Palavra: Lc 1, 39-45; 56:
39. “Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, às pressas, a uma cidade da Judéia.
40. Entrou na casa de Zacarias, e saudou Isabel.
41. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança se agitou no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
42. Com um grande grito exclamou: ‘Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre!
43. Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar?
44. Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre.
45. Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu.’
56. Maria ficou três meses servindo Isabel; e depois voltou para casa.”
Estamos quase finalizando a nossa Caminhada e mais uma vez nos encontramos aqui para nos trabalhar, para através da Palavra de Deus, refletirmos sobre a nossa vida e a nossa conduta. Já podemos começar a fazer uma breve avaliação sobre a nossa vivência. Como aconteceu para nós o acompanhamento dessas reflexões? Que mudanças nos trouxeram? Tivemos a coragem de avançar algum degrau rumo à nossa construção pessoal? Que novas práticas agregamos ao participar deste Programa de Vida Nova? Reconhecemos que este projeto pessoal é muito mais complexo do que imaginamos, e para isso acontecem sempre novos ciclos, para que tenhamos condições de viver a nossa conversão de forma consciente, ou seja, fazendo a opção da transformação pelo desejo e não pelo desespero.
Sabemos que todos os que procuram a Pastoral da Sobriedade carrega uma cota de sofrimento muito grande. Aproximamo-nos pela dor ou pela compaixão e somos convocados a nos preparar para enfrentar os desafios, pois em nenhum momento vamos fazer sumir as angústias como num passe de mágica, mas propomos a experiência de trocar o flagelo pelo fazer e não permitiremos que esse processo aconteça de maneira isolada. Para isso existem os grupos de auto-ajuda, as reflexões dos passos, os atendimentos para orientações e a novena perpétua que acontece semanalmente aqui no primeiro bloco. Mas, não adianta se inclinar a todos estes instrumentos e esperar que algo aconteça se nós mesmos não fizermos acontecer. Todas estas possibilidades existem para nos preparar, para nos orientar, para reforçar as ações que precisamos enfrentar.
E como sempre costumamos colocar, esta Caminhada começou exatamente quando no primeiro passo admitimos nossas fraquezas, manias, vícios, falhas e começamos a olhar a nós, as nossas fragilizações. No segundo passo confiamos na presença de Deus em nossa vida, uma presença que nunca nos deixou à deriva, mas que até então não reconhecíamos nela a força necessária para mantermo-nos em equilíbrio. No terceiro passo entregamos a nossa vida, aceitando viver conforme a vontade do Pai. No quarto passo arrependemo-nos das escolhas e de suas consequências. No quinto passo confessamos, verbalizando com maturidade sobre nossas atitudes pequenas, sem adicionar ou justificar nossos erros apontando as falhas de terceiros. No sexto passo renascemos para novas conquistas na medida em que aprendemos a investir nesta Caminhada. No sétimo passo reparamos através de novas atitudes, possibilitando reconstruir as nossas relações de maneira mais saudável. No oitavo passo professamos a nossa fé, considerando que foi preciso vivenciar a conversão interior para se chegar até aqui. No nono passo oramos e vigiamos diante das recaídas e das fraquezas, fortalecidos pela conversa ao pé do ouvido com o Pai e no décimo passo servimos à exemplo de Maria. Estamos realmente prontos a servir à exemplo de Maria? Vou repetir a pergunta: Queremos servir à exemplo de Maria?
O serviço é uma ação que nos convoca a acreditar naquilo a que estamos nos dedicando. Precisamos ter convicção e nos convencer de que o nosso sim deve ser concreto. A partir do momento em que Maria entregou o seu SIM, ela passou por muitas provações, mas em nenhum momento titubeou ou sentiu dúvidas. Esse SIM comprometia muitas outras situações, pois ela não podia fugir às obrigações familiares. E foi ter com a sua prima. Para isso precisou fazer longo percurso, provavelmente à pé, sozinha, arriscando-se. E lá ficou. Sua entrega era tanta que deixou nas mãos de Deus a questão delicada que enfrentaria com o seu noivo. Certamente se viu aflita quando seu noivo José tomou conhecimento. Que noivo não se inquietaria? Sem oração José não teria suportado, não teria reconhecido a vontade de Deus.
Era preciso, por outro lado, que José compreendesse os propósitos de Deus. Ela simplesmente, repito, simplesmente, acolheu o Seu chamado e se deixou envolver pela graça, como um rio que segue o seu percurso, confiante de que era alguém fundamental nos projetos de Deus, portanto, não poderia se deixar fragilizar por situações menores, até porque, qualquer outra situação, por pior que parecesse, a seus olhos era menor que a graça por ela vivida. Por isso, era bem-aventurada, porque acreditou, e porque acreditou aconteceria conforme Deu lhe prometera. E porque ela não desistia, fugiram de Herodes e passaram por momentos difíceis. E cada vez mais Maria se mantinha firme em seu SIM.
Quando afirmamos que acreditamos e que servimos a um só Deus, deveríamos ser seus seguidores, sem atentar para questões que nos desvirtuam no caminho. Ele espera o nosso SIM e constantemente coloca a nossa frente possibilidades para que sigamos retamente, sem dúvidas, mas às vezes, somos ousados e queremos trocar de lugar com Ele, determinando para a nossa vida quereres que não sabemos onde vai dar, apenas voltados para uma satisfação individual, curta e falsa. Buscamos dar um jeitinho, procuramos tapar o sol com a peneira ou nos iludir, acreditando que estamos dominando a situação. Essa sensação de poder alimenta o nosso ego, mas não suporta o peso das consequências. Aqui chamamos a atenção para a tentação e o perigo do poder, da arrogância, das facilidades e a da autossuficiência.
Deus vai nos permitindo retomar a nossa vida e, sempre ao nosso lado continua nos enviando mais oportunidades de reconciliação, para que possamos enxergar de que forma estamos nos posicionando diante do Seus ensinamentos, e pacientemente Ele vai oferecendo estes recursos, até que possamos nos dar conta dos caminhos tortuosos que estamos percorrendo. Quando nos remetemos à Maria, quando falamos de simplicidade, de humildade, não idealizamos uma pobreza de espírito, nem uma humildade passiva que a tudo se permite. Deus não quer de nós excessos. Ou seja, não é instrumento de Deus uma justiça agressiva ou uma pobreza combativa, nem tampouco uma humildade acomodada. O nosso movimento diante das práticas deve ter uma força teológica, que valorize e estimule o crescimento interior, que transfigure a face de Jesus em nossas ações, que apresente uma humildade atuante, que se coloque sob o temor do Pai. Note-se que a palavra temor não deve representar medo, mas consideração, respeito e obediência.
E deixando um recado especial para as mulheres que são mães e para todos os filhos, sabemos a importância de uma mãe em nossa vida. Se reservamos para a nossa mãe um sentimento tão especial, imaginemos a relação entre Maria e Seu Filho. Ela não só passou por todos os percalços para criá-lo, mas precisou defendê-lo e educá-lo enquanto não estava pronto para falar do Seu Pai. Mais ainda, passou pela dor da morte, da humilhação, do escárnio. Quem ama a Jesus, teria como não amar a sua mãe? Santa Isabel já sentia quão grande era aquela mulher, e para ela era uma honra receber a sua visita. Neste trecho de hoje Maria e sua prima Isabel demonstram atitudes que devemos ter, principalmente no que se reporta às nossas ações. Que possamos contemplar este acontecimento e que nos deixemos envolver por uma fé mais dinâmica, que seja ressaltada pelo fazer de coração, sem retorno, apenas por amor ao Pai.
Malena Andrade – Psicóloga assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau