Nesta passagem do Evangelho de Mateus, Jesus prepara os discípulos para a sua volta definitiva e inesperada, que os pegará de surpresa.
Também naquela época histórica havia muitas dificuldades, guerras, sofrimentos de todo tipo. Para o povo de Israel, a esperança se baseava na intervenção do Senhor, que haveria de pôr fim às lágrimas. Por isso, a espera não era motivo de sobressalto, mas, pelo contrário, de alívio, era vista como tempo da salvação.
Neste ponto, Jesus nos indica um grande segredo: viver bem o momento presente porque Ele mesmo voltará, enquanto estivermos trabalhando, ocupados com as tarefas normais do nosso dia a dia, durante as quais muitas vezes nos esquecemos de Deus, por estarmos preocupados demais com o amanhã.
“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”
Vigiar: é um convite para manter os olhos abertos, para reconhecer os sinais da presença de Deus na história, no dia a dia, e ajudar outros, que vivem nas trevas, a encontrar o caminho da vida.
A incerteza a respeito do dia exato da chegada de Jesus põe o cristão numa atitude de contínua espera; encoraja-o a viver o momento presente com intensidade, amando hoje, não amanhã; perdoando agora, não depois; transformando a realidade neste momento, não quando encontrar tempo na sua agenda cheia de compromissos.
Meditando essa frase, Chiara Lubich escrevia: Já observou como geralmente você não vive a vida, mas vai arrastando-a na espera de um “depois” que deveria lhe trazer a “felicidade”? Na verdade, um “depois-feliz” realmente há de chegar, mas não é aquele que você espera. Um instinto divino faz você esperar por alguém ou por alguma coisa que possa satisfazê-lo. Talvez, então, você pense nos feriados, ou no tempo livre, ou num encontro especial, no fim dos quais, porém, você não fica satisfeito ou, pelo menos, não plenamente. E volta a monotonia de uma existência vivida sem convicção, sempre na expectativa. A verdade é que, entre os fatores que compõem também a sua vida, existe um do qual ninguém pode escapar: é o encontro frente a frente com o Deus que vem. É essa a “felicidade” pela qual você inconscientemente anseia, pois você existe para ser feliz. E a felicidade plena é somente Deus que lhe pode dar.1
“Vigiai, portanto, pois não sabeis em que dia virá o vosso Senhor.”
O Senhor Jesus virá com certeza no fim da vida de cada um, mas desde já podemos reconhecê-lo realmente presente na Eucaristia que vamos celebrar e partilhar, na sua Palavra que vamos escutar e viver, em cada irmão e irmã que vamos acolher, na sua voz que fala na consciência.
Desde agora a vida nos apresenta muitos desafios; e nos perguntamos: “Quando acabará todo esse sofrimento?”.
Não podemos ficar aguardando passivamente uma intervenção do Senhor: cada momento deve ser aproveitado para antecipar o Reino de Deus, o seu desígnio de fraternidade. Cada pequeno gesto de amor, toda gentileza, todo sorriso doado transforma a nossa existência em uma espera contínua e fecunda.
Padre Paco é capelão em um hospital na Espanha. São muitos os enfermos idosos, que às vezes sofrem de graves doenças degenerativas. Ele conta: Ao bater à porta do quarto de um paciente idoso, que muitas vezes vociferava contra a fé, tive um momento de hesitação; mas eu ainda queria testemunhar a ele o amor de Deus. Entro com o sorriso mais alegre possível. Falo com todo o carinho, explico a beleza dos sacramentos. Pergunto se deseja recebê-los. Ele me responde: “Certamente!”. Depois de confessar-se, recebe a Eucaristia e a Unção dos enfermos. Permaneço ainda algum tempo com ele. Quando me despeço, ele está sereno, e a filha, presente, fica pasmada.
Letizia Magri