A Palavra de Vida que estamos propondo para este mês se encontra na Carta do Apóstolo Paulo aos Romanos. É um texto longo, rico de reflexões e ensinamentos, que ele escreveu antes de ir a Roma, a fim de preparar sua visita àquela comunidade, que ele ainda não conhecia pessoalmente.
O capítulo 8 enfatiza especialmente a nova vida segundo o Espírito e a promessa da vida eterna que aguarda as pessoas, os povos e o universo inteiro.
“Sabemos que tudo coopera
para o bem daqueles que amam a Deus.”
Cada palavra dessa frase é densa de significado.
Paulo proclama que, principalmente como cristãos, conhecemos o amor de
Deus e estamos conscientes de que cada experiência humana faz parte do grande projeto divino de salvação.
Tudo contribui – como diz Paulo – para a realização desse projeto: os sofrimentos, as perseguições, os fracassos e as fraquezas pessoais, mas sobretudo a ação do Espírito de Deus no coração das pessoas que o acolhem.
E ainda: o Espírito recolhe e assume os gemidos da humanidade e da Criação1, e é esta a garantia de que o plano de Deus será cumprido.
De nossa parte, devemos responder ativamente a esse amor com o nosso amor, confiando-nos ao Pai em cada necessidade e testemunhando a esperança nos
novos céus e na nova terra2 que Ele prepara para aqueles que confiam Nele.
“Sabemos que tudo coopera
para o bem daqueles que amam a Deus.”
Então, como assumir essa forte proposta em nossa vida pessoal, de cada dia?
Chiara Lubich nos sugere: Antes de tudo, nunca devemos parar no aspecto puramente exterior, material, profano das coisas, mas acreditar que cada fato é uma mensagem com a qual Deus nos expressa o seu amor. Veremos, então, como a vida, que nos pode parecer semelhante a um tecido do qual vemos apenas os nós e fios confusamente entrelaçados, é uma realidade bem diferente: é o plano maravilhoso que o amor de Deus vai tecendo, com base na nossa fé. Em segundo lugar, devemos nos abandonar confiantes e de modo total a esse amor, em cada momento, tanto nas pequenas coisas como nas grandes. Ou melhor: se soubermos confiar-nos ao amor de Deus nas circunstâncias normais, Ele nos dará a força para nos confiarmos a Ele também nos momentos mais difíceis, que podem ser, por exemplo, uma grande provação, uma doença ou o próprio momento da morte. Experimentemos, então, viver dessa maneira. Certamente não de forma interesseira, isto é, para que Deus nos manifeste seus planos e assim tenhamos consolações da parte Dele, mas somente por amor. E veremos como esse abandono confiante é uma fonte de luz e de paz infinita para nós e para muitos outros.3 Assim saberemos confiar-nos a Deus nas escolhas difíceis, como aquela que nos contou O. L., da Guatemala: Eu estava trabalhando como cozinheira num lar de idosos. Passando pelo corredor, ouço uma velhinha pedindo água. Arrisco-me a contrariar as regras que me proíbem sair da cozinha e lhe entrego, com carinho, um copo de água. Os seus olhos brilham. Com o copo pela metade, ela me aperta a mão: “Fique comigo dez minutos!”. Explico que não posso, que corro o risco de ser demitida. Mas aquele olhar… E decido ficar. Ela me pede que rezemos juntos: “Pai nosso…”. E depois: “Cante alguma coisa, por favor”, e me vem à mente a canção “Não levaremos nada conosco, só o amor…”. Os outros residentes olham para nós.
A velhinha está feliz e me diz: “Deus a abençoe, minha filha”; pouco depois, ela se apaga. De qualquer forma, fui demitida por ter saído da cozinha. O sustento da minha família, distante, depende de mim, mas estou em paz e feliz: respondi a Deus,
e aquela mulher não deu sozinha o passo mais importante de sua vida.
Letizia Magri
1) Cf. Rm 8,22-27.
2) Cf. Ap 21,1.
3) LUBICH, Chiara. O bem dos que amam. Palavra de Vida, agosto de 1984