O Colégio de teólogos da Congregação para as causas dos santos atestou, no dia 08 de janeiro, com voto unânime, o martírio por ódio à fé (in odium fidei) do arcebispo assassinado enquanto celebrava a missa. Caem todas as pretensas objeções doutrinais para a sua beatificação.
Giani Valente – Roma
Romero é mártir. Foi morto por ódio à fé (in odium fidei). Repetia isso com voz rouca João Paulo II em novembro de 2003, falando com alguns bispos salvadorenhos vindos a Roma em visita ad limina (visita canônica quinquenal dos bispos ao Papa). Atestaram isso no dia 08 de janeiro com voto unânime também os membros do Congresso de teólogos da Congregação para a as causas dos santos, reconhecendo o martírio formal e material do arcebispo assassinado no altar, enquanto celebrava missa. O dia 24 de março de 1980 – revela Lorivela Stefania Falasca no jornal Avvenire – , acrescentando que “agora, segundo a praxe canônica, não falta nada a não ser o julgamento do Congresso dos bispos e dos cardeais e enfim a aprovação do Papa para a concussão do caminho que levará logo à beatificação.
Percorrendo todos os passos do processo, a autora do artigo sublinha que o pronunciamento sobre o martírio de Romero ”marca certamente o ápice de uma causa trabalhada”. Onde as objeções e tentativas de atrasar ou dificultar o caminho do bispo mártir até a beatificação se tinham às vezes revestido de argumentos teológicos e doutrinais. Por isso o pronunciamento dos teólogos que colaboram com o,Dicastério vaticano para os Santos apresenta-se dirimente e crucial e ainda mais próximo – e preenchido – nihil obstat (nada impede) dos bispos e dos cardeais da mesma Congregação.
O reconhecimento do martírio de Romero confirma de forma definitiva que o arcebispo salvadorenho foi morto por ódio à fé. O que motivou os assassinos não foi apenas eliminar um inimigo político, mas o ódio desencadeado pelo amor e pela justiça e pela predileção aos pobres que Romero demonstrava como consequência direta da sua fé em Cristo e da sua fidelidade ao magistério da Igreja. No delírio sanguinário que atormentava Salvador naqueles anos atrozes, Romero foi o bom pastor disposto a dar a vida para seguir a opção pelos pobres, própria do Evangelho. A fé – reconheceram os teólogos do dicastério vaticano -, era a fonte da sua ação, das palavras que pronunciava e dos gestos que realizava no contexto conturbado em que era chamado a agir e a viver como arcebispo.
O pronunciamento dos teólogos da Congregação conquista diferenciado espaço em dezenas de atitudes que propagandeavam uma interpretação somente política da eliminação de Romero. O reconhecimento do seu martírio por ódio à fé confirma que no Salvador dos esquadrões da morte e da guerra civil, a Igreja sofria uma perseguição feroz da parte de pessoas que, ao menos sociologicamente, eram cristãs. O desencadear-se do ódio que o assassinou era cultivado e condividido também por setores da oligarquia, habituados a frequentar a missa ou a fazer ofertas e doações às instituições eclesiásticas. Inclusive as associações de jovens “mulheres católicas” que publicavam nos jornais acusações e maldades feitas com arte contra ele.
O nihil obstat (nada impede) dos teólogos dissipa também a cortina de fumaça das insinuações montadas com arte para acreditar na fábula de Romero favorável à guerrilha, agitador político, influenciado e subjugado pelo marxismo. O processo para a causa de beatificação – do qual é postulador o arcebispo Vincenzo Paglia – verificou autorizadamente e em forma definitiva aquilo que repetiam sempre todos os amigos do bispo mártir Romero – como escreveu o professor Roberto Morozzo dela Rocca – era “um sacerdote e bispo romano, obediente à Igreja e ao Evangelho através da Tradição”, chamado a desenvolver o seu ministério de pastor “naquele Ocidente extremo e confuso que era a América Latina daqueles anos”. Onde as forças militares e os esquadrões da morte reprimiam com ferocidade um povo inteiro por conta de oligarquia. Onde os sacerdotes e os catequistas eram assassinados e nos interiores do país se tornava perigoso ter um Evangelho. Onde bastava pedir justiça para ser tachado de comunista subversivo. Onde a Igreja era perseguida porque se subtraía a ser o braço espiritual ao poder oligárquico.
Ainda assim por anos, depois de 2000, a causa de Romero permaneceu parada com a motivação que todas as homilias e os escritos do arcebispo salvadorenho deveriam ser submetidos ao exame da Congregação para a doutrina da fé para verificar a ortodoxia. Naqueles anos, assumiu um papel preponderante na gestão do dossier-Romero (relatório-Romero) – forçando para que a causa não fosse adiante – foi o cardeal colombiano Afonso López Trujillo, influente consultor do ex-Santo Ofício, falecido em 2008.
Naquele momento, chegaram à Congregação para as causas dos santos disposições orientadas em sentido delatório. Segundo alguns setores, levar Romero à honra dos altares equivalia a beatificar a Teologia da libertação ou diretamente os movimentos populares de inspiração marxista e as guerrilhas revolucionárias dos anos setenta. Por isso, segundo alguns, as motivações do martírio por ódio à fé não podiam ser aplicadas ao seu caso. Enquanto isso, serviam para fazer subir à honra dos altares, já no ano 2010, Jerzy Popieluszko, o sacerdote de 37 anos trucidado em 1984 por um comando do serviço de segurança da Polônia comunista.
Agora parece chegado o momento também para Oscar Arnulfo Romero. Não resta mais do que esperar. E não se deverá esperar muito, se se leva em conta que para a beatificação dos mártires não se exige a apresentação de um milagre realizado pela sua intercessão.
Fonte: http://vaticaninsider.lastampa.it/vaticano/dettaglio-articolo/articolo/romero-38468/
Tradução do italiano: Pe. Raul Kestring