Imaginemos três crianças do princípio do século XX, vivendo numa aldeia portuguesa, pertencentes a uma família Católica e que, de repente, começam a orar e viver com fervor uma mensagem resumida em uma das orações, jamais antes conhecida: “Santíssima Trindade Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação aos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
De fato, precisou acontecer algo de extraordinário para que aquelas crianças – Lúcia Santos, 10 anos, e seus primos Francisco Marto, 9 anos, e Jacinta Marto, 7 anos – pudessem, em comunhão, corresponderem, cada uma a seu modo, àquelas verdades, chamadas de “Mensagem de Fátima”, transmitidas em três etapas diferentes, mas interligadas pela pedagogia da Providência Santíssima.
A primeira fase pode ser chamada de círculo angélico (1916), quando o Anjo da Paz, como se autodenominou, tornou-se o principal agente. Em seguida, os três Pastorinhos, de 13 de Maio até 13 de Outubro (1917), tiveram todos os meses aparições da Senhora mais brilhante que o Sol, e que se revelou como a Senhora do Rosário, embora não tenha se limitado a pedir que fosse rezado apenas um Santo Terço diariamente. Estas experiências compuseram o círculo mariano. E, por último, o círculo do Coração de Maria (1925 e 1929), quando a Mãe de Jesus apareceu somente para Lúcia, já na condição de irmã religiosa, nas localizações de Pontevedra e Tuy, Espanha.
Rumo ao centenário das Aparições em Fátima e, em sintonia com as comemorações dos trezentos anos de Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, ambos em 2017, muito já se pesquisou, escreveu e pode ser aprofundado sobre o dom e missão do Carisma de Fátima.
Dentre a vastidão de valores, quero destacar algumas características, sem as quais, dificilmente, a Mensagem de Fátima chegaria a nós, com tanta credibilidade: a têmpera dos videntes! Pois, para além do dom comum das Aparições, grande bônus, houveram dolorosos ônus, dos incômodos causados pelas incompreensões familiares, desconfianças, interrogatórios, multidões e perseguições, as quais também foram ressignificados pelos voluntários e amorosos sacrifícios oferecidos a pedido da Virgem de Fátima: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei a Jesus, muitas vezes, em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
Por fim, na medida em que recorremos à mesma graça e misericórdia divina, disponíveis a todos, quero partilhar, com a intenção de provocar ainda mais o interesse e admiração para a personalidade dos nossos irmãos videntes, tão imitáveis Francisco Marto brilhou pela contemplação profunda, sua irmã Jacinta por meio do amor sacrificial e Lúcia pela obediência provada. Para isso também ensinou-lhes o Anjo sobre aquela paz que todos precisamos sempre: “Meu Deus eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam”.
*Padre Fernando Santamaria é missionário da comunidade Canção Nova e autor do livro “A esperança que transforma o mundo”, pela editora Canção Nova.
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