Cidade do Vaticano (Rádio Vaticano, 07/07/2012) – Neste domingo somos chamados a refletir sobre o papel do profeta no ambiente religioso. O Profeta Ezequiel nos fala sobre a necessidade de o profeta deixar-se conduzir pelo Espírito e ser presença onde está exercendo sua missão, que, diga-se de passagem, não foi pedida, mas recebida.
No exercício da missão, o profeta não anuncia o que quer, o que gosta, o que valoriza, mas sim o que o Espírito, que o enviou, inspira.
O conteúdo da inspiração nem sempre é agradável. Lemos no próprio Ezequiel, mais adiante, que profetizar se assemelha a engolir um livro doce, mas que amarga quando chega ao estômago, ou seja, é doce receber a mensagem de Deus, mas anunciá-la e viver a reação das pessoas a quem a mensagem é enviada, geralmente é difícil. (Cf. Ez 3, 1-4)
Também sabemos que o fato de o profeta ser rejeitado por aqueles a quem anuncia a Palavra, longe de fazê-lo refletir sobre “em que eu errei para ser reprovado em minha missão junto a esse povo”, o profeta deverá ver nessa reação a legitimação e comprovação da missão. Significa que ele tocou no ponto nevrálgico e a Comunidade reage porque vê que deve mudar, mas não quer. Assim aconteceu com João Batista, com os demais profetas e com Jesus Cristo.
Assim acontece hoje com tantos profetas que nos são, ou melhor, nos eram conhecidos. Foram rejeitados, mortos, porque sua palavra exigia sair de si, mudar de vida, converter-se à Vida! Poderíamos citar uma ladainha muito longa: Irmã Dorothy, os jesuítas da Universidade de El Salvador, Dom Oscar Romero, e outros tantos.
Por outro lado, lendo o trecho do Evangelho de domingo, Mc 6, 1-6, podemos observar que o Senhor é rejeitado, também por causa de sua origem humilde e conhecida por todos, além, é claro, por causa do que fala.
Concluímos que a missão do Profeta é grandiosa, não por sua causa, mas por causa d’Aquele que o enviou. Essa missão é espinhosa, mas ele deverá corresponder à confiança de Deus e anunciar o que foi pedido e só o que foi pedido, mesmo com o risco da própria vida.
Sua escolha não é mérito seu, como vemos na segunda leitura – 2Cor 12, 7-10 –, mas desígnio de Deus, apesar do “espinho” que está espetado em sua carne.
Quem escuta o Profeta não escuta o homem ou a mulher que fala, mas Deus que o enviou.
Quem o rejeita não rejeita o mensageiro, mas Deus, autor da mensagem.