O Brasil é realmente um país urbano. Segundo dados do IBGE, no censo de 2000, 81,2% da população brasileira vive nos centros urbanos. Esta estatística, há tempos, vem preocupando a Igreja que não cessa de falar da necessidade de renovar seu método de evangelização através de uma pastoral urbana que responda aos desafios apresentados pelo complexo mundo das cidades.
Reunidos em Aparecida (SP), no ano de 2007, os bispos da América Latina e Caribe reafirmaram esta preocupação da Igreja e convocaram as dioceses a enfrentarem de frente o desafio da Pastoral Urbana.
No Brasil, a CNBB está levando a proposta a sério. Num seminário realizado pelo Instituto Nacional de Pastoral (INP), aberto na quarta-feira, 4, em Brasília, os assessores da CNBB e os secretários executivos dos Regionais da CNBB, além de convidados, se debruçaram sobre as grandes questões que envolvem o mundo urbano e ação pastoral que nele se deve desenvolver.
Segundo a geógrafa Maria Adélia Aparecida de Sousa, uma das conferencistas do Seminário, o maior desafio da ação pastoral da Igreja é responder à pergunta que os bispos fizeram na Conferência de Aparecida: “Como pode a Igreja contribuir para a solução dos urgentes problemas sociais e políticos e responder ao grande desafio da pobreza e da miséria?”.
Para Adélia, é difícil cuidar da pastoral urbana apenas estudando e agindo na cidade. “O modo de vida urbano hoje invadiu o campo, ou seja, esse mundo tornou-se totalmente dependente do modo de vida e de relações urbanas, possibilitado pela acessibilidade cada vez maior de todos aos objetos técnicos disponíveis e que lhes permitem obter informações e estar absolutamente inseridos na dinâmica do mundo”, esclareceu.
Choque de reparoquialização
O teólogo padre Joel Portela Amado afirmou que a mobilidade é uma categoria importante para a compreensão das atuais cidades e isto “coloca em cheque leituras e soluções de caráter predominantemente fixista e estático”. “Acostumada a um modelo de cidade mais fixista e com baixos índices de mobilidade, a ação evangelizadora não consegue assumir a ruptura entre espaço fisicamente delimitado e espaço socialmente significado”, disse.
Padre Joel defendeu que é preciso rever o conceito de território paroquial a partir das novas exigências da realidade urbana. Segundo afirmou, a concepção de paróquia como um espaço territorial, que não considera a mobilidade característica das cidades, “tem levado as paróquias, do jeito como elas se compreendem e organizam atualmente, a uma espécie de esgotamento”. Há necessidade, portanto, de novas estruturas pastorais.
A solução, segundo o teólogo, é passar por um “choque de renucleação, reparoquialização”. “Não seria o caso de se pensar a Igreja nas grandes cidades a partir de diversas formas de configuração territorial, formas que incluam o território fisicamente considerando, mas também o espaço não fisicamente circunscrito?”, questiona. Para ele, tanto uma forma como outra têm as mesmas exigências eclesiológicas: “a fé, a comunhão de vida, a celebração e a missão”.
O seminário termina hoje e as reflexões dos conferencistas serão publicadas pelo INP. Segundo o diretor do INP, padre Agenor Brighenti, a idéia é fazer com que as lideranças estudem os textos em vistas de um novo seminário sobre a Pastoral Urbana no ano que vem com data ainda a ser confirmada.
Site CNBB, 06/11/2009