"A caridade na verdade é a principal força propulsora do verdadeiro desenvolvimento de toda pessoa e de toda a humanidade" – com essas palavras proferidas pelo papa, na Audiência Geral de 8 de julho passado, Pe. Mario Colavita, pároco em Campobasso, Molise, inicia o artigo no qual analisa a nova encíclica de Bento XVI, a Caritas in veritate.
Com essas palavras – diz Pe. Mario – o próprio papa explica o sentido de sua encíclica social, que traz ao centro do debate global, a caridade e a verdade: duas palavras muito caras ao papa teólogo; palavras que servem como ponto de partida para reflexões em vista de uma nova ordem social, capaz de abraçar o mundo inteiro.
A caridade na verdade é o "princípio em torno do qual gira a doutrina social da Igreja; um princípio que toma forma operativa em critérios orientadores", afirma a Caritas in veritate.
Pe. Mario reitera que a Igreja não dispõe dos instrumentos necessários para intervir "na prática", nos delicados equilíbrios políticos, econômicos e sociais. Mas recorda que sua força é o Evangelho que, encarnando-se no "hoje", oferece princípios e critérios de juízo, em favor do bem-estar do homem.
O sacerdote indica que a nova encíclica de Bento XVI é um encorajamento ao magistério social da Igreja, na esteira dos ensinamentos dos papas Leão XIII e João Paulo II. E sublinha o fato de a Caritas in veritate relançar no centro do debate internacional, a importância do homem como "via necessária" para a ordem social mundial.
A encíclica de Bento XVI – ressalta Pe. Mario – fala da caridade não como benevolência estéril ou sentimentalismo fácil, mas como a própria essência do Deus-amor, a Verdade que ilumina a caridade, orientando-a para o bem e para a justiça. "Sem verdade, a caridade escorrega facilmente no sentimentalismo."
A novidade desta encíclica – diz Pe. Mario – está justamente no fato que o papa soube conjugar esses dois grandes temas centrais e essenciais do Cristianismo; duas palavras que têm luz própria e que propõem estratégias de trabalho em favor do homem.
Essa luz – explica o sacerdote – indica ao homem como sair dos estreitos caminhos do subjetivismo e do relativismo, conduzindo-o à ampla estrada do amor que se torna dom. E esse dom – sublinha – não deve ser entendido como filantropia, mas sim como xaris (do grego), amor gratuito recebido e doado, que deve ser o cerne do processo econômico, no mercado.
Creio que a grande "revolução" dessa encíclica – afirma Pe. Mario – possa ser condensada nesse binômio "dom-caridade", que tem a força de mobilizar a partir de dentro, as regras do mercado, voltadas para o lucro, que vêem no ganhar e no crescer as suas finalidades primeiras e últimas.
O mercado visto nessa perspectiva – argumenta o sacerdote – leva à desigualdade e à fratura entre dois mundos: Norte e Sul, Leste e Oeste, relegando as nações pobres à marginalidade, em termos de desenvolvimento, e acentuando sempre mais a injustiça global.
No contexto da era pós-moderna, em que o vazio ético se torna crise não apenas econômica e moral, mas, sobretudo, antropológica que ataca a própria natureza do homem, relegando-o a objeto ou, pior ainda, a produto – reflete Pe. Mario − a Caritas in veritate coloca em foco o problema e convida homens de governo, empresários, educadores e cidadãos a reconsiderarem o homem como o bem mais precioso e inestimável que exista, acima de qualquer outra coisa ou valor.
"Uma economia sem regras e sem ética – conclui o sacerdote – condena milhões de pessoas à fome e à pobreza. Por isso, a Caritas in veritate dá novamente ao homem o seu justo lugar, reconhecendo seu imenso valor."
Fonte: Rádio Vaticano