Leituras Bíblicas
Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna (João 6,68).
Dia 03 de Outubro de 2009
Sábado da 26ª semana do Tempo Comum
Hoje a Igreja celebra : S. Francisco de Borja, presbítero, +1572
Ver comentário abaixo:
Cardeal John Henry Newman : «Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes»
Livro de Baruc 4,5-12.27-29:
Coragem, povo meu, que trazes o nome de Israel! Fostes vendidos às nações, mas não para serdes aniquilados. Porque provocastes a ira de Deus, fostes entregues aos inimigos. Irritastes o vosso criador, oferecendo sacrifícios aos demónios e não a Deus. Esquecestes o vosso criador, o Deus eterno, e contristastes Jerusalém, que vos alimentou. Quando viu precipitar-se sobre vós o castigo de Deus, disse: «Escutai, nações vizinhas de Sião! Deus enviou-me um grande tormento. Vi o cativeiro dos meus filhos e filhas, que o Eterno lhes infligiu. Eu tinha-os criado com alegria e despedi-os com lágrimas e tristeza. Que ninguém se regozije com a minha viuvez e o meu desamparo! Se estou deserta, é por causa dos pecados dos meus filhos, porque se afastaram da Lei de Deus, Coragem, meus filhos, clamai ao Senhor, porque aquele mesmo que vos provou, há-de lembrar-se de vós. Se um dia quisestes afastar-vos de Deus, convertei-vos, agora, e procurai-o com um empenho dez vezes maior; pois aquele que vos enviou o castigo vos trará a alegria eterna da vossa salvação.»
Livro de Salmos 69(68),33-35.36-37:
Que os humildes vejam isto e se alegrem, e os que buscam a Deus se encham de coragem,
porque o SENHOR escuta os necessitados e não despreza o seu povo cativo.
Louvem no o céu e a terra, os mares e quanto neles se move.
Sim, Deus há-de salvar Sião, reconstruir as cidades de Judá; eles ali habitarão e tomarão posse dela.
Os descendentes dos seus servos hão de recebê-la em herança, e os que amam o seu nome serão os seus moradores.
Evangelho segundo S. Lucas 10,17-24:
Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria, dizendo: «Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós, em teu nome!» Disse-lhes Ele: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago. Olhai que vos dou poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo; nada vos poderá causar dano. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu.» Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: «Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revela-lo.» Voltando-se, depois, para os discípulos, disse-lhes em particular: «Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Porque digo-vos muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!»
Comentário ao Evangelho do dia feito por:
Cardeal John Henry Newman (1801-1890), presbítero, fundador de comunidade religiosa, teólogo
Meditations and Devotions : Part III, 2, 2 «Our Lord refuses sympathy» (a partir de trad. francesa do original inglês)
«Muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes»
Poder-se-á dizer que a partilha profunda dos sentimentos é uma lei eterna, porque ela tem significado, ou melhor, tem cumprimento, de forma primordial, no amor recíproco e indizível da Trindade. Deus, infinitamente uno, foi também sempre três pessoas. Desde sempre, Deus exulta no Filho e no Espírito, e Eles n’Ele […]. Quando o Filho se fez carne, viveu durante trinta anos com Maria e José, formando assim uma imagem da Trindade na terra. […]
Mas convinha que Aquele que havia de ser o verdadeiro Grande Sacerdote, e de exercer esse ministério para toda a raça humana, estivesse livre de laços e de sentimentos. Tal como se dissera antigamente que Melquisedec não tinha pai nem mãe (He 7,3). […] Abandonar a mãe, gesto que Ele torna plenamente significativo em Caná (Jo 2,4), era portanto o primeiro passo solene necessário ao cumprimento da salvação do mundo […]. Jesus renunciou não só a Maria e a José, mas também aos amigos secretos. Quando chegou o seu tempo, teve de renunciar a todos eles.
Mas podemos supor que ele estava em comunhão com os santos patriarcas que haviam preparado e profetizado a sua vinda. Numa ocasião solene, vimo-lo a falar durante toda a noite com Moisés e Elias sobre a Paixão. Que visão, que pensamentos nos são então abertos acerca da pessoa de Jesus, de quem tão pouco sabemos! Quando ele passava noites inteiras em oração […], quem melhor poderia apoiar o Senhor e dar-lhe força do que essa «multidão admirável» de profetas de quem ele era o modelo e o cumprimento ? Ele podia pois falar com Abraão, que exultara pensando que tinha visto o seu dia (Jo 8,56), e com Moisés […], ou com David e Jeremias, que tão particularmente o tinham prefigurado, ou com os que mais tinham falado com ele, como Isaías e Daniel. Encontrava nestes um fundo de grande simpatia. Quando foi para Jerusalém, para o sofrimento último, todos os santos padres da antiga aliança, cujos sacrifícios prefiguravam o seu, vieram invisivelmente ao seu encontro.