Solenidade de Pentecostes
1ª Leitura: At 2,1-11
2ª Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13 ou Gl 5,16-25
Evangelho: Jo 20,19-23
“ESPÍRITO SANTO ENCHE-NOS DE TI MESMO”
Neste final de semana celebramos a solenidade de Pentecostes. Depois de 50 dias de alegria pascal é ora de colher as primícias, os primeiros frutos, os dons, carismas, serviços e prodígios que fazem com que a Igreja de Cristo seja sempre uma esposa bela e ornada para seu Senhor.
Pentecostes na liturgia cristã é isto: festa da Igreja! De seu nascimento no tempo, daquela que ‘ao ouvir a voz do amado’ (Cristo), sente que já é hora de ‘levantar-se’ (Ef 5,14) e correr com alegria a seu encontro!
Pentecostes e Páscoa do Senhor celebram na realidade mistérios semelhantes! Na ressurreição é Cristo que se ergue da “morte”. Nele a “cabeça” se ergue, para estar à direita do Pai. Em Pentecostes é a hora e a vez de todo o “CORPO” levantar-se também de seu sono! Como o corpo que levanta-se à chegada do ‘Esposo’, todos nós seus membros somos a partir de agora chamados a ‘acordar’ dos “sonos de morte” que nos adormecem e impedem de ver e tocar os frutos que o dom do Espírito concede a Igreja nesta feliz solenidade! “Ora vos sois o corpo de Cristo e sois seus membros, cada um por sua parte” (1Cor 12, 27).
Na liturgia deste domingo é nítida a alusão a Igreja em todas as leituras:
O livro dos Atos dos Apóstolos nos traz a efusão do Espírito Santo, com muitos sinais extraordinários: O vento, as línguas de fogo, os povos de todas as nações conhecidas, e todos no ‘mesmo lugar’ e na mesma ‘casa’! São dois símbolos importantes para esta solenidade: Apontam para um dos dons mais ricos do Espírito: A UNIDADE! E a unidade é também um dos nomes da Igreja Católica; ela deve ser ‘santa, apostólica, mas sempre una’. “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo, diversidade de modos de ação, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1Cor, 12,4-6)
No Pentecostes de Atos dos Apóstolos, sobressaem os muitos carismas do Espírito: o vento impetuoso, as línguas de fogo sobre as cabeças dos discípulos, o dom das línguas! Mas os dons extraordinários não se elevam sobre a unidade, fruto maior do Espírito de Deus: “Não são acaso galileus todos esses que falam? Como é, pois, que os ouvimos falar, cada um de nós, no próprio idioma” (At 2,7); E ainda o apóstolo Paulo com maior ênfase diz: “aspirai aos dons mais altos… ainda que eu falasse línguas as dos homens e as dos anjos, se eu não tiver caridade, seria como bronze que soa…” (1Cor, 13, 1). Os dons e carismas que não por nossos méritos, mas por pura graça, recebemos no dia de Pentecostes, são importantes, movimentam a Igreja, reforçam a evangelização, dotam os fiéis com os tantos dons do Espírito de Deus, mas estão a serviço do corpo de Cristo que é sua Igreja!
Outro aspecto importante que aponta a dimensão eclesial desta liturgia se dá em um verbo que ora aparece em At 2, ora no Evangelho. O verbo “ENCHER” é próprio do Espírito. Ele remete a noção de preenchimento do que antes podia estar vazio, mas também de plenitude, de graça e de vida: “se retiras tua respiração eles expiram voltando ao pó, envias teu sopro e eles são criados e renovas a face da terra” (Sl 104, 20)
Em Atos: “encheu toda a casa”, e “ficaram repletos do Espírito Santo” (At 2, 2;4). Esta casa, oikos, na língua grega ou domus na latina, era o nome da Igreja. Oikos, era o símbolo da comunhão, enquanto domus, as casas onde na Igreja primitiva se encontravam os cristãos para celebrar os mistérios!!! E ela, a Igreja, agora é cheia do Espírito e preenche da graça os que receberam o batismo!
No Evangelho de João de novo percebemos a ideia da casa!! Os discípulos estão reunidos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,24). Ou em outro momento: “No primeiro dia da semana, estando fechadas as portas por medos dos judeus” (Jo 20,19)! Portas fechadas evocam claro o medo da perseguição, mas podem significar também muitas portas que estão fechadas em nós mesmos e temos medo de abri-las. PORTAS FECHADAS lembram medo, isolamento, falta de perdão, egoísmo e egocentrismo de não querer abrir-se a graça de Deus e consequentemente aos outros. Esta não é uma bela imagem da Igreja! A Igreja é a casa aberta, que celebra e vive a unidade! Todos nós sabemos que ainda existem portas e quartos fechados em nossa vida que se não tratarmos de abri-los para o Senhor poderão com o tempo fazer-nos muito mal! Cristo entrou onde os discípulos estavam! E em lugar do medo, nasceu a paz! A reação dos discípulos foi uma imensa alegria, como em Pentecostes, “cheios de vinho doce” (At 2,13)
CHEIOS SIM, MAS DO ESPÍRITO! Ele é a alegria que nos chama nesta solenidade a abrir as portas e deixar que o Espírito nos preencha dele mesmo! Ele é o nosso DEFENSOR (Jo 14,26) “Que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos tenho dito”.
Quais as portas da sua vida que ainda estão trancadas? Que medos ainda nos paralisam? De que sonos de morte não queremos acordar? Deixe o Senhor soprar sobre você o seu Espírito!!! E abra as portas e janelas para que o amor de Deus lhe faça uma nova criatura!
Pe Osmar Debatin