Uma vida de contemplação foi a forma que santa Gertrudes escolheu para dedicar-se a Deus. Nascida em Eisleben, na Saxônia, em 1256, ao contrário do que alguns historiadores dizem, ela não pertencia à nobreza, mas seus pais eram bem estabelecidos e cristãos praticantes.
Aos cinco anos de idade, seus pais confiaram a sua educação ao Mosteiro cisterciense de Helfa, na Turíngia, onde Gertrudes teve uma sólida formação humanista e religiosa. Possuidora de grande carisma místico, tornou-se religiosa consagrada. Conviveu no mosteiro com a grande mística Matilde de Magdeburg, mestra de espiritualidade.
Matilde foi a personagem decisiva na vida interior de muitas jovens que dela se aproximavam. Era mestra de uma espiritualidade fortemente ligada ao chamamento místico. Com ela, Gertrudes desenvolveu a sua de modo muito semelhante, recebendo, em seguida, através de suas orações contemplativas, muitas revelações de Deus.
Mais tarde, aos vinte e cinco anos, quando depois de recitar as completas, teve a primeira visão que transformou sua vida (é ela mesma quem conta), Jesus reprovou seu excesso de aplicação aos estudos. Desde aquele momento Gertrudes se tornou alma essencialmente contemplativa, acentuando sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, à eucaristia, conformando sua imensa piedade às sucessivas experiências místicas. A sua vida “tornou-se hino perene a Cristo”. Toda a sua rica experiência transcreveu e reuniu no livro “Mensageiro do divino amor”, talvez a mais importante obra cristã tendo como temática a teologia mística.
Foi uma das maiores místicas cristã da idade média, tornando-se uma das grandes incentivadoras da devoção ao Coração de Jesus, culto que alcançaria enorme expansão, no futuro, com santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII.
Mais tarde, foi eleita abadessa, cargo que exerceu até o fim de seus dias. Adoeceu e sofreu muitas dores físicas por mais de dez anos até ascender a casa do Pai, em 1302.
A tradicional festa em sua memória, no dia 16 de novembro, foi autorizada e mantida nesta data pelo papa Clemente XII, em 1738.
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Santa Margarida da Escócia
1046-1093
Nasceu em 1046, na Hungria, era uma mulher da nobreza, de grande devoção cristã, culta, inteligente, e possuidora de uma delicada e fina diplomacia.
As questões políticas levaram-na a asilar-se na Escócia, onde conheceria seu futuro marido. Sua mãe, Águeda, irmã da rainha da Hungria, descendia de santo Estevão e de Eduardo, pretendente ao trono da Inglaterra, expulso pelo usurpador rei Canuto. Nesta época tão conturbada, mesmo depois da morte desse último, somente a Escócia conseguiu dar asilo seguro a essa família real para fugir de atentados fatais.
Não demorou muito para que o rei Malcom III se encantasse com a sua delicada e nobre, de personalidade forte e frágil ao mesmo tempo, e a conquistou em casamento. Margarida então com vinte e três anos de idade, aceitou, porque assim agindo compreendeu que poderia melhor levar a mensagem de Cristo ao povo escocês, ainda pagão.
Seu marido agora o rei Malcom, era uma pessoa um pouco rude e ignorante. Não sabia ler, por isso tinha grande respeito por sua mulher instruída. Beijava o livro de orações que ela lia junto dele com devoção e sempre pedia seus conselhos. A rainha, pacientemente, alfabetizou-o, sem nunca se sobrepor à sua autoridade. Ela era discreta, modesta e humildemente respeitosa à sua condição de chefe de um povo e uma nação. Quando o rei Malcom III foi envolvido pela graça divina, converteu-se e foi batizado.
Diante desta atitude do rei mudou os destinos do país, pois o povo também se converteu. O casal teve oito herdeiros, seis homens e duas mulheres, que receberam instrução e educação cristã necessária aos nobres. O rei também passou a ter uma visão cristã na compreensão dos problemas de seu povo, e o tratou com total consideração, respeito, bondade e justiça.
No palácio, a rainha Margarida continuou a partilhar, diariamente, a sua própria mesa, com órfãos, viúvas, pedintes e velhos desamparados. O rei compartilhava dessa alegria e das obras beneficentes em socorro e amparo aos excluídos. Fundaram muitas igrejas, mosteiros e conventos. Segundo a história da Escócia, foi um período de reinado justo, próspero e feliz para o povo e para a nação.
A rainha aos quarenta e seis anos quando foi acometida de grave doença. E resistiu pouco tempo depois que recebeu a notícia da morte do seu marido e do filho mais velho, que morreram combatendo no castelo de Aluwick.
Subiu a Glória eterna no dia 16 de novembro de 1093, na cidade de Edimburg, e foi sepultada em Dunferline, Escócia.
Venerada ainda em vida pela sua santidade, foi canonizada, em 1251, pelo papa Inocêncio IV.
O culto que celebra santa Margarida da Escócia com grande festa ocorre, no dia de sua morte, em todo o mundo católico.
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São José Moscatti (1880-1927)
José Moscati fazia parte de uma família ilustre e muito nobre. Seu pai, Francisco, era presidente do Tribunal de Justiça e sua mãe, Rosa de Luca, pertencia à nobreza. Nasceu na cidade de Benevento, Itália, no dia 25 de julho de 1880, e foi batizado em casa num dia de festa, a de santo Inácio de Loyola.
Em 1884, seu pai foi promovido e mudou-se para Nápolis com a família. Lá, o pequeno José fez seu primeiro encontro com Jesus eucarístico, aos oito anos.
Naquele dia, foram lançadas as bases de sua vida eucarística, um dos segredos da sua santidade. Devoto de Maria Santíssima e da EUCARISTIA, com apenas dezessete anos obrigou-se ao voto de castidade perpétua. Ativo participante da vida paroquiana, assistia a missa e comungava diariamente. Sua generosidade e caridade eram dedicadas aos pobres e doentes, especialmente os incuráveis.
Quando seu irmão Alberto passou a sofrer de epilepsia, José passava várias horas cuidando dele. Foi então que decidiu seguir os estudos de medicina.
No ambiente universitário, Moscati destacou-se pelo cuidado e empenho e, em 1903, recebeu seu doutorado de medicina com uma tese brilhante. Desde então, a universidade, o hospital e a Igreja se tornaram um único campo para suas atividade.
Naquele ano, tornou-se médico do Hospital dos Incuráveis, onde logo ganhou admiração e o prestígio no domínio científico. Mas o luto atingiu Moscati, quando, em 1904, seu irmão Alberto morreu.
A reputação e a fama de Moscati como mestre e médico era indiscutível. Por isso foi nomeado, oficialmente, médico responsável da terceira ala masculina do Hospital dos Incuráveis pela administração do Hospital, justamente a ala daqueles doentes pelos quais ele se empenhava e trabalhava com afinco.
No dia 12 de abril de 1927, como de hábito, depois de ter assistido a missa e recebido Cristo na EUCARISTIA, foi para o hospital. Voltou para casa à tarde e, enquanto atendia os pacientes, sentiu-se mal e pouco depois morreu serenamente.
A notícia de sua morte espalhou-se imediatamente e a dor cobriu a cidade.
No dia 16 de novembro de 1975, o papa Paulo VI proclama José Moscati beato. A devoção a Moscati vai aumentando cada dia mais. As graças obtidas por sua intercessão são muitas.
De 1° a 30 de outubro de 1987, em Roma, houve a VII Assembléia do Sínodo dos Bispos, cujo tema era: “Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, vinte anos após o Concílio Vaticano II”.
José Moscati foi um leigo que cumpriu sua missão na Igreja e no mundo. No Sínodo, após longos exames, a Igreja comunicou que ele seria canonizado, como um homem de fé e caridade, que assistia e aliviava os sofrimentos dos incuráveis.
No dia 25 de outubro de 1987, na praça de São Pedro, em Roma, o papa João Paulo II colocou, oficialmente, José Moscati entre os santos da Igreja.
Sua festa litúrgica foi indicada para o dia 12 de abril.
Seu corpo repousa na igreja do Menino Jesus, em Nápolis, Itália]
QUEM É SÃO JOSÉ MOSCATI?
Paulo VI, o Papa que o beatificou:
“Quem é este que se nos propõe para que todos o imitemos e veneremos?”
É um leigo que fez de sua vida uma missão vivida em plena autenticidade evangélica…
É um professor universitário que deixou entre seus alunos uma marca de profunda admiração…
É um homem de ciência célebre pela sua contribuição científica a nível internacional… Sua existência é simplesmente tudo isto…
João Paulo II, o Papa que o canonizou:
“O homem que a partir de hoje nós invocaremos como um Santo da Igreja universal representa para nós a realização concreta do leigo cristão.
José Moscati, Médico diretor de clínica, pesquisador famoso no domínio científico, professor universitário de fisiologia humana e de química fisiológica, tomou suas múltiplas atividades com todo o engajamento que necessita a delicada profissão de leigo.
Sob este ponto de vista Moscati é um exemplo não somente a ser admirado mas a ser seguido, sobretudo pelos representantes sanitários. Ele representa um exemplo até para os que não partilham de sua fé.”
OS PAIS
A família Moscati provém de Santa Lucia de Serino, pequena região na província de Avellino.
Em S. Lucia de Serino, em 1836, nasceu Francisco, o pai do futuro Santo, que se diplomou em jurisprudência e percorreu brilhantemente a carreira da magistratura.
Foi juiz do Tribunal de Cassino, Presidente do Tribunal de Benevento, Conselheiro da Corte de Apelo, primeiro em Ancona e depois em Nápoles, onde faleceu em 21 de Dezembro de 1897.
Em Cassino Francisco Moscati conheceu e esposou Rosa de Luca. Do matrimônio nasceram nove filhos: José foi o sétimo.
Assim viveu o pai do Santo, todo ano conduzia a esposa e os filhos a terra natal, para um período de repouso e para estar em contato com a natureza. Se dirigiam juntos à igreja das Clarissas, para participar da Missa, que frequentemente o próprio Francisco servia.
Em duas cartas S. José Moscati faz referência a terra natal. A primeira é de 20 de Julho de 1923, escrita durante sua viagem à França e Inglaterra:
“Às 14.20 horas partimos para Modane, para a França. […] Atravessamos os vales fechados de montes recobertos de castanheiras (Borgonha). Aqui e lá o nastro prateado dos rios: como é simples esta paisagem como aquela inesquecível de Serino, o único lugar ao mundo, a Irpinia, onde com prazer passarei os meus dias, porque encerra as mais importantes, as mais doces memórias da minha infância, e os restos mortais dos meus queridos!”
A segunda carta foi escrita em 19 de Janeiro de 1924, depois de ter presenciado a morte de um tio seu:
“O fim de tio Carmelo é o abalo de tantas recordações queridas ligadas à sua pessoa. Oh, as doces memórias da infância, dos montes de Serino! Assim como as pessoas da terra de meu pai me estão plantadas no coração indelével; e a desilusão de mais: Precipita a parte romântica da minha personalidade. E mais me sinto só, só e próximo a Deus!”
BENEVENTO, CIDADE NATAL DO SANTO
José Moscati nasceu em Benevento em 25 de Julho de 1880, festa litúrgica de S. Tiago Maior Apóstolo. A família mudou-se para lá de Cassino em 1877, quando Francisco Moscati foi promovido Presidente do Tribunal, tomando moradia na Rua S. Diodato, nos arredores do hospital dos irmãos de caridade.
Poucos meses depois foram morar em um apartamento da Rua Porta Áurea, próximo ao Arco de Trajano, construído em honra do Imperador em 114 d.C. No palácio Andreotti, comprado depois da família Leo, nasceu José, no último quarto à esquerda. Se tem acesso ao apartamento através de um amplo portal que vai a um pátio ao qual parte uma grande escada de pedra. Uma lápide ao lado do portão de entrada recorda o acontecimento.
Na Catedral de Benevento, na capela do SS. Sacramento, se pode admirar a estátua de mármore de S. José Moscati, obra de P. Mazzei de Pietrasanta.
Benevento ao nascimento de Moscati.
Em 3 de Setembro de 1860, após cerca de oito séculos de governo pontifício, Benevento era anexada ao Reino da Itália.
O último Delegado Apostólico, Mons. Eduardo Agnelli, ao deixar a cidade havia recebido honra das armas dos soldados do novo regime. A cidade mudava de vida e entrava na ordem territorial da nação italiana.
“Segundo o esquema político piemontês foram desapropriados os conventos, expulsos os religiosos, violados os arquivos, deturpadas ou destruídas as linhas arquitetônicas dos antigos edifícios. Alguns esperavam coisas novas e interessantes. Outros temiam… O clan maçônico, importado da zona limítrofe, então também teve seu tempo favorável.
Á chegada da família Moscati, […] em Benevento os ardores eram em boa parte ás escondidas”. (Lauro Maio, S. Giuseppe Moscati e Benevento sua città natale, Benevento 1987, p.13).
Formação humana e cristã
José Moscati nasceu em Benevento no dia 25 de Julho de 1880. Filho de Francisco, Presidente do Tribunal de Benevento e de Rosa de Luca, dos Marqueses de Roseto. José era o sétimo de nove filhos.
Ele foi batizado em casa seis dias após o nascimento, no dia 31 de Julho de 1880, festa de santo Inácio de Loiola, por Dom Inocente Maio.
Em 1881, seu pai foi promovido conselheiro na Corte de Apelação e se transfere para Ancona com sua família. Em 1884, ele se muda para Nápoles como Presidente da Corte de Apelação.
O pequeno José fêz seu primeiro encontro com Jesus Eucarístico, no dia 8 de Dezembro de 1888, na igreja das Servas do Sagrado Coração (Ancelle del Sacro Cuore) de Nápoles, durante uma cerimônia celebrada por Monsenhor Henrique Marano. Não possuímos outras informações sobre este acontecimento, mas podemos dizer que foi neste dia que foram lançadas as bases de sua vida eucarística, que será um dos segredos da santidade do professor Moscati.
Após os estudos primários, José Moscati entra no Liceu Clássico, instituto Vittorio-Emanuele, no qual ele prestará o vestibular em 1897.
Dois meses após ter iniciado seus estudos de Medicina, o jovem Moscati é atingido por um grande luto, que o marcará profundamente: seu pai Francisco, em seguida a uma hemorragia cerebral, morrerá dois dias mais tarde, no dia 21 de Dezembro de 1897, após ter recebido os últimos sacramentos.
No ambiente universitário, Moscati se distinguirá pelo seu cuidado e empenho e no dia 4 de Agosto de 1903, obterá seu Doutorado de Medicina, com uma tese sobre a urogenese hepática, e obterá louvores.
UNIVERSIDADE E HOSPITAL
Após a obtenção do Doutorado em Medicina, a universidade e o hospital se tornarão o campo de atividade do jovem médico. Logo ele passará um concurso de Colaborador Extraordinário no Hospital dos Incuráveis (1903) e um outro de Assistente no Instituto de Química Psicológica (1908), onde ele logo ganhará muitas marcas de admiração e de prestígio no domínio científico.
Um novo luto, no dia 13 de Junho de 1904, atinge Moscati, seu irmão Alberto morre, o qual sofria de epilepsia após uma queda de cavalo durante uma parada militar em 1892.
José tinha o hábito de passar várias horas junto a ele para tratá-lo. É à cabeceira de seu irmão que ele decidirá seguir os estudos de medicina, caso único em sua família e objeto de discussões.
Em 1906, erupção do Vesúvio, Moscati se distinguirá pelos seus trabalhos de socorro. Na Torre del Greco (perto de Nápoles), ele providenciará a evacuação do hospital de onde ele próprio ajudará os doentes a sair antes do desabamento do teto.
Dois dias mais tarde ele mandará uma carta ao diretor geral dos Hospitais Reunidos de Nápoles, propondo gratificar as pessoas que o ajudaram, mas insistirá muito para que não citem o seu nome.
Em 1911, com 31 anos, o doutor Moscati é aprovado no concurso de Colaborador ordinário dos Hospitais Reunidos. Era um concurso muito importante que não era realizado desde 1880 e do qual participam médicos vindos de todas as partes.
No mesmo ano, pela iniciativa de Antônio Cardarelli, a Academia Real de Medicina Cirúrgica o nomeará Membro participante e o Ministério de Educação Pública lhe atribuirá o Doutorado em Química Fisiológica.
No final do ano de 1914, Rosa, a mãe do professor Moscati, atingida pela diabete, vê a sua doença, ainda incurável por então, se agravar. Moscati foi um dos primeiros médicos em Nápoles, a experimentar a insulina. Sua mãe morre no dia 25 de Novembro de 1914.
Antes de expirar, após ter recebido com muita devoção os últimos sacramentos, ela dirá aos seus filhos que se ajuntam em torno a ela: “Meus filhos, morro contente. Fujam do pecado que é o maior mal da vida”.
No dia 24 de Maio de 1915, a Itália entra no conflito mundial; o professor Moscati apresenta o pedido de alistamento voluntário, entretanto ele não será aceito. As autoridades militares confiarão os feridos aos seus cuidados. Ele visitará e cuidará de aproximadamente 3.000 militares, pelos quais ele redigirá um diário e suas histórias clínicas. Moscati foi para eles não somente o médico, mas também o consolador atencioso e afetuoso.
Nos anos que se seguirão, o professor Moscati renunciará à cadeira de Química Fisiológica da Universidade Frederico II de Nápoles. Será seu amigo e compadre, o professor Quagliarello, designado pelo próprio Moscati como alternativa, a se beneficiar disto.
Mais tarde, o professor Quagliarello se tornará Reitor desta universidade. É ele que, com grande humildade, nos fornecerá estas informações e declarará muito justamente: “Quantos gestos de generosidade deste gênero ele não fez? Só o Bom Deus o sabe, pois muito frequentemente, os próprios beneficiários não estavam ao par”
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Escolha definitiva pelo trabalho hospitalar
Após esta decisão, tomada conscientemente, o professor Moscati se orienta definitivamente em direção do trabalho hospitalar, onde ele empregará todo seu tempo, sua experiência e seus recursos. As doenças e misérias físicas e espirituais estarão sempre no primeiro lugar de suas preocupações, pois os doentes – ele dirá – «são a imagem de Jesus Cristo, almas imortais, divinas, que temos o dever urgente de amar como a nós mesmos, segundo o Evangelho».
São estas as convicções que Moscati manifesta nos seus escritos, principalmente quando ele se dirige aos seus colegas, lembrando-lhes que «a dor não deve ser tratada como uma vacilação ou uma contração muscular, mas como o grito de uma alma ao qual um outro irmão, o médico, acorre com ardor e caridade».
O renome de Moscati como professor e médico aumentava com a sua fama. Todos falavam de suas aulas, de suas qualidades de discernimento, de seu trabalho com os doentes. O conselho de administração o nomeará Diretor da Sala III dos Homens. Era em 1919.
Médico Diretor do Instituto de Anatomia Patológica
Além de seu intenso trabalho entre a Universidade e o Hospital o professor Moscati assegurava também a direção do Instituto de Anatomia Patológica, anteriormente dirigido por Luciano Armanni, mas em seguida descuidado por falta de atenção.
De acordo com o professor Quagliarello ele se tornará logo “um mestre em autópsias”. O professor Rafael Rossiello, que estudou a fundo e com competência a anatomia patológica de São josé Moscati, afirma que após sua morte, nem as revista sanitárias, nem os que se lembravam dele em seus discursos, nem as numerosas biografias revelaram “sua atividade de mestre do setor e diretor do Instituto de Anatomia e Histologia Patológica “Luciano Armanni”.
Por outro lado a descoberta – pelo doutor Renato Guerrieri – médico diretor do hospital dos incuráveis, de um registro de autópsias efetuadas por Moscati no período – indo de 25 de Dezembro de 1925 a 9 de Fevereiro de 1927 – nos mostra de novo o aspecto quase desconhecido da personalidade complexa de José Moscati no domínio médico e científico.
Luciano Armanni fizera gravar esta frase na entrada da sala de anatomia: “Hic est locus ubi mors gaudet succurrere vitae” (“Aqui a morte está contente de ajudar a vida”). “Mas na sala – escreve o professor Nicola Donadio – não havia nenhum traço de religião. O aposento era austero mas vazio, exatamente como em todos os lugares dominados pelo materialismo.
O professor Moscati teve uma ideia e a realizou, a de colocar muito alto na parede da sala, de modo que pudesse dominar o aposento, um crucifixo com uma inscrição que não poderia ser melhor: «Ero mors tua, o mors» (citação do profeta Oséia, 13,14: Oh morte, eu serei a tua morte”).
As autópsias realizadas por Moscati eram uma lição de vida.
Relato de um aluno de Moscati: o doutor André Piro
Um dia, enquanto estávamos visitando os doentes, fomos convidados a ir à sala das autópsias; ficamos surpresos, não podendo entender este convite, pois neste dia não havia nenhuma autópsia a ser feita.
O professor Moscati, que nos tinha convidado, já tinha se dirigido à sala e nos apressamos em segui-lo.
Sobre a mesa anatômica não havia nada e os que nos tinham precedido estavam olhando a parede, no alto da qual podia-se admirar um Crucifixo com uma inscrição “Ero mors tua, o mors” que o Professor fizera dependurar. Tínhamos sidos convidados a prestar homenagem ao Cristo, à Vida que voltava a este lugar de morte após uma ausência bem longa.
Médico Diretor da Ala III Masculina, no Hospital dos Incuráveis
A reputação de Moscati como mestre e médico era indiscutível. Todo mundo exaltava suas aulas, seus diagnósticos e seu trabalho entre os doentes.
Em 1919 ele foi nomeado oficialmente Médico Diretor da Ala Masculina, pela Administração do Hospital. De acordo com as avaliações sobre o trabalho de Moscati e as alusões à sua nova posição constatamos que esta última promoção foi uma grande alegria para todos: seus amigos, seus assistentes e alunos.
Ninguém mais do que ele podia aspirar a este posto e ninguém era mais qualificado do que ele para recebê-lo. Também ele estava contente, mas como sempre para ele, a satisfação humana não estava separada da satisfação espiritual que apenas passava pelos fatos contingentes e tomava raízes por motivações muito mais elevadas e nobres.
No hospital os sucessos não lhe diziam respeito mas concerniam exclusivamente os doentes pelos quais ele se empenhava e trabalhava com afinco. É o que se apreende de uma carta escrita no dia 26 de Julho de 1919 dirigida ao Senador G. D’Andrea – Presidente dos Hospitais Reunidos de Nápoles.
«Agradeço vivamente Vossa Senhoria e o Conselho de Administração pela promoção de Médico diretor de Sala, que acaba de me ser concedida.
Desde minha infância, via com interesse o hospital dos Incuráveis, que meu pai me mostrava com o dedo e este lugar me inspirava sentimentos de compaixão por causa da dor sem nome, aliviada no interior destas paredes.
Levado por profunda emoção eu começava a refletir sobre a renovação periódica do mundo e as ilusões se iam como se fossem as flores das laranjeiras que caíam em volta de mim.
Nesta época, eu me consagrava aos estudos de Letras e não imaginava e nem sonhava que um dia neste edifício branco – onde mal se viam atrás dos vitrais os doentes hospitalizados como se fossem fantasmas brancos – eu subiria ao escalão mais elevado da medicina.
Vou tentar, graças a Deus, e com minhas módicas forças, de responder à confiança que me foi concedida e de colaborar na reconstrução econômica dos velhos hospitais de Nápoles nestes tempos tão miseráveis».
MORTE REPENTINA
No dia 12 de Abril de 1927, Terça-Feira Santa, o professor Moscati, depois de ter participado da missa, como todos os dias, e de ter recebido a comunhão, passou a manhã no hospital, depois voltou para casa e após uma refeição, como de hábito, ele se ocupou dos pacientes que vinham consultá-lo em casa.
Por volta das 15 horas, ele teve um mal-estar e se sentou no seu sofá, pouco depois ele cruzou os braços e expirou serenamente. Ele tinha 46 anos e 8 meses.
A notícia de sua morte se espalhou imediatamente e a dor foi unânime. Os pobres principalmente o prantearam sinceramente pois eles tinham perdido o seu benfeitor.
Traslado do corpo para a igreja do “Gesù Nuovo”
O corpo foi enterrado no cemitério de Poggioreale. Mas três anos mais tarde, no dia 16 de Novembro de 1930, por insistência de várias personalidades do clero e de leigos, o arcebispo de Nápoles, cardeal Alessio Ascalesi, permitiu o traslado do corpo do cemitério para a igreja do Gesù Nuovo, entre uma dupla fileira de pessoas.
É Nina Moscati, a irmã do professor, que nesta ocasião será a mais feliz de todos, poi ela sempre esteve perto de seu irmão para encorajá-lo e apoiá-lo na prática de caridade e será ela quem, após a morte, doará à igreja todos os pertences pessoais de Moscati assim como os móveis e objetos.
O corpo foi deposto numa sala atrás do altar de São Francisco Xavier, e hoje uma pedra de mármore, colocada à direita deste altar, lembra-o ainda.
A Beatificação (Paulo VI)
A grande estima e a consideração que já em vida cercavam o professor Moscati cresceram após a sua morte, e logo a dor e as lágrimas dos que o conheceram e amaram se tornaram em alegria, entusiasmo e reza. Rogava-se por ele para tudo.
Enquanto isto, instituiu-se o processo para o exame de dois milagres: duas curas atribuídas ao Servidor de Deus.
No dia 16 de Novembro de 1975, o papa Paulo VI proclama José Moscati Bem-Aventurado, durante uma celebração solene na basílica de São Pedro em Roma.
Neste dia, na praça de São Pedro, apesar de uma chuva que cairá várias vezes, uma grande multidão de fiéis seguirá com viva emoção até o fim o rito sagrado.
A Canonização (João Paulo II)
Em 1977, dois anos após a Beatificação, houve o reconhecimento canônico do corpo: recompôs-se o esqueleto de Moscati e depuseram-no num relicário de bronze feito pelo professor Amadeu Garufi e em seguida colocado sob o altar da Visitação.
A devoção a Moscati vai aumentando cada dia mais. As graças obtidas por sua intercessão são cada dia mais numerosas. Com vistas à canonização, será examinada a cura da leucemia, ou mielóideaguda mielobástica, do jovem José Montefusco, que aconteceu em 1979.
Finalmente, após longos exames, durante o consistório de 28 de Abril de 1987, o Papa João Paulo II fixa a data da canonização para o dia 25 de outubro do mesmo ano 1987.
De 1 a 30 de Outubro, em Roma, se desenrolava a VII assembleia do Sínodo dos Bispos, cujo tema era: “Vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo, 20 anos após o Concílio Vaticano II”.
Não poderia haver melhor coincidência: José Moscati era um leigo que tinha cumprido sua missão na Igreja e no mundo. Sua canonização era muito desejada e esperada por todos: estudantes, universitários e médicos, que tinham conhecido o médico Moscati como um homem de grande fé e de grande caridade, que assistia e aliviava os sofrimentos de seus doentes, mas que principalmente, levava-os a Deus.
No dia 25 de Outubro de 1987, às 10 horas da manhã, na praça de São Pedro, em Roma, o Papa João Paulo II, em presença de 100.000 pessoas, proclama e admite oficialmente José Moscati no número dos Santos (60 anos após sua morte).
Sua festa litúrgica será fixada para o dia 16 de Novembro.
Antonio Tripodoro s.j. – Egidio Ridolfo s.j.
[Tradução por Alberto Penna Rodrigues – Fabio Boldo]
FONTE : http://www.gesuiti.it/moscati/Brasil.html