sociólogo Boaventura de Sousa Santos durante palestra ministrada ontem, 27, no 4º Seminário de Políticas Sociais.
Promovido pela Faculdades EST, entre outras entidades e organizações da sociedade civil, o evento foi realizado no marco das celebrações pelos 10 anos de história do Fórum Social Mundial (FSM) que, em 2010, ocorre de forma descentralizada nas cidades da região metropolitana de Porto Alegre.
Diante da platéia que lotou o principal anfiteatro da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Boaventura sinalizou que durante muito tempo a América Latina não conseguiu estabelecer vínculos consistentes entre a democracia e o bem-estar das classes populares.
A última década, no entanto, frisou o sociólogo português, foi auspiciosa ao continente, que deixou de ser um quintal dos Estados Unidos para consolidar sua democracia e atuar na vanguarda das lutas anti-imperialistas. Reconhecendo a dificuldade em prever o futuro, Boaventura disse que na próxima década a América Latina deverá apresentar as contradições do capitalismo, fato este que torna a realização do FSM um evento ainda mais importante.
Dividindo a mesa de debates com Boaventura, a senadora Marina Silva argumentou que, diante da situação de crise civilizatória, é preciso mobilizar esforços para uma visão antecipatória de Brasil e mundo.
Pautada por sua experiência vivencial junto aos povos amazônicos e atuação como Ministra do Meio Ambiente no governo Lula entre 2003 e 2008, Marina Silva disse que a construção de um outro mundo possível requer o “exercício da alteridade”. “Precisamos aprender a conviver com o diferente e a interpretar o lugar que o outro ocupa”, frisou.
Ao sinalizar para o fato de que em 500 anos a população indígena brasileira foi reduzida de 5 milhões para 700 mil, Marina Silva indicou que os povos originários representam uma ameaça à manutenção do regime vigente por apresentarem visões de mundo distintas e interpretarem, ao seu modo, a realidade circundante.
Focado no debate sobre O papel público das políticas públicas na garantia dos direitos sociais, o 4º Seminário ofereceu continuidade ao debate travado em nível mundial a respeito das possibilidades e limites das políticas sociais na contemporaneidade.
ALC – Agência Latino-Americana e Caribenha de Notícias, 28.01.2010