“Eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações” (At 2,42).
Nesta frase, encontramos a palavra perseverança. Se continuarmos a leitura, veremos que todos viviam em comum e abraçavam a fé.
Essa expressão nos remete ao passo anterior, onde pudemos compreender o sentido da CONFIANÇA, o que nos leva a confiar e como devemos proceder se realmente confiamos, pois como já disse anteriormente, confiar é um exercício diário.
Lembra que falamos que “Confiar em Deus também requer esforço e ação? É baixar a guarda, diminuir a resistência, aceitar humildemente este encontro com Deus, ceder às suas palavras e permitir ser mudado.
Quando acreditamos e desejamos esta mudança, a probabilidade de acontecer esse encontro com Deus é mais rápida e para que Ele possa realmente tocar em nosso coração é preciso que a gente se aproxime.
E é confiando que podemos realizar essa entrega, porque sendo a confiança verdadeira, por completo, a entrega torna-se naturalmente o passo seguinte, que é o momento em que a gente se deposita, se deixa envolver de corpo e alma pela plenitude do Senhor.
Mas como abraçar a fé? O que significa dizer isso, se é algo que não podemos tocar?
Muitas vezes confundimos a fé com algo que deve ser explicado ou compreendido. Mas a fé só pode ser interpretada pelo próprio Deus. Só o Senhor nos conhece a ponto de compreender sobre a nossa fé, porque só Ele nos conhece o suficiente.
Mas, isso não quer dizer que não devemos nos comprometer com a nossa fé. Fé é CRENÇA. E só podemos confiar e nos entregarmos se realmente a gente acreditar. Acreditar o suficiente para se deixar envolver pelo amor que CRISTO nos ensinou e mandou propagar.
A nossa fé se revela na entrega. É aí que a gente se torna pronto para enfrentar os desafios sem hesitar ou recear o que possa vir pela frente. No texto de Atos dos Apóstolos diz que ‘todos abraçavam a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas.”
Se trouxermos essa fala para os dias de hoje, temos como dizer que somos unidos a uma comunidade cristã e partilhamos com ela os nossos anseios? Ou estamos sozinhos no dia-a-dia, cada um vivendo a sua dificuldade, onde não temos espaço para alentar as dores, apenas os ouvidos de alguns companheiros de jornada de trabalho que também tem o seu dia bem puxado e não tem como te dar uma palavra mais acolhedora?
Conheço uma pessoa que me falou outro dia que quando era criança, seu pai era uma pessoa que vivia em função da sua comunidade cristã e que era criticado por isso por algumas pessoas, principalmente pelos familiares, pois acreditavam que estava fazendo papel de bobo, já que não viam retorno.
Pensei: faltou esta pessoa transmitir aos seus filhos toda a fé que tinha? Ou o mundo ensinou para eles que devem viver um tempo de individualidades?
Hoje em dia vivemos muito essa condição, que é a de voltar os olhares apenas para os benefícios próprios, valorizando exclusivamente o retorno financeiro. Dessa forma, fica difícil nos dedicarmos a essa fidelidade. Mas fica difícil apenas se não queremos. Querer é a peça chave. Ser fiel é uma questão de querer. De querer dedicar-se, de estar disponível para esse amor, de admitir-se insuficiente diante das dores que o mundo nos impõe e buscar encontrar o caminho do bem maior.
Quando a leitura fala em freqüentar o Templo e que lá partilhavam o alimento com simplicidade e alegria, certamente estavam falando do alimento que nutre a alma. E que assim, mais pessoas se juntavam ao aceitarem a salvação.
A salvação também cabe à nós. Ao vivenciarmos este passo, depois de admitirmos o quanto precisamos mudar, e se acreditamos que podemos fazer outras escolhas, teremos então condições de fazermos parte desse Programa de Vida que nos liberta dos nossos vícios e nos mostra uma nova maneira de viver, sem as falhas que insistentemente repetimos.
É neste passo que também devemos entregar todas as dificuldades, aquilo que nos impede de sermos uma pessoa melhor. Humildemente, devemos reconhecer nossas fraquezas e depositá-las nas nossas orações, pedindo que o Senhor possa nos orientar, nos ajudar a carregar a nossa cruz. A nossa fé depende desse laço que firmamos nas nossas orações. Se as dificuldades batem à nossa porta, que a gente tenha discernimento para não baixar a cabeça.
O VÍCIO NOS LEVA À MORTE. Devemos permanecer firmes no nosso propósito. E se entregamos a nossa vida nas mãos de Deus, Ele não vai nos perder de vista. Às vezes, somos nós quem colocamos a nós próprios em risco, pois sabendo que somos fracos, ainda assim, nos precipitamos, nos arriscamos, e terminamos nos arrebentado mais uma vez.
Quando pedimos a alguém em quem confiamos que resolva algo, permanecemos tranqüilos, porque temos a certeza de que o problema vai ser resolvido. Por isso, não importa quanto tempo passe, devemos sempre nos depositar no Senhor, que Ele agirá sobre nós. Nem sempre da forma como nós queremos naquele momento, é verdade, mas da forma que será melhor para nós. Deus em Sua sabedoria nos dá o cobertor adequado ao nosso merecimento e na maioria das vezes só conseguimos enxergar tudo isso bem depois.
Tenho certeza que não estamos sozinhos, que acompanhando essa vivência dos doze passos da sobriedade, podemos caminhar ainda mais com firmeza e perseverança, pois é o próprio JESUS quem está nos dando sustentação. JESUS nos convida a aprender com Ele. Propõe-se a aliviar nosso fardo e nos restabelecer, tornando-nos inabaláveis. Com a Sua presença em nossa vida, alcançaremos redenção.
Este é o momento de entregar-se por completo. Temos a certeza de que o Senhor ouve o clamor do seu povo sofrido. Na sua misericórdia infinita Ele acolhe e atende as nossas orações. Firmes nessa convicção, devemos entregar todos os nossos anseios, nossas dúvidas, nosso pensar, nosso agir, para que possamos sentir a Sua infinita bondade e entregues de corpo e alma possamos beber da Sua fonte de amor e então matar a sede das nossas angústias, libertados de todos os vícios, SÓ POR HOJE.
Texto e imagens: Malena Andrade – Psicóloga Assessora da Pastoral da Sobriedade da Diocese de Blumenau