Meditação de Dom Jesús Sanz Montes, ofm
Publicamos o comentário do Evangelho deste domingo (Marcos 9 9, 37-47), XXVI do tempo comum, redigido por Dom Jesús Sanz Montes, ofm, bispo espanhol.
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O ponto de partida deste Evangelho é a “estranheza” que sentiram os discípulos de Jesus quando viram um “estranho” que, sem ser do grupo que seguia o Mestre, se permitia expulsar demônios em seu nome. Parece que este fato irritou tanto os discípulos, que cheios de indignação, foram contar ao Senhor.
Era uma atitude supostamente de zelo por parte de quem parecia viver sua condição de discípulo com tanto interesse. Jesus responderá fazendo-lhes ver que o Espírito de Deus transborda os lugares onde passa, e portanto, também fala e age onde há um lampejo de verdade, bondade, beleza… ainda que estes lampejos sejam incompletos e parciais.
Não há aqui um chamado à falsa tolerância, como se tudo fosse igual, ou como se a verdade fosse indiferente em qualquer caminho ou em qualquer posição humana. Mas, certamente, Jesus não é favorável às desavenças partidaristas. Qual a razão de vosso escândalo? Dizia Jesus aos discípulos.
Na linguagem bíblica, a palavra “escândalo” tem dois sentidos: ocasião de queda e ocasião de obstáculo. Em ambos casos o resultado é parecido: não chegar à meta desejada, não alcançar o destino para o qual se caminhava. Ou seja, tanto no caso de uma lerdeza que nos faz cair, como também no caso de um bloqueio que nos impede o andar, chegamos a esse mesmo e terrível final: nossa vida fracassou inutilmente; Deus a soou e a desenhou para um projeto de felicidade, e nossas lerdezas e quedas nos detêm ou nos fazem caminhar em outra direção… Isto é o verdadeiramente trágico e preocupante, e isto é o que Jesus quer fazer ver!
Podemos estar ocupados na caça de falsos discípulos (o que se deve fazer, não no sentido de “caçar”, mas sim no de não confundir o verdadeiro com o parecido), sem reparar que também nós temos de revisar nossa identidade cristã, nosso seguimento do Mestre Jesus Cristo, nossa comunhão de vida com Ele e com sua Igreja. Porque pode acontecer que estejamos queixando-nos das falsidades e não estarmos vivendo na verdade.
O Evangelho deste domingo é tremendamente drástico e radical: não escandalize os pequenos, os fracos, não se escandalize a si mesmo, ou seja, não caia e não derrube ninguém; não se bloqueie e não bloqueie os outros. Mais vale entrar coxo, cego, ou manco… (com tudo que estas expressões sugerem) que ter conservado estes membros mas ter perdido a vida, a verdadeira vida.
ZENIT, 24/09/2009