Em outubro de 2012 será realizada a 13ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Roma; o tema já escolhido pelo papa Bento 16 é: “Nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. A partir de um primeiro texto contendo linhas gerais para a abordagem do tema, chamado “Lineamenta”, as conferências episcopais do mundo inteiro agora estão sendo chamadas a dar suas contribuições, para que seja produzido o “Instrumento de Trabalho” para a assembleia sinodal.
A questão da nova evangelização torna-se cada vez mais relevante em nossos tempos e, por isso mesmo, o papa Bento 16 instituiu o Pontifício Conselho para promover a nova evangelização em todo o mundo, mas sobretudo nos países e lugares de antiga evangelização, onde a fé cristã está passando por sérias dificuldades, correndo até mesmo o risco de desaparecer.
Tal preocupação não é nova e já foi um dos motivos mais importantes da convocação do Concílio Vaticano 2º, cujos 50 anos serão comemorados a partir de 2012. As Conferências Gerais do Episcopado da América Latina, principalmente as de Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007), também tiveram esta mesma preocupação; e as assembleias continentais do Sínodo dos Bispos, na preparação para o Grande Jubileu, enquanto faziam uma avaliação dos frutos já produzidos em 2000 anos de pregação do Evangelho, eram igualmente motivadas pela busca de novos caminhos para a evangelização.
A Igreja no Brasil, através de sucessivas iniciativas da CNBB, sobretudo das Diretrizes Plurianuais da Ação Evangelizadora, dos Projetos Nacionais de Evangelização e dos constantes estímulos à pastoral de conjunto, tem buscado cumprir a sua missão de evangelizar. A próxima Assembleia Geral da CNBB, a iniciar amanhã, em Aparecida, mais uma vez vai concentrar seus esforços na elaboração das Diretrizes Gerais, que deverão orientar a ação evangelizadora nos próximos anos.
A “nova evangelização” decorre do próprio mandato de Cristo aos Apóstolos: “Ide por todo o mundo, fazei discípulos meus entre todas as gentes”; é Deus que deseja que a Boa Nova chegue a todos; por isso, é um direito de cada ser humano conhecer o Evangelho e ser por ele iluminado na vida. Mas “como crerão naquele, de quem nunca ouviram falar? E como ouvirão falar, se não houver que anuncia?” (Rm 10,14). A evangelização há de ser sempre “nova” e expressar o esforço constante da Igreja no cumprimento de sua missão primordial: anunciar o Evangelho a todos os povos, sempre e por toda parte.
É uma obra nunca concluída. Grande parte da humanidade ainda não recebeu o anúncio do Evangelho; e onde, em tempos passados, ele foi anunciado e a vida cristã chegou mesmo a ser florescente, será preciso retomar sempre de novo o processo de transmissão da fé; em vários momentos da História foi necessária uma verdadeira retomada da evangelização quando, por motivos vários, a fé e o fervor cristão arrefeceram, ou até mesmo se desvirtuaram em função de desvios e falsas doutrinas.
Além disso, o cristianismo convive com outras tendências religiosas, que podem atrair os próprios cristãos e católicos, quando a sua fé não é bastante esclarecida e cultivada; e também convive com modos de vida pagãos, que São João qualificaria como sendo “do mundo” e São Paulo atribuiria “ao homem velho”, ainda escravo de seus vícios e paixões… O anúncio do Evangelho deve iluminar todas essas realidades, para que sejam transformadas sempre mais, de acordo com o reino de Deus.
A próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos, em 2012, vai confrontar-se especialmente com os cenários atuais da evangelização, com as novas tendências culturais, que por vezes se fecham e até se opõem às convicções e aos valores cristãos; por outro lado, a nova evangelização deverá suscitar na própria Igreja uma autêntica conversão pastoral e missionária, como convidou a Conferência de Aparecida, do Episcopado da América Latina e do Caribe; já não é mais possível fazer uma pastoral apenas de conservação da vida eclesial, mas é necessário “lançar as redes em águas mais profundas” e ter em conta os vastos horizontes da missão, ainda não atendidos suficientemente.
De maneira especial, a Igreja de Cristo precisa tomar consciência, de forma renovada, de que o dom do Evangelho não pode ser retido para si, por aqueles que já crêem, mas precisa ser compartilhado com os outros, como um bem precioso que Deus, através dela, quer fazer chegar a toda a humanidade. A transmissão da fé é decorrência da autenticidade da fé e da alegria de crer. Da nova assembleia sinodal espera-se uma decisiva retomada do processo evangelizador em toda a Igreja.
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo metropolitano de São Paulo