Temos o canto do amante se sentindo decepcionado com o amado. O que ama, fez de tudo pelo ser amado e nada recebeu em troca, ao contrário, foi traído. A primeira leitura extraída de Isaías 5,1-7 nos fala do investimento que Deus fez em nós e de sua decepção quando veio buscar os bons frutos e nada de bom encontrou. Fiz tudo pela minha vinha. Dei o melhor que havia, o terreno, o ambiente foi muito bem preparado Tudo colaborava para o bom desempenho da videira, mas ela não correspondeu e deu frutos azedos.
Ao contrário, encontrei o oposto, os frutos eram maus, agressivos, totalmente voltados para a morte e não para a vida. Eram venenosos e não adeptos do bem. No lugar de justiça e retidão, apareceram e insultos, transgressões e desespero!
Meu sentimento se assemelha ao de um amante traído e ridicularizado pelos circunstantes.
Podemos pensar na família em que nascemos, os formadores que tivemos nos colégios onde estudamos, os catequistas e sacerdotes que nos prepararam para os sacramentos, todo o investimento espiritual que foi feito em nós, e que frutos demos, como está nosso amor ao próximo e a Deus? Ao final de sua história agrícola, Isaías coloca a questão para seus ouvintes darem sua opinião para o tratamento com a videira. Também nós corremos o risco de sermos colocados à opinião pública por causa de nossas ações irresponsáveis, mais ainda, não ações irresponsáveis, mas inclinação e opção pelo oposto da missão dada pelo Senhor, o que é gravíssimo! Nossa opção fundamental foi contrária à nossa vocação.
No Evangelho, Mateus 21,33-43, Jesus conta aos seus ouvintes uma história (estória) parecida com a parábola de Isaías, só que agora ele a transforma em uma alegoria, já que toca na realidade do Povo de Israel e coloca o caso na roda para que os circunstantes digam qual a reação do dono da vinha em relação aos vinhateiros que maltrataram seus enviados (os profetas) e mataram o herdeiro (ele, Jesus que será crucificado)! E o povo se condena, como seria de esperar, pela logicidade do caso. Mas Jesus, vai além. Traz à memória do povo o versículo 22 do Salmo 118 (117) que comenta a rejeição da pedra, pelos construtores, que se tornou a principal. Ele, Jesus, é essa pedra! E aí vem a consequência da irresponsabilidade do Povo Escolhido, é retirada dele a missão de anunciar e implantar o Reino de Deus e entregue a outro, “que o fará produzir seus frutos”. O Senhor não age intempestivamente como fariam seus ouvintes, mas mantem o objetivo do Reino, que é salvar e não perder as pessoas. A atitude fundamental do Povo não fica impune – a missão é retirada deles – , mas não são castigados – o Senhor não lhes confere sofrimentos e nem morte, menos ainda violenta, como havia sugerido os ouvintes.
E nós, que lemos esta reflexão e somos batizados, fomos criados no seio de uma boa família, tivemos instrução, aprendemos a fazer o bem e a evitar o mal, percebemos pelo nosso ambiente e inclinação, o que o Senhor pretendia de cada um, de nós, de mim. Continuo no caminho recebido e aceito no dia de meu batismo? Percebi minhas inclinações e me preparei com aquilo que a vida me proporcionou, ou virei a mesa?
Levei em conta as perguntas: eu, para que? Para quem?
A segunda leitura, Filipenses 4,6-9, nos fala sobre a paz e a ação de graças. A paz de Deus guardará nossos corações e pensamentos em Cristo! Zero com angústias, mas tudo com serenidade e ação de graças!
Se Deus nos ama e nos vocaciona a uma vida feliz, toda e qualquer angústia está fora de propósito, mas deverá constar em nossas atenções a justiça, o direito, os valores humanos e a ação de graças.
Sendo assim, abraçamos, com o coração, o anúncio do Reino, vivendo.