Solenidade da Assunção de Nossa Senhora: “FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU” (LC 1,45)
(Ap 11,19 a; 12, 1-6,10b; 1 Cor 15,20-27; Lc 1,39-56)
Neste final de semana celebramos a festa da Assunção de Nossa Senhora!! O dogma nos ensina que Maria foi assunta (elevada) em corpo e alma aos céus!! A palavra assunção tem sua origem no verbo latino “assumptio”, e muito bem designa o sentido do mistério que neste domingo celebramos: Assumptio significa, é claro, subir, ser elevado, mas indica também, assumir, tomar para si! Nisto encontramos na Mãe do Senhor talvez nosso mais sublime exemplo! Ela assumiu de forma plena estas duas dimensões pela qual foi elevada mais tarde! O corpo e a alma, na mãe do Senhor, dimensões que muitas das vezes tratamos como dicotômicas e históricas inimigas, se integraram na Mulher (Gn 3,15ss) e se tornam caminho possível para todo gênero humano!
A liturgia da Assunção, com muita propriedade, nos deve convidar a olhar o alto: “Se pois ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto, onde Cristo está à direita de Deus” (Cl 3,1)! Mas esta solenidade não se limita a apontar para uma assunção que começa de baixo! Começa com outro mistério: encarnação do Senhor! É exatamente no sim acolhedor de Maria que se abre a possibilidade de “subida” para toda a humanidade: Santo Irineu de Lion foi o primeiro teólogo que apresentou o lugar de Maria no contexto da salvação humana: “Obedecendo, se fez causa de salvação tanto para si como para todo o gênero humano”; e ainda Irineu: “O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que Eva havia ligado pela incredulidade, a virgem Maria desligou pela fé” (Santo Irineu, in LG 633)!
O sincero desejo de subirmos em direção a Deus, “aos céus”, com Maria, não se constrói em uma espiritualidade que esconda aspectos que pareçam sombrios em nossa vida e por isso não assumidos! A Assunção de Maria, pelo contrário, diz que este caminho é possível! Pois joga nosso foco e esperança para a Ressurreição, sem que precise ser negado em nenhum momento as sombras, as cruzes, e até mesmo os pecados que nossa condição carrega consigo: “Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (…) Como todos morreram em Adão, em Cristo todos receberão a vida” (1Cor 15,20ss): “Comparando Maria com Eva, chamam-na de ‘ mãe dos viventes’; e com frequência afirmam: ‘Veio a morte por Eva e a vida por Maria’ (CIC, in Irineu de Lion, 633).
As leituras deste final de semana nos apontam ainda mais para o mistério que celebramos: O evangelho de (Lc 1,39-56), narra a visita de Maria a sua prima Isabel! A narrativa começa falando de uma subida: “Naqueles dias Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa a uma cidade de Judá”. A subida da mãe de Nosso Senhor (Lc 1,43), recorda-nos tantas outras: A de Abraão no Moriá (Gn 22,1-18), a de Moisés (Êx 3ss), de Elias no monte Horeb (1Rs 19ss), enfim a montanha sempre foi o lugar das profundas experiências com o Senhor! Maria sobe para visitar sua prima Isabel que como ela estava grávida! Ela, às pressas, sobe para servir! A experiência com o alto em Maria se faz no serviço, como sempre foi em sua vida, atualiza a resposta que antes havia dado ao anjo: “eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38)! E no monte da cruz de seu Filho, outra vez se faz serva como mãe da nova humanidade: “Filho eis tua mãe” (Jo 19,25)!
Após o diálogo entre Maria e Isabel, recordando a unidade entre Antiga e Nova Aliança, Isabel faz uma das afirmações mais contundentes sobre a mãe do Senhor: “Feliz é aquela que acreditou, pois o que foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,43).
Maria é a mulher que acreditou! Esta é uma informação importante para esta solenidade! Mas em que coisa crê Maria para que por meio dela a humanidade retome a direção do Senhor e suba com ela aos céus? Ela “Acreditou que o Senhor faz grandes coisas por mim” (Lc 1,49). E é testemunha pessoal da maior delas: “e o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14)! Mas continua acreditando que o Senhor manifesta a força de seu braço exatamente em nossas contradições e sombras!
O hino Magnificat é um belíssimo testemunho da força de Deus em nossas fraquezas! Por isso Isabel proferiu: Feliz é aquela que acreditou! Em Maria e a partir dela na humanidade redimida por seu Filho, a promessa do Magnificat se concretiza, a cada momento no Corpo de Cristo! A solenidade da Assunção começa, quando Maria reconhece que “meu salvador olhou para a humilhação de sua serva” (Lc 1,48)! De que dispersou os homens de coração orgulhoso, e eleva os humildes, que depõe os poderosos de seus tronos, de que cumula de bens os famintos e despede ricos de mãos vazias (Lc 1,53)! Existe no cântico de Maria uma oposição que revela o coração de Deus! E que ela tão profundamente soube entoar! É a revelação de uma solidariedade amorosa do Senhor com as realidades fragilizadas da vida humana que integradas e oferecidas, tornam-se o lugar onde Nosso Senhor pode manifestar a força de seu braço!: “Por isso de boa vontade me gloriarei de minhas fraquezas, afim de que repouse sobre mim o poder de Deus” (2Cor 12,7).
O cap. 12 do Apocalipse de São João reforça ainda mais a força de Deus na aparente fragilidade da mulher! Começa narrando dois sinais que curiosamente aparecem no céu: “uma Mulher vestida de sol, tendo a lua sob seus pés e sobre a cabeça 12 estrelas” (Ap 12,1). Texto de um simbolismo belíssimo: A mulher vestida de sol, é a Igreja vestida de Cristo, vestida do “Sol invencível” o nome de Cristo na Igreja primitiva!
A coroa de 12 estrelas lembra os mártires (os 12 apóstolos) que coroam a Igreja com sua fidelidade! Eis a força da mulher!
O outro sinal é tremendo e poderoso: “Um grande dragão, cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres que com sua cauda arrastava um terço de estrelas do céu” (Ap 12,3)! No entanto o autor do livro do Apocalipse afirma que o dragão parou na frente da mulher (Ap 12,4), que está para dar a luz!
Aos olhos humanos o dragão parece ser muito mais forte que a mulher! Mas ela é vestida de sol! Eis sua armadura! Eis a nossa: “ revesti-vos da armadura de Cristo, para poderdes resistir às insídias do diabo, pois nosso combate não é contra sangue ou carne (…) mas contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que povoam regiões celestiais (…) deves vestir a armadura de Deus” (Ef 6,12)!
A força da “mulher” é ser revestida de Cristo! Nossa força também! O combate da “mulher” é contra muitas potencias: espirituais e materiais! O nosso também! O dragão parece ser muito mais forte, deseja devorar seu filho! (Ap 12,5). Mas parou diante da “mulher”! Este filho somos nós! Sempre gerados na Igreja e no ventre de Maria!
Os dragões que combatemos são muito fortes! Alguns fora de nós, forças espirituais que querem devorar a presença de Deus em nossa vida: Ferir nossa santidade, nossa busca, nossos jovens, nossas famílias, nossas vocações enfim, são inúmeros os dragões! Existem alguns dentro de nós! São tremendos também! Mas estes podem estar do nosso lado. Podemos até mesmo aprender com eles! E a partir deles, enfrentar com mais serenidade os que estão fora! Parecem indomáveis, mas se postos à luz de Cristo se tornam caminho de nossa subida aos céus!
Maria os enfrentou! Ela era sem pecado sabemos, mas integrada na sua fé! A vida que levou com José testemunha isso. Que corpo e alma, luz e sombras, podem ser integrados, que dragões de fora e de dentro poderão ser enfrentados! Que as fragilidades assumidas são as reais subidas às montanhas do Senhor!
Que nesta solenidade da Assunção, não tenhamos medo de nossas fraquezas nem de dragões! Eles param diante da mulher vestida de sol! Você também foi revestido de Cristo! Este sol da justiça também o iluminou! Viva como filho da luz e não mais de trevas! E juntos subamos com Maria a montanha mais alta! A montanha do Senhor!