Dom Rafael Biernaski
Bispo de Blumenau(SC)
O tempo da Quaresma, iniciado na liturgia da Quarta- -feira de Cinzas, tem a finalidade de preparar os cristãos para a Páscoa, para o dia da Ressurreição, quando a vida venceu a morte para sempre, num verdadeiro itinerário anual de caminhada penitencial. A Quaresma nasceu precisamente com a finalidade de favorecer uma participação mais profunda e mais intensa no mistério pascal de Cristo, centro da fé e da vida do cristão.
Um mistério tão grande precisa de longa e intensa preparação. Os quarenta dias indicam um tempo de prova antes de uma vitória: a espera de Noé depois do dilúvio (Gn 8,6); a permanência de Moisés no monte (Ex 24,18); os quarenta anos de permanência de Israel no deserto (Js 5,6); Elias caminha durante quarenta dias (1Rs 19,8); ainda quarenta dias e Nínive será destruída (Jn 3,4). As “tentações” de Jesus remetem o discípulo, no momento do seguimento, para o caminho (“via-sacra”) de sofrimento do mistério pascal de Cristo, precisamente a “Paixão” na qual a única possibilidade de ultrapassar a prova consiste em confiar na Palavra de Deus, como o próprio Cristo que responde à tentação três vezes com “a Escritura que diz” (Mt 4,4.6.10).
A Quaresma deve ser considerada um tempo de graça no qual os fiéis, mediante a escuta mais frequente da Palavra de Deus (porque “não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”), são convidados a redescobrir a sua dignidade de filhos de Deus e a sua libertação efetuada pela Páscoa de Cristo, ou seja, a graça do Batismo.
Neste ano em que valorizamos as “pequenas comunidades que se reúnem ao redor da Palavra de Deus”, vivamos esta experiência quaresmal mergulhados na fonte viva da Palavra de Deus, segundo os passos da Leitura Orante. E descobriremos as riquezas deste caminho que vai nos convertendo em discípulos missionários.
Com o seu apelo à conversão, a Quaresma torna-se o tempo exemplar para todo o ano e fornece o fundamento para uma vida cristã autêntica que, inspirando-se na Páscoa do Senhor, se coloca em atitude de constante conversão.