As primeiras comunidades cristãs tinham acabado de nascer e os conflitos já surgiam devido a falsas interpretações da mensagem do Evangelho. Paulo, que estava na prisão, toma conhecimento desses problemas em Colossas, na Turquia, e então escreve a essa comunidade. A Palavra de Vida deste mês pode ser melhor compreendida se for lida no contexto em que se encontra: “Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra. Pois morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus”.1
Para superar esses conflitos, Paulo nos convida a dirigirmos nossos pensamentos, todo o nosso ser a Cristo ressuscitado. De fato, no batismo, nós também morremos e ressuscitamos em Cristo. Podemos viver esta vida nova “no já e ainda não”.
“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.”
Obviamente, essa possibilidade não é alcançada de uma só vez, mas deve ser buscada continuamente com empenho, em uma jornada que dura toda a existência. Significa direcionar nossa vida para o alto. De fato, Cristo trouxe à terra a vida do Céu, e a sua Páscoa é o início da nova criação, de uma humanidade nova. Esta seria a consequência lógica de quem escolhe viver o Evangelho: uma escolha que muda totalmente a nossa mentalidade, inverte a ordem, os objetivos que o mundo nos propõe, nos liberta dos condicionamentos, fazendo-nos experimentar uma mudança radical. A bem da verdade, Paulo não desvaloriza as “coisas da terra” porque, desde que o Céu tocou a terra com a Encarnação do Filho de Deus, tudo foi renovado2
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“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.”
“O que são essas ‘coisas do alto’?”, escreve Chiara Lubich. “São aqueles valores que Jesus trouxe à terra e por meio dos quais se distinguem os seus seguidores. São o amor, a concórdia, a paz, o perdão, a integridade, a pureza, a honestidade, a justiça etc. São todas aquelas virtudes e riquezas que o Evangelho oferece. Com elas e por meio delas, os cristãos se mantêm na sua realidade de ressuscitados com Cristo. […] E como se faz para manter o coração ancorado no Céu, embora vivendo em meio ao mundo? Deixando-nos guiar pelos pensamentos e pelos sentimentos de Jesus, cujo olhar interior estava sempre dirigido ao Pai e cuja vida refletia em cada instante, a lei do Céu, que é uma lei de amor.”3
“Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra.”
A presença dos cristãos no mundo se abre corajosamente à nova vida da Páscoa. São mulheres e homens novos que não são do mundo4, mas que vivem no mundo com todas as dificuldades presentes. Era o que se dizia dos primeiros cristãos: “Moram na terra, mas são cidadãos do Céu. […] O que a alma é no corpo, assim no mundo são os cristãos”5. Assim, por exemplo, de maneira corajosa e inteiramente coerente com o Evangelho, um operário decidiu ajudar seu colega que acabara de ser demitido. Sua decisão provocou uma sucessão de gestos de fraternidade, frutos do seu testemunho: “Na fábrica, vários operários receberam carta de demissão. Eu conhecia a situação econômica precária de um deles, o Jorge. Então o convidei a voltar comigo ao Departamento de Pessoal, onde eu disse: ‘Estou em condições melhores do que ele, e minha esposa tem um emprego. Acho que é melhor vocês demitirem a mim, em vez dele’. O chefe prometeu rever o caso. Quando saímos, Jorge me abraçou, emocionado. O fato naturalmente se espalhou logo pelo ‘boca a boca’, e outros dois operários, em condição mais ou menos semelhante à minha, se ofereceram para serem demitidos no lugar de outros dois. A administração se sentiu forçada a repensar os métodos de escolha das demissões. Ao ficar sabendo do ocorrido, o pároco contou isso durante a homilia de domingo, sem citar nomes. No dia seguinte, ele me informou que duas estudantes levaram a ele todas as próprias economias para ajudar os operários em dificuldade, declarando: ‘Também nós queremos imitar o gesto daquele operário”’ (B.S. – Brasil)6.
Org.: Patrizia Mazzola
com a comissão da Palavra de Vida
1) Cl 3,1-3.
2) Cf. 2Cor 5,17: “Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. O que era antigo passou; eis que tudo
se fez novo”.
3) LUBICH, C., As coisas do alto, Palavra de Vida, abril de 2001.
4) Cf. Jo 15,18-21.
5) A Carta a Diogneto foi escrita em torno do ano 120.
6) Experiência extraída do site www.focolare.org.