Uma editora italiana lançou um livro com normas de comportamento para os fiéis: “Um pouco de etiqueta não faz mal”. São orientações para os que forem participar de atos religiosos. Dessas orientações, escolho algumas. Os comentários são meus.
1ª) “Cuide da casa de Deus como se ela fosse a sua casa.” Nossas igrejas são construídas com a colaboração de toda a comunidade. Quem já participou de uma comissão de construção sabe quanto sacrifício é necessário até se chegar à sua inauguração. Também a manutenção de uma igreja exige muita atenção e gastos. Por isso, cuidar do que foi conseguido com muito trabalho é um respeito para com os que colaboraram, além, é claro, de ser uma demonstração de atenção para com uma obra que passou a ser consagrada ao Senhor.
2ª) “Quando entrar numa igreja, cumprimente o dono da casa.” A casa do Senhor é uma casa de oração. Não entramos nela para nos desligar das preocupações do mundo; entramos ali para levar ao Senhor nossas preocupações e colocá-las em suas mãos; entramos para louvá-lo e agradecer-lhe os dons recebidos; ou, humildemente, para pedirmos seu perdão por nossas infidelidades. Na igreja, o Senhor deve ser o centro de nossas atenções.
3ª) “Vista-se com decência, quando participar de uma cerimônia religiosa.” Deveria ser óbvio, mas para algumas pessoas não o é: nem toda roupa é adequada para qualquer lugar. Ninguém vai à praia de “smoking” nem ao cinema em trajes de banho. Há roupas que podem ser adequadas para uma festa de aniversário, mas não servem para se ir a um velório. Um pouco de bom senso (e de respeito!) não faria nada mal, quando se trata de pensar na roupa a ser usada em uma celebração religiosa – em casamentos, inclusive!
4ª) “Procure chegar na hora certa!” Normalmente, as celebrações começam na hora marcada. Esse “normalmente” vai por conta dos casamentos, cujos horários acabam dependendo das noivas (leia-se: cabeleireiras, arrumadeiras etc.). Para uma boa participação, é importante a concentração. Chegar antes é garantir a possibilidade de um tempo para a oração pessoal. Nesse ponto, um pouco de organização da própria vida só trará benefícios para a fé.
5ª) “Participe ativamente de todo o ato religioso.” As celebrações são expressões da oração comunitária. Jesus nos garantiu sua presença quando duas ou três pessoas se reunirem em seu nome (cf. Mt 18,20). Imagine-se a força de sua presença quando formos quinhentos, mil ou dois mil. Por isso, é importante nossa expressão de unidade com todos os que estão ali conosco, naquele momento de prece.
6ª) “Tome conta das crianças, para evitar que elas perturbem muito.” É bom, é muito bom levar as crianças para a igreja. Elas têm uma incrível capacidade de relacionar-se com Deus – basta que alguém as eduque para isso. Que elas nem sempre se sentem à vontade em uma celebração, também é normal. O que não convém é permitir que elas, sistematicamente, distraiam os que estão em sua proximidade. Afinal, são simpáticas, bonitas e engraçadinhas, e prendem mais a atenção do que o melhor orador, mesmo que sacro…
7ª) “Terminada a celebração, colabore com o clima de concentração e oração do ambiente.” Quantas pessoas, terminada a missa ou outra celebração, gostam de ficar na igreja. E isso é bom! A igreja tem o dom de facilitar a oração e, num mundo tão dispersivo com o nosso, é importante que se aproveite ao máximo as oportunidades que nos forem concedidas para momentos assim. No Templo de Jerusalém, Jesus lembrou as palavras do Salmista: “Minha casa é uma casa de oração” (Mt 21,13).
8ª) “Lembre-se de desligar o celular antes de começar a celebração!” Preciso fazer algum comentário?… Não preciso, mas aproveito para fazer uma pergunta: Há algo que distrai (ou irrita) mais, em uma celebração, do que o toque de um celular?…
Em síntese: uma celebração religiosa não é apenas um ato religioso; é, também, um ato social. É possível que, lendo essas regras de etiqueta, você pense em outras que poderiam ser acrescentadas. Se for o caso – e tiver a sua colaboração! – voltarei ao assunto…
Dom Murilo Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil