Juliana nasceu no ano de 1192, em Retinne, próximo de Liège, província belga, famosa por suas escolas.
Aos cinco anos tornou-se órfã dos pais, passando a ser criada no mosteiro de Monte Cornillon. Ela estava decidida a fazer os votos de uma vida totalmente entregue a Deus e vestiu o hábito das agostinianas neste mesmo mosteiro em 1207.
Suas virtudes e dons se evidenciavam e ela passou a descrever suas revelações, obtidas durante suas orações contemplativas.
Em uma delas, Juliana descreveu uma lua atravessada por uma faixa escura. Segundo sua interpretação, tal lua incompleta significava a liturgia, para a qual faltava uma festa para honrar o corpo sagrado de Cristo, sacrificado pela humanidade.
Confidenciava as suas revelações apenas à irmã Eva e a uma enfermeira, Isabela. A aliança e cumplicidade entre as três mulheres frutificaram na propagação do culto ao corpo sagrado de Jesus e, mais tarde, o bispo de Liège instituiu, embora com relutância, a festa tão desejada pelas irmãs e pela comunidade, dando-lhe o nome de Corpus Domini.
Porém muitos se mostraram contrários à festa e ao culto. O bispo hesitava, mas Juliana já tinha preparado o ofício, ou seja, a pregação, as leituras e os cantos, para a nova celebração. Seu texto acabou sendo lido, explicado e cantado.
Apaziguados os ânimos, o bispo decidiu instituir de vez, em 1246, a festa diocesana do Corpus Domini na sua Diocese.
Um dos religiosos que haviam apoiado Juliana em sua iniciativa foi Jacinto Pantaleão, arcidiácono de Trois, na França. Ele acabou sendo eleito papa em 1261, adotando o nome de Urbano IV.
Em 1264, pela bula papal Transiturus, Urbano IV, instituiu as festividades do Corpus Domini para toda a Igreja.
Infelizmente, Juliana de Liège não viveu para ver o acontecimento.
Tornara-se priora do mosteiro de Monte Cornillon em 1230, trabalhando pela manutenção de uma disciplina rigorosa que não agradou a muitos.
Em 1248, ela decidiu deixar o cargo e ingressou na clausura em Fosses, também na Bélgica, onde viveu até morrer, em 5 de abril de 1258.
Seu corpo foi sepultado na abadia cisterciense de Villers. Mas ela teve tempo de saber que a festa Corpus Domini já era comemorada em toda a Bélgica, França e Alemanha.
O papa Pio IX beatificou Juliana de Liège em 1869 e confirmou seu culto litúrgico para o dia 6 de abril.
Catequese de Bento XVI sobre santa Juliana de Monte Cornilon, em 17 novembro 2010
Caros irmãos e irmãs,
ainda essa manhã desejo apresentar-vos uma figura feminina, pouco conhecida, à qual a Igreja, porém, deve um grande reconhecimento, não só por sua santidade de vida, mas também porque, com seu grande fervor, contribuiu para a instituição de uma das solenidades litúrgicas mais importantes do ano, aquela de Corpus Christi. Trata-se de santa Juliana di Cornillon, conhecida também como santa Juliana di Liege. Temos alguns dados sobre a sua vida, sobretudo através de uma biografia, provavelmente escrita por um eclesiástico, seu contemporâneo, na qual vem recolhidos vários testemunhos de pessoas que conheceram diretamente a Santa.
Juliana nasceu entre 1191 e 1192 nos arredores de Liège, na Bélgica. É importante sublinhar este local porque naquele tempo a Diocese de Liège era, por assim dizer, um verdadeiro “cenáculo eucarístico”. Antes de Juliana, insignes teólogos ali tinham ilustrado o valor supremo do Sacramento da Eucaristia e, sempre em Liège, existiam grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervorosa. Guiadas por sacerdotes exemplares, elas viviam juntas, dedicando-se à oração e às obras caritativas.
Tornando-se órfã aos 5 anos, Juliana, com sua a irmã Agnese, foi confiada aos cuidados das Monjas Agostinanas do Convento-leprosário de Monte Cornillon. Foi educada sobretudo por uma Irmã de nome Sapiência, que acompanhou o seu amadurecimento espiritual até quando Juliana mesma recebeu o hábito religioso e se tornou também ela monja agostiniana. Adquiriu uma notável cultura, ao ponto que lia as obras dos Padres da Igreja em língua latina, em particular santo Agostinho e são Bernardo. Além de uma privilegiada inteligência, Juliana mostrava, desde o início, uma propensão particular à contemplação, tinha um senso profundo da presença de Cristo que experimentava vivendo de modo particularmente intenso no Sacramento da Eucaristia e detendo-se frequentemente a meditar sobre a Palavra de Jesus : “Eis que eu estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20).
Com 16 anos teve uma primeira visão que, depois, se repetiu muitas vezes na sua adoração eucarística. A visão apresentava uma lua no seu pleno esplendor com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor lhe fez compreender o significado daquilo que lhe aparecia. A lua simbolizava o caminho da Igreja sobre a terra; a linha escurecida representava, ao invés, a ausência de uma festa litúrgica para a instituição da Eucaristia, para o qual era pedido a Juliana de empenhar-se de modo eficaz na criação de uma festa, isto é, para que os que crêem pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, crescer na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
Por cerca de vinte anos, Juliana, que enquanto isso havia se tornado a priora do convento, guardou em segredo essa revelação, que havia enchido de alegria o seu coração. Depois, se confidenciou a outras duas fervorosas adoradoras da Eucaristia, a belga Eva, que levava uma vida eremítica, e Isabela, que a havia acolhido no mosteiro de Monte Cornillon. As três mulheres estabeleceram uma espécie de “aliança espiritual”, com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento. Quiseram envolver também um sacerdote muito estimado, Giovanni di Losana, canônico na igreja de são Martinho, em Liège, pedindo-lhe de motivar teólogos e eclesiásticos sobre o que estava no seu coração. As respostas foram positivas e encorajadoras.
Aquilo que ocorre a Juliana de Cornillon se repete frequentemente na vida dos Santos: para ter a confirmação que uma inspiração vem de Deus, precisa sempre mergulhar na oração, saber espera com paciência, buscar a amizade e o confronto com outras almas boas e submeter tudo ao juízo dos Pastores da Igreja. Foi o próprio bispo de Liège, Roberto di Thourotte que, depois de iniciais hesitações, acolheu a proposta de Juliana e das suas companheiras e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Domini na sua Diocese. Mais tarde outros Bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais.
Aos Santos, todavia, o Senhor pede frequentemente para superar provas, para que a sua fé venha fortalecida. Acontece também a Juliana, que teve de sofrer a dura oposição de alguns membros do clero e do próprio superior, de quem dependia o mosteiro. Então, por sua vontade, Juliana deixou o convento de Monte Cornillon com algumas companheiras por dez anos, de 1248 a 1258, tendo sido hóspede de vários mosteiros de Irmãs Cistercienses. Edificava a todos com a sua humildade, não tinha nunca palavras de crítica ou de reprovação para os seus adversários, mas continuava a difundir com zelo o culto eucarístico. Morreu no ano de 1258 em Fosses-La-Villa, na Bélgica. Na cela onde jazia foi exposto do Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do biógrafo, Juliana morreu contemplando com seu último olhar de amor Jesus Eucaristia, que tinha sempre amado, honrado e adorado.
À boa causa da festa de Corpus Domini foi foi conquistado também Jerônimo Pantaléon de Troyes, que tinha conhecido a santa durante o seu ministério de arcidiácono em Liège. Foi exatamente ele que, tornando-se Papa com o nome de Urbano IV, em 1264, instituiu a solenidade do Corpus Domini como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira sucessiva de Pentecostes. Na Bula da instituição, intitulada Transiturus de hoc mundo (11 de agosto de 1264), Papa Urbano reevoca com discrição também a experiência mística de Juliana. Valorizando a autenticidade, escreve: “Embora a Eucaristia venha solenemente celebrada, consideramos justo que, ao menos uma vez ao ano, seja mais honrada e solene a sua memória. As outras coisas, de fato, de que fazemos memória, nós as atingimos com o espirito e com a mente, mas não obtemos por isto a sua real presença. Ao invés, nesta sacramental comemoração do Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está presente conosco na própria substância. Pois quando estava para subir ao céu, disse: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20).
O mesmo Pontífice deseja dar o exemplo celebrando a solenidade do Corpus Domini em Orvieto, cidade na qual residida. E por sua ordem, na Catedral da cidade, se conservava – e se conserva até hoje – o célebre corporal com vestígios do milagre eucarístico ocorrido um ano antes, 1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o pão e o vinho, fora tomado por fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no Sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a verter da Hóstia, confirmando naquele modo aquilo que a nossa fé professa. Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, santo Tomás de Aquino – que naquele tempo acompanhava o Papa e se encontrava em Ovieto – de compor textos do ofício litúrgico para essa grande festa. Estes, ainda hoje em uso na Igreja, estão entre as obras-primas nas quais se fundem teologia e poesia. São textos que fazem vibrar as cordas do coração para exprimir louvor e gratidão ao Santíssimo Sacramento, pois a inteligência, adentrando-se com estupor no mistério, reconhece na Eucaristia a presença viva e verdadeira de Jesus, do Seu sacrifício de amor que nos reconcilia com o Pai e nos doa a salvação.
Mesmo que depois da morte de Urbano IV a celebração da festa do Corpus Domini limitava-se a algumas regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália setentrional, foi também um Pontífice, João XXII, que em 1317, a estendeu para toda a Igreja. Daquele tempo em diante, a festa conheceu um desenvolvimento maravilhoso e é agora muito acolhida e valorizada pelo povo cristão.
Gostaria de afirmar com alegria que hoje, na Igreja, existe uma “primavera eucarística”, quantas pessoas detém-se silenciosas diante do Tabernáculo, para entreter-se em colóquio de amor com Jesus! É consolante saber que não poucos grupos de jovens tem descoberto a beleza de rezar em adoração diante do Santíssimo Sacramento. Penso, por exemplo, na nossa adoração ao Santíssimo Sacramento no Hyde Park, em Londres. Rezo para que esta “primavera” eucarística se difunda sempre mais em todas as paróquias, em particular na Bélgica, a pátria de santa Juliana. O Venerável João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucaristia, constatava que, em tantos lugares (…),a adoração do Santíssimo Sacramento encontra amplo espaço quotidiano e se torna fonte inexaurivel de santidade. A devota participação dos fiéis na procissão eucarística na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é uma graça do Senhor que todo ano enche de alegria a quem dela participa. Outros sinais de fé e de amor eucarístico se poderia mencionar” (n. 10)
Recordando Santa Juliana de Cornillon, renovemos também nós a fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Como nos ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, “Jesus Cristo está presente na Eucaristia em modo único e incomparável. Está presente, de fato, de modo verdadeiro, real, substancial, com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade. No Eucaristia, Ele está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho. Cristo todo inteiro, Deus e homem” (n. 282).
Caros amigos, a fidelidade ao encontro com o Cristo Eucarístico na Santa Missa dominical é essencial para o caminho de fé, mas busquemos também ir frequentemente visitar o Senhor presente no Tabernáculo. Olhando em adoração a Hóstia consagrada, nós encontramos o dom do amor de Deus, encontramos a Paixão e a Cruz de Jesus, como também a sua Ressurreição. Exatamente por nosso olhar em adoração, o Senhor nos atrai para Si, dentro do seu mistério, para transformar-nos como transforma o pão e o vinho. Os santos tem sempre encontrado força, consolação e alegria no encontro eucarístico. Com as palavras do Hino eucarístico Adoro-te devote, repetimos diante do Senhor, presente no Santíssimo Sacramento: “Faz-me crer sempre mais em Ti, que em ti eu tenha esperança, que eu te ame!”. Obrigado!