Deparei-me, dia desses, com uma poesia de Drummond de Andrade chamada A Nova Rua São José, na qual descreve a existência dum banco na tal rua, ali colocado por certo Gildo Borges. A descrição poética do passeio e de seu ilustre
móvel me fez, de imediato, adentrar em espírito na nossa Matriz, a Catedral São Paulo Apóstolo. Digo o porquê: o banco da nova rua São José convidava os transeuntes a um silencioso e contemplativo descanso, a pararem por dez ou
quinze minutos e libertarem-se do “carro trêfrego, [da] maléfica fumaça, [do] rumor túrbido”.
Ali era possível reencontrar “o pouso, a paz, a pomba, o pensamento de existir”. Terminado este repouso, não se ilude Drummond, informando-nos do óbvio: “voltarás depois ao mundo louco. Mas voltarás de cuca restaurada, alma leve, levando na lembrança um bailado de asas e a dourada alegria da hora lenta e mansa.”
Em meio ao frenesi diuturno de Blumenau, o Templo convida-nos ao silêncio, à oração, ao encontro consigo e com Aquele que é maior do que nós. Imponente,foi construído, parece, com outras pedras e outra finalidade: levar-nos à descoberta da poesia do silêncio e à busca da mística da vida em meio ao seu dramático corre-corre. Quem adentra aquele espaço Sagrado – seja católico ou não, crente ou não, autóctone ou estrangeiro – e descansa em seus bancos, sem saber, experimenta o poético banco de Drummond, eternizado nos versos, mas reescrito em cada prece ou encontro, lágrima ou sorriso que, dezembro a
dezembro, somente Deus sabe a quantidade já havido.
Em seu imenso interior, cada um experimenta sua pequenez, mas tem de volta o que talvez as coisas lá fora tentaram lhe roubar. Em seu interior esplêndido, cada qual busca uma resposta, um sentido, um sinal, uma luz ou simplesmente ali deseja estar por se sentir bem. Em seu interior arquitetônico, as pedras, divinamente acomodadas, protegem, de algum modo, a vida. Elas mesmas – as pedras – se moldam e parecem se curvar ante Aquele que tudo criou e a Ele, elas nos conduzem.
Há, difícil negar, em cada um aquele desejo de que fala Adélia Prado: “A alma quer adorar, ela quer se prostrar, ela quer reverenciar algo maior do que nós. Por que, tem graça eu me curvar diante de alguém que é do mesmo tamanho meu?”. No final do poema, Drummond dá vida às estátuas de São José e Tiradentes, que se põem a meditar e aprovam a iniciativa de Gildo Borges. Igualmente, não as estátuas, mas Blumenau, rendem loas póstumas a Frei Brás e a Gottfried Böhm que, ousados, tiveram o mesmo sonho que aquele: “de tornar a cidade mais humana e cada ser humano mais humano”.
E o sonho se torna realidade até os dias de hoje. O que vem de Deus se eterniza no tempo, seja a poesia, a pedra, o Templo, o sonho.
Padre Fernando Steffens, Vigário da Catedral