Durante a peregrinação conjunta anglicano-católica a Lourdes
Por Inma Álvarez
A devoção à Virgem Maria tem um papel fundamental no diálogo ecumênico, no caminho rumo à unidade plena e visível entre os cristãos, afirmou o cardeal Walter Kasper, presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos.
O purpurado, no dia 25 de setembro, presidiu uma celebração na Gruta das Aparições de Lourdes, em uma peregrinação conjunta entre anglicanos e católicos, que havia partido do santuário de Nossa Senhora de Walsingham (Inglaterra). A homilia, pronunciada pelo arcebispo de Canterbury, reverendo Rowan Williams, foi publicada em 26 de setembro no jornal vaticano «L’Osservatore Romano».
De fato, admitiu o cardeal Kasper, «Lourdes é conhecida por seus milagres. Quem poderia imaginar, há 20 ou 30 anos, que católicos e anglicanos peregrinariam e rezariam juntos?».
«Para quem conhece os debates e as polêmicas do passado sobre Maria entre os católicos e os cristãos das igrejas não-católicas, para todos que conhecem as reservas do mundo não-católico com relação aos lugares marianos de peregrinação, para todas essas pessoas, o acontecimento de hoje, sem precedentes, é um milagre», sublinhou.
Segundo o cardeal Kasper, Maria é uma peça fundamental do movimento ecumênico, ainda que este tema «não é nem comum nem óbvio entre os ecumenistas».
A devoção a Maria é, recordou o purpurado, uma questão plenamente compartilhada com os ortodoxos, «mas também existia devoção mariana no tempo da Reforma».
«Lutero venerou Maria com fervor durante toda sua vida e a professava, com os Credos antigos e os concílios da Igreja do primeiro milênio, como Virgem e Mãe de Deus. Era crítico só com relação a algumas práticas, que considerava abusos e exageros – acrescentou. O mesmo aconteceu com os reformistas ingleses.»
A rejeição da doutrina sobre a Virgem Maria se produziu durante o Iluminismo, «em um espírito conhecido como ‘minimalismo mariológico’», explicou o cardeal Kasper.
Contudo, graças a «uma leitura e uma meditação renovada da Sagrada Escritura, observamos uma mudança lenta, mas decisiva», declarou, e citou várias declarações conjuntas entre católicos e luteranos, que tratam deste assunto.
«Maria não está ausente, mas presente no diálogo ecumênico. As Igrejas progrediram na aproximação sobre a doutrina de Nossa Senhora. Nossa Senhora já não nos divide, mas nos reconcilia e nos une em Cristo, seu Filho», acrescentou.
Ele se referiu especialmente às dificuldades que o diálogo com a Comunhão Anglicana atravessa atualmente, e afirmou que esta peregrinação «pode ser considerada como um sinal positivo e alentador de esperança, inclusive um pequeno milagre».
«Há motivo para esperar que Nossa Senhora nos ajude a superar as dificuldades atuais de nossas relações, para que, com a ajuda de Deus, possamos continuar nossa peregrinação ecumênica comum», acrescentou.
O purpurado se referiu a Maria como modelo da Igreja, «escolhida por Deus desde a eternidade», e se referiu à questão da salvação pela graça divina e não pelos méritos ou esforços próprios, um ponto que «já não divide» os cristãos, acrescentou.
Por outro lado, falou da fidelidade de Maria aos pés da cruz. «Maria é um exemplo de discípulo. Deus pede nosso ‘sim’ em resposta a seu ‘sim’; que colaboremos com sua obra salvadora», acrescentou.
Se os cristãos continuam divididos, afirmou o cardeal Kasper, é «porque nosso amor e nossa fé se enfraqueceram. Cada vez que o pensamento do mundo e seus parâmetros mancham a Igreja, a unidade da Igreja se encontra em perigo».
«Maria não nos guia ao que agrada a todos, mas aos pés da cruz. Portanto, tomemo-la como exemplo, e dessa forma daremos passos adiante em nossa peregrinação ecumênica», acrescentou.
Por último, o cardeal se referiu à questão da veneração a Nossa Senhora e aos santos, questão que «ainda provoca dificuldades» entre os protestantes e anglicanos. «Mas como qualquer mãe intercederia por seus filhos, e como toda mãe, após sua morte intercederia no céu e do céu, também Maria acompanha a Igreja em sua peregrinação», também «no caminho rumo à unidade».
ZENIT, 25 de setembro de 2009