Segunda-feira, 07 de fevereiro de 2011, 09h41
Da Redação, com Agência Fides
"A situação melhorou muito", afirma o missionário comboniano que trabalha há anos no Cairo, padre Luciano Verdoscia, sobre a situação sócio-política do Egito.
"Em 4 de fevereiro, o exército deu passos significativos, bloqueando a estrada de acesso aos provocadores de Praça Tahrir (onde estão reunidos os manifestantes). Os manifestantes organizaram uma ordem de serviço muito eficiente a partir de uma estrada paralela menor. Dali desceram à praça. […] Eu desci entre os manifestantes", disse padre Luciano à Agência Fides.
"Antes de entrar na praça, encontrei centenas de jovens, provavelmente reunidos não se sabe por quem, mas certamente por simpatizantes do regime. Pelo que eu vi, tive a impressão de que eles são garotos muito jovens, manipulados por pessoas que querem preservar o regime. […] Passei por este grupo em uma rua lateral e entrei em contato com o serviço da ordem dos manifestantes. Depois de apresentar os documentos e me submeter a uma perquirição me deixaram entrar na praça. Devo dizer que tudo correu de forma calma e gentil. Quem efetuava os controles eram pessoas boas. […] Falei com vários manifestantes: a maioria é jovem, com menos de 40 anos. Os adultos devem ser 30%, existem cristãos e muçulmanos. A atmosfera era alegre, até mesmo os slogans irônicos e bem-humorados contra o Governo. Todos puderam expressar suas opiniões e as discussões eram educadas. Pelo que eu vi e ouvi, percebi que as pessoas têm as ideias muito claras: as pessoas querem ir além do regime. As divisões, que estão presentes até mesmo na sociedade egípcia, vão surgir mais tarde, mas agora se deseja virar a página", relata.
O missionário explica porque desceu à Praça Tahrir, onde estão concentradas as manifestações contra o regime do presidente Mubarak, no poder desde 1981: "Entrei para entender a composição e a realidade da praça. Estavam os feridos pelo lançamento de pedras, atendidos pelos médicos e enfermeiros voluntários, num clima de forte solidariedade. Posso dizer que vi o melhor do Egito. No Egito existem tantas pessoas educadas, gentis, corajosas. Espero que deste processo seja este Egito a emergir, porque o Egito determinará o futuro de todo o Oriente Médio”.