A liturgia deste domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência, onde investimos nossa vida. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
Na 1ª Leitura, o rei Salomão escolhe o seu tesouro: a SABEDORIA. (1Rs 3,5.7-12). No início de seu reinado, o jovem rei vai a Gabaon, onde se achava o Tabernáculo sagrado, construído por Moisés, a fim de oferecer sacrifícios ao Senhor. Em sonho, o Senhor manifesta o seu agrado por este gesto e convida-o a pedir o que quisesse. O rei não se deixou seduzir e alienar por valores efêmeros (poder, riquezas, prestígio político). Pelo contrário, escolhe o mais importante: um coração “sábio” para governar seu povo com justiça e retidão.
A ESCOLHA agradou plenamente a Deus: O Rei Salomão não pediu a Deus riqueza, e sim sabedoria, isto é, o dom de distinguir entre o bem e o mal e Deus lhe concedeu uma sabedoria inigualável e acrescentou ainda outros três valores não solicitados: riqueza, glória e vida longa.
Assim, a figura de Salomão interpela também todos aqueles que detêm responsabilidades na sociedade e em nossas comunidades (seja em termos civis, seja em termos religiosos). Convida-os a uma verdadeira atitude de serviço: o seu objetivo não deve nunca ser a realização dos próprios esquemas pessoais, mas sim o benefício de toda a comunidade, a concretização do bem comum.
Na 2ª Leitura encontramos um dos textos maiores da Carta aos Romanos. (Rm 8,28-30). Deus, como um bom empreiteiro, faz todo o necessário para o bem daqueles que o amam, levando a termo a execução de seu desenho (“desígnio”) (Rm 8,28). De antemão conheceu os que queria edificar, como um arquiteto tem um edifício na mente; ele os projetou (“predestinou”; o termo grego proorizein significa “planejar, projetar”), conforme o protótipo que é Jesus mesmo, seu filho querido, ao qual ele gostaria que todos se assemelhassem.
E aos que assim planejou, também os escolheu (“chamou”); os ‘justificou” (qual empreiteiro que verifica sua obra durante a execução, decidindo se serve ou não) e, arrematando a obra, os “glorificou” (como em certas regiões os construtores celebram o arremate coroando de flores a cumeeira da casa nova). Este texto nos faz entender o que os teólogos chamaram a “predestinação”: não significa que Deus criou uns para serem salvos e os outros (a “massa condenada”) para serem perdidos. Significa que, como bom empreiteiro, Deus faz tudo o que for preciso para arrematar a salvação naqueles que se dispõem para ela; e como conhece o coração de todos, ele também conhece os que se prestam à salvação e os que não se deixam atingir.
No Evangelho, Jesus apresenta o seu tesouro: o REINO DE DEUS. É a conclusão do 3º Discurso de Jesus, com as últimas três “Parábolas”: o Tesouro, a Pérola e a Rede. (Mt 13,44-52).
O Reino de Deus é um TESOURO escondido… uma PÉROLA que se procura… A DESCOBERTA desse tesouro e dessa pérola provoca, em quem os encontrou, duas atitudes: Renúncia e Alegria.
1. RENÚNCIA a tudo para adquiri-los… O Reino proposto por Jesus é um “tesouro” precioso pelo qual se renuncia a tudo e pelo qual os seguidores de Cristo devem estar dispostos a pagar qualquer preço. Desde que descobrimos Cristo, o que mudou em nossa vida? O que nós já renunciamos por esse tesouro? Onde gastamos mais tempo em nossa vida diária?
2. ALEGRIA muito grande pelo bem encontrado… Todo comerciante que realizou um bom negócio sente-se feliz… mesmo tendo de se desfazer de muitos bens… O Reino de Deus é um tesouro pelo qual compensa a renúncia de todos os bens deste mundo. Demonstramos alegria e felicidade por termos achado o nosso tesouro? Se temos consciência desse tesouro, como podemos permanecer acabrunhados, tristes e desanimados?
Estas parábolas também sugerem dois comportamentos básicos: Negativamente, DESPRENDER-SE de posses que não vale a pena segurar (como Salomão, no fundo, relegou a riqueza material para segundo plano, pelo menos na sua oração). E, positivamente, INVESTIR naquilo que é realmente o mais importante, aquilo em que Deus mesmo investe; justiça e bondade, iluminadas pela sabedoria. A atitude negativa (desprendimento) e a positiva (investimento) são “dialéticas”: uma não funciona sem a outra.
Não somos capazes de nos desprender do secundário, se não temos claro o principal. Por falta do principal, o investimento do amor, o esforço de desprendimento pode virar masoquismo. Por outro lado, nunca conseguiremos investir o nosso coração para adquirir a pérola do Reino de Deus, se não soubermos nos desprender das joias falsas que enfeitam nossa vida. Por isso, tanto idealismo fica num piedoso suspiro…
Mas ficam ainda umas perguntas inquietantes: Se o Reino de Deus é tão precioso, Por que há tantos homens que o ignoram ou até o desprezam? Por que vemos tantos males entre os bons? Será que, no final, todos teremos a mesma sorte?
Na 3a Parábola, Jesus nos dá a resposta: O Reino de Deus é uma REDE: A Igreja é comparada a uma rede de arrastão, lançada ao lago, que apanha peixes de todos os tipos e qualidades… O Pescador, depois de ter puxado lentamente a rede à terra, recolhe os peixes, separando os bons e os maus, os aproveitáveis e os inúteis. Recolhe os bons e joga fora os maus… Deus não tem pressa em condenar e destruir… sabe esperar… sabe escolher…
E Jesus conclui o Discurso com um breve diálogo com os discípulos, no qual afirma que o verdadeiro discípulo é aquele que descobre o Tesouro do Reino e se compromete com ele. Só a Sabedoria divina poderá nos iluminar para compreendê-lo e assim anunciar a todos com alegria a nossa descoberta.
Como Salomão, peçamos a Deus muita SABEDORIA para saber escolher sempre o verdadeiro Tesouro e muito ENTUSIASMO para nos pôr com alegria na sua conquista, Pois é com vistas à salvação definitiva que se deve fazer o investimento certo hoje.
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