A CARTA que o apóstolo Paulo escreve aos cristãos de Roma é um texto excepcionalmente rico de conteúdo. Com efeito, ali ele exprime a potência do Evangelho na vida de cada pessoa que o acolhe, a revolução trazida por este anúncio: o amor de Deus nos liberta!
Foi o que Paulo experimentou. Ele quer ser testemunha disso, com as palavras e com o exemplo. É uma fidelidade sua ao chamamento de Deus que o levará exatamente a Roma, onde poderá entregar a vida pelo Senhor.
“Quem nos separará do amor de Cristo”.
Pouco antes, Paulo havia afirmado: “Deus é por nós”! Para ele, o amor que Deus tem por nós é o amor do esposo fiel, que jamais abandonaria a esposa, à qual se uniu livremente com um laço indissolúvel, à custa do próprio sangue.
Portanto, Deus não é um juiz, mas, pelo contrário, é aquele que assume pessoalmente a nossa defesa.
Então, nada nos pode separar Dele, graças ao nosso encontro com Jesus, o Filho amado.
Nenhuma dificuldade, grande ou pequena, que possamos encontrar em nós ou fora de nós, é um obstáculo insuperável para o amor de Deus. Aliás, diz Paulo, justamente nessas situações, que quem confia em Deus e a ele se confia é um “super-vencedor”!2
Nesse nosso tempo de super-heróis e super-homens, que pretendem vencer tudo e todos com a arrogância e o poder, a proposta do Evangelho é a mansidão construtiva e a abertura às razões do outro.
“Quem nos separará do amor de Cristo?”
Para compreendermos e vivermos melhor essa Palavra, o conselho de Chiara Lubich pode nos ajudar: “É verdade que nós acreditamos – ou pelo menos dizemos que queremos acreditar – no amor de Deus. Muitas vezes, no entanto, (…) a nossa fé não é tão corajosa como devia ser (…) nos momentos de provação, como nas doenças ou nas tentações. É bem fácil que nos deixemos assaltar pela dúvida: ‘Mas será mesmo verdadeiro que Deus me ama?’ Nada disso! Não devemos duvidar. Devemos abandonar-nos com confiança, sem restrição alguma, ao amor do Pai.
Devemos superar a escuridão e o vazio que podemos estar sofrendo, abraçando bem a cruz. E, depois, lançar-nos a amar a Deus, cumprindo a sua vontade, e a amar o próximo. Se fizermos isso, experimentaremos juntamente com Jesus a força e a alegria da ressurreição. Tocaremos com mãos o quanto é verdade que, para quem crê e se abandona ao seu amor, tudo se transforma: o negativo se torna positivo; a morte se torna fonte de vida, e das trevas veremos despontar uma maravilhosa luz”.3
“Quem nos separará do amor de Cristo?”
Mesmo na assombrosa tragédia da guerra, aqueles que continuam acreditando no amor de Deus abrem brechas luminosas de humanidade: Nosso país se encontrava em uma guerra absurda, aqui, nos Balcãs. No meu esquadrão entravam também soldados da mais avançada frente de combate, vítimas de muitos traumas porque viam parentes e amigos morrer diante dos próprios olhos. Eu não podia fazer outra coisa senão amá-los um a um, na medida do possível. Nos raríssimos momentos de trégua, eu procurava falar com eles das muitas coisas que uma pessoa pode experimentar nessas circunstâncias. Chegamos a falar até mesmo de Deus, pois muitos deles não tinham fé. Num desses momentos de escuta eu fiz a proposta de chamar um padre para celebrar uma Missa. Todos aceitaram e alguns foram se confessar depois de vinte anos. Posso dizer que Deus estava ali, conosco.
1) Rm 8,31; 2) Cf. Rm 8,37; 3) LUBICH, Chiara. Palavra de vida agosto 1987.
Letícia Magri
Especialista em matrimônio e família na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma. Desde março de 2017, escreve a Palavra de Vida como representante de um grupo de membros do Movimento dos Focolares de diferentes idades, culturas e profissões, entre os quais especialistas em exegese bíblica, ecumenismo e comunicação.