Carisma e Espiritualidade – São Pedro Nolasco
São Pedro Nolasco Religioso e Fundador da Ordem das Mercês Nasceu em Mas Saintes Puelles (França), por volta de 1180. Ainda jovem, estabeleceu-se em Barcelona, dedicando-se às obras de misericórdia e, em companhia de outros cristãos piedosos, especialmente à redenção de cativos. Por inspiração divina, no dia 10 de agosto de 1218, fundou a Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria das Mercês, voltada para a redenção de cativos, organizando esta obra também mediante a instituição de fraternidades leigas. Levou a cabo várias ações de resgate, sempre disposto a dar a própria vida, se isto fosse para libertar os prisioneiros que corriam perigo de perder a fé. Heróico exemplo de caridade para seus religiosos, faleceu a 6 de maio de 1249. São Pedro Nolasco é invocado como Patrono da Liberdade.
Lugar e ano de nascimento de Pedro Nolasco
A primeira referência escrita do lugar do nascimento de São Pedro Nolasco encontramo-la no códice Speculum Fratrum (1445) de Nadal Gaver, Mestre- Geral da Ordem, homem de relevante cultura humana e eclesiástica. A frase, fielmente copiada do códice, é, em sua tradução em português, a seguinte: “certamente como o devotíssimo varão Pedro Nolasco, de Mas de lãs Santas Puellas, diocese de San Pablo, próximo de Barcelona, para a qual trasladara seu domicílio…”. Nesta frase do Speculun Fratrun, a tradição mercedária entendeu que Nadal Gaver refere-se a Mas Saintes Puelles (diocese de San Papoul), aldeia situada no condado de Tolosa, sul de França, entre as cidades de Carcassona e Tolosa, no baixo Languedoc. O mesmo diz o Padre Pedro Cijar, em seu Opusculum tantum quinque, de 1446. Esta notícia ratifica-a o padre Francisco Zumel, catedrático de Salamanca, em seu De vitis Patrum. E todos os escritores, mercedários ou não, desde então se ocuparam desse tema, foram sempre unânimes em sustentar que aquele lugar é a pátria de São Pedro Nolasco. Ultimamente, todavia, surgiu uma opinião, baseada mais em interpretações de textos que em fontes fidedignas, segundo a qual Pedro Nolasco teria nascido em uma masía situada nos arredores de Barcelona.
A respeito do ano de seu nascimento, não existe com certeza uma data exata. Todavia, tendo em conta um velho códice do qual Francisco Zumel extraiu dados esclarecedores, na setença arbitral do cônego Pedro Oller, aparece Pedro Nolasco redimido cativos já no ano de 1203. Donde se deduz que o fundador dos mercedários, para poder estar empenhado em semelhante empresa nesse ano, devia ter idade madura e espírito empreendedor, nascido do impulso de sua juventude. Por isso, não é arriscado afirmar, com muitos historiadores fidedignos, que Pedro Nolasco nasceu entre os anos 1180-1182. Como escreve Zumel, desde pequeno viveu em Barcelona.
Sua figura e obra antes da fundação da Ordem.
Apresentar a carismática figura de Pedro Nolasco ao leitor do século XX, já no terceiro milênio, é tarefa certamente apaixonante. Porque Pedro Nolasco manifesta-se como um homem de hoje, na encruzilhada de dois séculos: o centenário que se vai, fechando portas e vivências do passado, e o século que vem, abrindo as portas do futuro a estimulantes e novas realidades.
Para o jovem Pedro, morria o século XII, com suas guerras, com suas instituições, suas organizações civis e religiosas, seus cativeiros, suas angustias e seus problemas. E nascia o século XIII com seus ares de renovação, com rejuvenescedorasesperanças e presságios certos de revolucionárias novidades nos âmbito religioso, político, social e cultural. Já nos primeiros vinte anos de sua vida, o traço fundamental é distintivo de sua personalidade, transmitido por confiável documentação, é de um jovem cheio de ânimo que inicia sua marcha pelo século XIII, diretamente orientado para a libertação dos cristãos cativos por causa da fé.
Estabelecida a família de Nolasco em Barcelona, aprendeu este de seu pai Bernardo, desde muito Jovem, a arte de negociar. O padre Cijar chama-o ótimo negociante, e o próprio Gaver faz constar que Pedro Nolasco foi negociante, antes de fundar a Ordem. Efetivamente, desde sua maioridade já se manifestava nele sua próxima missão carismática dentro da Igreja e da sociedade. Continuará sendo negociante, porém não comprará mercadorias, e sim dedicará sua vida a comprar seres humanos. Associou-se a algumas companheiros, partícipes de suas inquietações em prol dos cativos e, como relata Zumel, “perseverando primeiro na oração de Deus, dedicaram-se, depois, cada dia, a recolher esmolas dos fiéis piedosos, pela província de Catalunha e pelo reino de Aragão, para levar a cabo a santíssima obra de redenção. O que assim se fez para que cada ano se realizassem doravante, pelo santíssimo varão, e seus companheiros não pequenas libertações e redenções… todas estas coisas sucederam no ano de 1203”.
A profissão de negociante de Pedro Nolasco foi de grande utilidade para esse grupo de redentores por ele capitaneados, nessa primeira época, já que os negociantes tinham fácil acesso aos países muçulmanos, eram conhecidos e, durante séculos, foram eles quase os únicos intermediários do ajuste de resgate cristãos em terra de mouros e de mouros em terra de cristãos. Esse grupo de companheiros de Pedro Nolasco era formado somente por leigos que, segundo diz Jaime II a Bonifácio VIII, em 1301, “tinham grande devoção a Cristo, que nos redimiu por seu precioso sangue”. Frase afortunada que designa a nota característica da espiritualidade do grupo; a devoção a Cristo Redentor e seu seguimento. Com admirável desprendimento juvenil, despojaram-se de seus próprios bens e deram tudo para a redenção.