Leitura do Evangelho
19 de setembro de 2009
Sábado da 23ª semana do Tempo comum
Lc 8,4-15:
Uma grande multidão, vinda de várias cidades, veio ver Jesus. Quando todos estavam reunidos, ele contou esta parábola:
– Certo homem saiu para semear. E, quando estava espalhando as sementes, algumas caíram na beira do caminho, onde foram pisadas pelas pessoas e comidas pelos passarinhos. Outras sementes caíram num lugar onde havia muitas pedras, e, quando começaram a brotar, as plantas secaram porque não havia umidade. Outra parte caiu no meio de espinhos, que cresceram junto com as plantas e as sufocaram. Mas algumas sementes caíram em terra boa. As plantas cresceram e produziram cem grãos para cada semente.
E Jesus terminou, dizendo:
– Quem quiser ouvir, que ouça!
Os discípulos de Jesus perguntaram o que ele queria dizer com essa parábola. Jesus respondeu:
– A vocês Deus mostra os segredos do seu Reino. Mas aos outros tudo é ensinado por meio de parábolas, para que olhem e não enxerguem nada e para que escutem e não entendam.
– O que essa parábola quer dizer é o seguinte: a semente é a mensagem de Deus. As sementes que caíram na beira do caminho são as pessoas que ouvem a mensagem. Porém o Diabo chega e tira a mensagem do coração delas para que não creiam e não sejam salvas. As sementes que caíram onde havia muitas pedras são as pessoas que ouvem a mensagem e a recebem com muita alegria. Elas não têm raízes e por isso crêem somente por algum tempo; e, quando chega a tentação, abandonam tudo. As sementes que caíram no meio dos espinhos são as pessoas que ouvem a mensagem. Porém as preocupações, as riquezas e os prazeres desta vida aumentam e sufocam essas pessoas. Por isso os frutos que elas produzem nunca amadurecem. E as sementes que caíram em terra boa são aquelas pessoas que ouvem e guardam a mensagem no seu coração bom e obediente; e, porque são fiéis, produzem frutos.
Comentário deste Evangelho:
São João Crisóstomo (cerca de 345-407), sacerdote em Antioquia e depois Bispo de Constantinopla, doutor da Igreja – Homilia sobre o Evangelho de Mateus, nº 44:
“Quem tem ouvidos para entender entenda”
Se a semente seca, não é por causa do calor. Jesus não disse que as sementes morrem por causa do calor, mas porque “não têm raízes”. Se a palavra é sufocada, não é por causa dos espinhos, mas por aqueles que os deixaram crescer livremente. Com a vontade, podes impedi-los de crescer, podes usar a riqueza de modo oportuno. Por isso, o salvador fala não do “mundo”, mas das “preocupações do mundo”; não da riqueza, mas “da ilusão da riqueza”. Portanto não acusemos as coisas em si, mas a corrupção da nossa consciência..
Como podes notar, tudo depende não do cultivador, nem da semente, mas da terra que a acolhe, isto é da disposição do nosso coração. Também aqui a bondade de Deus pelo homem é imensa: longe de exigir uma mesma dose de virtude, ele acolhe os primeiros, não rejeita os segundos, dá um lugar aos terceiros…
Portanto, ocorre primeiro escutar a Palavra com atenção, depois cuidar dela fielmente, depois armar-se de coragem, depois desprezar a riqueza e liberar-se para o amor de todos os bens do mundo. Se Jesus coloca a atenção à Palavra em primeiro lugar e como primeira de todas as outras condições, é porque esta é a condição necessária. “Como poderão crer sem ter ouvido falar?”(Rm 10,14). Também nós, se não prestarmos atenção ao que nos será dito, não saberemos quais os deveres a cumprir. Só depois vem a coragem e o desprezo pelos bens do mundo. No entanto, para tirar proveito deste ensinamento, fortifiquemo-nos: estejamos atentos à Palavra, deixemos crescer profundamente as nossas raízes e libertemo-nos de todas as preocupações do mundo.