A palavra de Jesus ilumina a noção de que um coração libertado do desejo de posse, de domínio, mas sensível aos apelos de Deus, permite ao ser humano viver a realidade do matrimônio, dom de si e também a vivência e o anúncio da realidade nova daquele amor que jamais acabará.
Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News
A primeira leitura, tirada de Gênesis 2,18-24, nos fala da criação do ser humano e do apelo de Deus para que ele fosse seu colaborador. Contudo, apesar de ter sido criado pelo Senhor, à sua imagem e semelhança, o homem se sentia triste, sozinho. Deus percebe isso e cria um outro ser humano, a mulher, para ser sua companheira. Portanto, fica muito claro que, homem e mulher foram criados um para o outro, para se complementarem e viverem a vocação que Deus lhes deu.
O que poderemos apreender desse segundo relato da Criação? Primeiro que a solidão não é um bem. Podemos até, olhando para o corpo humano, perceber que ele foi feito para a comunicação: olhos, ouvidos, língua, braços com mãos e pernas com pés, além da própria inteligência e de outros órgãos de comunicação. Dentro dessa experiência amarga proporcionada pela atual pandemia, pudemos verificar como é duro o isolamento e a pobreza na comunicação!
Quando o ser humano começa a amadurecer, ele vai sentindo a necessidade de fazer amigos e buscar a companhia que o complete para toda a vida. Nesse momento, o coração gera um sentimento chamado amor, plenificando essa união e relacionamento. E mesmo, após uma feliz união com outro ser semelhante, se ela se desfaz, ele se sentirá preenchido pela experiência vivida com essa pessoa que não está mais presente e não sentirá solidão. Contudo, se a sentir, poderá se unir a nova pessoa. O que diremos das pessoas que são celibatárias por opção? Certamente elas o são por causa de um outro tipo de amor, mas não são solitárias, vivem a fraternidade, a amizade com outros seres idênticos. Somente o ser humano pode completar outro ser humano, desde que se tratem com reciprocidade. Por mais “interativo” que seja meu animalzinho de estimação, ele não é semelhante ao ser humano e sua “interação’ é limitada. Somente um ser humano verdadeiramente interage com outro ser humano.
O Evangelho, Marcos 10, 2-16 nos traz a visão de Jesus sobre o matrimônio e sua indissolubilidade. Os judeus trazem para o Senhor um caso onde essa relação de profunda complementação está sendo questionada. E para deixá-lo em situação delicada perante o povo e seus doutores, dizem que Moisés permitiu o divórcio, ou seja, a liberação oficial que permitiria uma nova união, tão legítima quanto à anterior. A palavra de Jesus ilumina a noção de que um coração libertado do desejo de posse, de domínio, mas sensível aos apelos de Deus, permite ao ser humano viver a realidade do matrimônio, dom de si e também a vivência e o anúncio da realidade nova daquele amor que jamais acabará.
Por isso, não faz sentido, em uma relação entre dois seres humanos, onde houve a entrega motivada pelo Amor, pensar-se em dissolução, em cancelamento. Deus é Amor e o que Deus uniu o homem não separe! Para muitos, a relação de amor criada entre o casal foi tão forte, que supera até a morte, porque é Deus!
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