2024-04-19 Seminário Ecumênico Reúne Diversas Igrejas
Trinta e duas pessoas, membros de sete Igrejas do nosso Estado de Santa Catarina, reuniram-se no Centro de Eventos Rodeio 12, município de Rodeio, SC, nos dias 15 e 16 de abril de 2024. Em pauta, a preparação para vivenciar e celebrar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (SOUC), a transcorrer na semana que antecede Pentecostes, 12 a 19 de maio próximo. Promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas, através da sua Comissão Fé e Constituição Fé, e pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, do Vaticano, a Semana tem a pronta adesão do Brasil.
O tema do evento não podia ser mais oportuno: o amor a Deus e à pessoa próxima como a ti mesmo (Cf. Lc 10,27). Fundamento do cristianismo, esse mandamento expressa o desejo de Deus, manifestado em Jesus Cristo, de tornar a humanidade uma família, na qual todas e todos sejam acolhidos, amados, incluídos no povo querido de Deus. Igrejas diversas, Movimentos Religiosos, mesmo não cristãos, organismos sociais, são chamados a essa atitude missionária, superando preconceitos, feridas históricas, fundamentalismos, guerras, exclusões.
Lamentável tornou-se a ausência de lideranças ecumênicas da região Sul de nosso Estado que não puderam chegar ao encontro por causa da barreira ocasionada pelas fortes chuvas caídas naquela região. Grande barreira interditou passagem pela BR 101, na altura de Palhoça naqueles dois dias.
O assessor do seminário foi o Pastor Doutor Uwe Vegner, teólogo e, no momento, residindo em Ibirama, dedica-se a traduzir textos históricos importantes para a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Seu profundo conhecimento bíblico aliado a notória empatia pessoal, experiência diferenciada, providencial capacidade de dramaturgia e dinâmica participativa, tornaram o estudo agradável, atraente e muito proveitoso.
Frisava o Pastor Uwe que a afirmação do mandamento do amor já se encontra no Antigo Testamento. No diálogo com doutor da lei com Jesus, porém, esse mandamento é retomado. Pergunta-lhe o doutor da Lei: “Mestre, o que preciso fazer para herdar a vida eterna?” O Senhor não responde imediatamente a essa questão e devolve a pergunta: “ O que está escrito na Lei? Como você lê?” À resposta do seu interlocutor, Jesus o elogia: “Você respondeu corretamente. Faça isso e viverá”. Mas o doutor da lei, para justificar-se, perguntou a Jesus: “E quem é o meu próximo?” Essa pergunta era compreensível, pois naquelas circunstâncias, haviam diversas explicações sobre esse assunto entre os próprios entendidos nas leis de Deus. Prevalecia, porém, a compreensão de que o mandamento pedia amar os membros do povo escolhido, os judeus. Os demais povos, considerados pagãos eram excluídos da eleição divina e, assim, deviam ser ignorados, odiados, eliminados até.
A seguir, Jesus conta a parábola do Bom Samaritano (Lucas 10,25-37). Nela, provoca o sacerdote, o levita e o povo judeu colocando na parábola um samaritano, estrangeiro, a socorrer provavelmente um judeu caído à beira do caminho, quase morto, vítima de assaltantes. Pois os dois funcionários do templo ignoraram o caído, certamente preocupados com suas funções, mas esquecendo uma pessoa fragilizada naquele momento. Dessa forma, o Senhor ensina a amar a todos, começando pela pessoa que está próxima da gente. Até mesmo o culto se pospõe a um irmão gravemente machucado, precisando de socorro imediato. E mais: esse culto desvinculado da atenção ao pobre e sofredor torna-se mero formalismo ritual, rejeitado pelos profetas e pelo próprio Deus.
Os cristãos e irmãos e irmãs de outras religiões, inclusive de crenças tradicionais, de Burkina Faso, país da África Ocidental, foram convidados a elaborarem texto-base para a Semana. Nele, expuseram a sua realidade de dor pela violência, divisão, ataques terroristas, pobreza, em expansão na sua nação. Por outro lado, testemunham sua firme esperança na força do diálogo e do amor recíproco, já presentes em muitas comunidades. Manifestam convictamente, então, a sua certeza de que a reconciliação e a paz chegarão em tempo não muito distante, certamente apressado pelo nosso generoso empenho.
No Brasil, a comunidade de Taizè, de Alagoinhas, Bahia, adaptou as reflexões para a nossa realidade brasileira, não isenta de feridas humanas e sociais. Taizè é uma comunidade de origem francesa que já tem longa história de acolhida de pessoas em busca da paz interior e da força espiritual para construir o Reino de Deus no mundo.
Como sinal concreto de efetiva solidariedade a esse despertar ecumênico em nossas comunidades, Igrejas, Religiões, Movimentos Sociais, a SOUC propõe uma coleta monetária de ofertas para incentivo a essa promissora ação ecumênica e evangelizadora em nossa sociedade. Provoca-nos a todos a percepção de renomados teólogos e pensadores atuais de que cristãos e membros de qualquer crença desse século 21, ou são ecumênicos ou nada serão. Pior: idolatrando a si mesmos, suas famílias, seus grupos, etnias, Religiões, se transformarão em fatores de discórdia, injustiça, guerra e morte!
Texto: Pe. Raul Kestring
Imagem: Joilson Miss