Lideranças representando a Diocese, em assembleia, assumiram três prioridades pastorais para o próximo quadriênio
Nosso jornal deste mês de novembro deseja justamente evidenciar o acontecimento marcante da caminhada pastoral diocesana deste ano. Ocorreu no dia 28 de setembro de 2019 nas dependências da Igreja Matriz São Francisco de Assis, Blumenau, com a participação de 180 delegados das paróquias, comunidades, movimentos eclesiais: a 20ª Assembleia Diocesana de Pastoral.
Sinodalidade
Papa Francisco tem chamado a atenção para uma característica inalienável da Igreja, a sinodalidade. A palavra sínodo procede do idioma grego: Sün+odós, que quer dizer caminhar juntos. Nesse sentido, não se dispensa membro algum da Igreja de agregar seu contributo à construção do “edifício espiritual”.
São Pedro escreve: “Achegando-vos a Ele, a Pedra Viva, rejeitada pela humanidade, mas eleita e preciosa para Deus, vós também, como pedras vivas, sois edificados como Casa espiritual, com o propósito de serdes sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (1Pd 2,4ss).
Houve tempos em que, a título de mirar uma igreja popular, imaginava-se focar na democracia como método da sua construção. Entendeu-se, porém, que o mistério da Igreja não se reduz aos critérios de maioria e minoria, como numa entidade civil. Em momento algum, nos evangelhos, Jesus faz alguma votação para decidir verdades ou passos da sua missão.
O grande método, isto sim, foi definido pelo Senhor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Compara-se o amor mútuo no edifício da Igreja com o cimento que une e solidifica vigas, tijolos, paredes. Nessa perspectiva, o bispo representa Jesus, isto é, o primeiro a acolher, amar, testemunhar, orientar o seu rebanho. Jesus, a pedra angular, nele se manifesta para que toda a construção se erga e se fortaleça.
Assim, uma assembleia pastoral apresenta-se como momento forte da Igreja. Fruto do empenho dedicado, corajoso. E mais: presidida pelo bispo, sucessor dos apóstolos, essa reunião geral torna-se a Igreja presente, viva e atuante.
Muitos encontros nas comunidades, paróquias, comunidades, comarcas foram realizados sob a orientação da coordenação diocesana. E se quiséssemos descrever mais detalhadamente os trabalhos de bastidores onde foram confeccionados símbolos, subsídios, ornamentação, deveríamos dobrar o espaço de que aqui dispomos. A assembleia foi fruto realmente da generosidade de muitos e muitas, animados pela alegria de ser e construir a Igreja do Senhor.
Iniciação Cristã
Um trabalho de grupos menores e, em seguida, o plenário trouxe à luz a primeira prioridade pastoral para o próximo quadriênio – 2019-2013: Iniciação à vida cristã. Por Iniciação entende-se todo um processo de adesão, conhecimento, experiência, de alguém desejoso de encarnar uma espiritualidade, um jeito de viver a sua vida. A Igreja de Jesus praticou iniciação desde os seus inícios. O seguimento do Senhor, na verdade, era processo permanente e progressivo. Infelizmente, a partir do século IV, até o Concílio Vaticano II, com prazos definidos quase matematicamente, reduzia-se a catequese à recepção de sacramentos. Primeira Eucaristia, Crisma, pre
paração para os sacramentos em geral, obedeciam esse modo de conceber evangelização. E, reconheçamos, muitos santos e santas se formaram nessa compreensão.
Mas a vida, muito menos a vida cristã em tempos desafiadores como o nosso, não cabe em medidas de espaços de tempo. Foi por isso que o Concílio entendeu se devesse resgatar a Iniciação como formação e acompanhamento na fé. Quase cinquenta anos depois, 2007, o Documento de Aparecida reconhecia: “Animados pela narrativa do encontro de Jesus com a Samaritana, a Igreja, que somos todos nós que o seguimos, é chamada hoje a promover um encontro luminoso, um novo diálogo, com novos interlocutores, reconhecendo que nos encontramos em um momento histórico de transformações profundas e de interlocuções novas” (DAp n. 44 – Doc. CNBB 107, n. 39).
Mais explicitamente, a 57ª Assembleia Nacional dos Bispos do Brasil, em 2017, publica o Documento 107 – “Iniciação à Vida Cristã – Itinerário para formar discípulos missionários. Pode-se dizer que esse documento marcou o momento em que a Igreja no Brasil aderiu decidida e convictamente ao itinerário da Iniciação à Vida Cristã.
Nossa Diocese, por meio dos párocos e do nosso bispo optou expressamente por essa nova maneira de entender e fazer evangelização no encontro do clero ocorrido no dia 23 de outubro de 2018. Presente estava também a coordenadora diocesana de Catequese, quando o bispo diocesano Dom Rafael Biernaski acatou a decisão de, em todas as paróquias, adotar a Catequese de Iniciação. E agora, como prioridade evangelizadora eleita em assembleia diocesana, com a graça de Deus e a colaboração de todos nós, mergulhamos definitivamente nesse rumo indicado pelos nossos bispos, eles também irmanados em assembléia nacional.
Vida e a Família
Rezam as Diretrizes Gerais da CNBB: “Em atenção à Palavra de Jesus e ao ensinamento da Igreja, especialmente sua doutrina social, que iluminam os critérios éticos e morais, nossas comunidades devem ser defensoras da vida desde a fecundação até seu fim natural” (n. 171). Reconhecem os bispos que “a mobilidade humana e as migrações favorecem a diversidade religiosa”. “A solidariedade, assim, pode ser mais amplamente vivenciada – acentuam eles – como também os cristãos tem ainda mais oportunidade de trabalharem juntos em projetos comuns voltados para a defesa da vida e da família”.
Concretamente, o Setor Vida e Família e a Pastoral Familiar, suas propostas, subsídios, ações, continuem a merecer acolhida prioritária pelas paróquias e comunidades. Datas comemorativas durante o ano sejam ocasiões de celebrar a família, a vida, o nascituro, as crianças, os namorados, a terceira idade; até mesmo os enlutados, a esperança cristã, enfim.
Missão e Formação Permanente
Quando se faz o planejamento pastoral nas paróquias, comunidades, grupos, uma ação sempre é sugerida: a formação. Em todos os sentidos a formação é estratégia de novas descobertas e novas motivações de engajamento e perseverança. Agora é a Assembleia Diocesana que elege essa ação em todos os âmbitos da evangelização.
E a formação adquire seu pleno sentido quando foca a missão. Alia-se, portanto, a formação permanente à missão. A doutrina, a bíblia, a liturgia, os documentos da Igreja, a vida dos santos e santas, são poços de riquezas espirituais, vitais, a serem explorados nesse horizonte.
Evidencia-se ainda mais em nossos tempos de mudanças rápidas e profundas na sociedade e no mundo a missão de todo batizado contida na Doutrina Social da Igreja. Talvez seja um aspecto do sonho do Papa Francisco de ver uma “Igreja em saída”, isto é, cristãos e cristãs não se contentando com o ambiente mais cômodo da Igreja ou até dos conteúdos inesgotáveis teológicos. Porém, alimentados por equilibrada e sólida espiritualidade, vão às periferias existenciais, humanas, da pobreza, violência, tóxico-dependência, corrupção, analfabetismo, plantando aí o Reino de Deus, a vida, a paz, a justiça, a alegria, a esperança e a felicidade.
Semeadores
Enfim, é oportuno ter sempre presente o conselho do Mestre: “Um é o que semeia e outro é o que colhe: eu vos enviei a ceifar onde não trabalhastes, outros trabalharam, e vocês recebem o benefício deste trabalho” (Jo 4,35-38). Importa que, no tempo que nos é dado, façamos o que devemos fazer. Sabendo que usufruímos do que outros fizeram antes de nós! Por isso, somos acima de tudo semeadores que acreditam numa colheita abundante no tempo determinado pelo Senhor do mundo e da história.
Texto e Foto: Pe. Raul Kestring