V Domingo da Quaresma: TIRE AS PEDRAS DE MORTE DE SUA VIDA!
(Ez 37, 12-14; Sl 129; Rm 8, 8-11; Jo 11, 1-45)
Durante o tempo quaresmal a palavra de Deus nos conduziu à vários lugares geo-teológicos. Fomos ao deserto (Mt 4,1-11), a montanha (Mt 17,1-9), ao poço (Jo 4), a cura (Jo 9) e neste domingo nos leva ao mais profundo de nossas vidas, como no salmo proposto para esta liturgia diz : “das profundezas eu clamo a vós, escutai minha voz” (Sl 129,1), isto é, ao lugar chamado morte. A morte têm significados. Se apresenta a nós com muitos rostos. Existe a perda real de alguém muito próximo, mas existem também as consequências desta perda, que nem sempre expressam apenas a falta biológica. As consequências são sempre emocionais e existenciais. Quando perdemos alguém muito estimado por nós, temos a sensação de que algo em nós se foi com esta perda. E para muitos é extremamente difícil a superação.
A morte na Sagrada Escritura tem também seus significados. Ela está associada ao pecado. Vê nele sua origem e propagação: Quanto mais se vive na proximidade do pecado, mais perto das feridas da morte se estará. A morte aqui é entendida como degeneração espiritual. Paulo na segunda leitura expressa esta realidade da seguinte forma: “Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus (…) Se, porém, Cristo mora em vós, embora vosso corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de vida, graças à justiça” (Rm 8, 8.10).
Neste quinto domingo da quaresma a liturgia nos conduz para este lugar teológico. Não com o intuito de nos fazer chorar de novo nossas mortes e perdas. Mas para curá-las: As perdas, as decepções podem endurecer nossa vida e coração. Sem nos darmos conta tornamo-nos nós mesmos “as lápides e os túmulos” onde foram enterrados nossos mais próximos. Este endurecimento da “alma” e da “esperança”, pode decretar o começo de uma morte espiritual na qual muitos cristãos se veem mergulhados. Este domingo quaresmal deixemos que o Senhor diga as mesmas palavras que disse a seu amigo Lázaro: “Vem para fora” (Jo 11,44).
O que precisa vivificar-se dentro de cada um de nós? Em que lugar de nossa vida algo parece estar morto? O que precisa “vir para fora”, ser deixado para trás e retomar o caminho da ressurreição do Senhor?
O profeta Ezequiel na primeira leitura anuncia uma linda promessa: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel” (Ez 37, 12). Não é fácil mexer com nossas perdas. É melhor permanecer na zona de conforto. Colocar uma pedra em cima de algumas situações e decretar para si mesmo o seu falimento. Mas este tipo de atitude não resolve coisas dentro de nós. Apenas as retarda, as empurra. A quaresma é tempo também de cura. De acreditar e confiar na ação do Senhor. Como Ele passa da morte da Vida na Páscoa, esta mesma passagem acontece no interior de cada um de nós. Cantamos em nossas assembleias: “Eis o tempo…. eis o Dia da salvação”. Talvez seja o tempo (Kairós) de conversão de situações de morte em sua vida para tempos de vida: Rompimento de relações, necessidade de perdoar alguém que lhe fez mal, reconciliação na família, enfim oportunidades de um novo recomeço que o Senhor promete.
O evangelho deste final de semana fala também de outras consequências da experiência da morte e da perda. Quando esta é vivida no âmbito familiar. Quanta dor, quanto desespero, mas também quanta solidariedade que uma dolorosa situação assim pode gerar. A família é a de Marta, Maria e Lázaro, os grandes amigos do Senhor: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro” (Jo 11,5). Estamos diante do capítulo 11 de são João. Ele descreve a morte e a “revificação” de Lázaro amigo do Senhor.
E neste longo texto proposto para este domingo, todas as reações que envolveriam a perda de um amigo querido estão presentes. Desde a reação das irmãs: “Então Marta disse a Jesus: “ Senhor se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas mesmo assim eu sei, que o que pedires a Deus Ele te dará” (Jo 11,21). De sua irmã Maria: “ quando o viu caiu de joelhos e disse: Senhor se estivesse estado aqui, o meu irmão não teria morrido” (Jo 11,33). Dos outros conhecidos: “Vede como Ele o amava” (Jo 11,36). E a mais impressionante: a do próprio Cristo: “Jesus ficou profundamente comovido (…) e Jesus chorou” (Jo 11,35).
Mas será desta mais profunda dor (Sl 129,1), que surgirá o mais sublime dos sinais de Cristo. São os paradoxos que o evangelho propõe, as únicas realidades capazes de tirar nossas vidas das mais escuras sepulturas. E é o que está em jogo neste longo texto. A revificação de Lázaro, após 4 dias de sua sepultura: “Tirai a pedra, Marta, a irmã do morto, interveio. Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias” (Jo 11, 38), é o sinal, de outra ressurreição: “Maria Madalena foi ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro e vê que a pedra fora tirada” (Jo 20, 1). Em ambas, foi preciso arrancar uma pedra. Na Ressurreição do Senhor, a pedra não pode lhe prender… O peso da morte não resistiu à força do amor. Mas sabemos que para sentirmos esta força, esta Vida em nós, algumas pedras precisam ser tiradas do coração. Nem Marta quis. É muito doloroso olhar de novo as mortes, mas é preciso. Deixe Jesus dizer neste tempo a você: “Tirai a pedra das mortes de sua vida e Eu faço o resto”!
Pe. Osmar Debatin