Há um mês, a festa do dia das mães ocorreu em meio a dor e tristeza numa casa da Grande Florianópolis. Uma menina de nove anos, depois de ter entregue seu presente para a mãe, retirou-se para seu quarto. Um jovem, vizinho seu, de dezessete anos, adentrou no quarto, tentou violentá-la e, diante da resistência que ela ofereceu, acabou matando a menina a facadas. Esta notícia foi destaque de um dia no jornal, entre tantas notícias de violência propaladas pela mídia, que chamam a atenção e assustam num primeiro momento, mas que, depois, acabam sendo esquecidas.
Acredito que este jovem assassino deve ter suscitado muitos rumores, iras, raiva e insultos por parte da sociedade. Também surpreso e sem conhecer maiores detalhes do autor deste ato tresloucado, mas como educador, eu me pergunto: o que este jovem pode ter pensado para praticar um gesto tão cruel e inusitado? Sem ter uma resposta pronta, teço minhas considerações: bons psicólogos e psiquiatras me ajudam a entender que, uma mente que engendrou tão bárbaro ato provavelmente estava poluída de inúmeras imagens e, quem sabe, de atos de um mundo sensual, erótico, pornográfico. E então sinto calafrios pelo que ainda possa estar por vir. De fato, milhões de sites que apelam para o erotismo como arma de persuasão para venda de seus produtos ou ideias, que propagam sexualidade descompromissada, que aviltam a dignidade da mulher estão enchendo as telas dos computadores acessados pelas nossas crianças, adolescentes e jovens ( e não só); programas televisivos de baixo nível, que apelam para a violência, que propagam o hedonismo e a busca do prazer a qualquer custo entram em nossas casas com a maior facilidade; atrás de inúmeros “bate-papos” escondem-se pedófilos, pederastas, traficantes e outros insanos à procura de suas vítimas. Você pai, você mãe, está se dando conta disso? Você está ciente de que, quando seus filhos “navegam” na internet, poderão, de repente, se esbarrar numa “tempestade” de imagens, informações e interesses de cunho sexual, que poderão comprometer o futuro da vida afetiva deles?
Sem desmerecer, com isso, muita informação de qualidade que a rede cibernética pode oferecer aos seus “internautas”, você já refletiu no fato de que seu filho pode ainda não estar apto ou amadurecido suficientemente para reconhecer as armadilhas que se escondem atrás destes meios de comunicação?
Pergunto-me, outrossim: estão os governantes efetivamente preocupados com esta tão devastadora ameaça? Quando falam em regulamentar os meios de comunicação estão pensando em proteger seus filhos? Ou estão apenas querendo cercear o direito de opinião de seus adversários políticos? Qual é a mensagem que é repassada por estes mesmos governantes quando decidem, por exemplo, promover significativos cortes nos investimentos na saúde pública e, de outro lado, que dizer das 70 milhões de “camisinhas” distribuídas como se fossem guloseimas durante o último carnaval? Será que com esta prática, dissociada de qualquer ação educativa no sentido de orientar para uma sexualidade responsável e segura, não estará fomentando a perversão das mentes e das almas em lugar de educar para o amor verdadeiro e fiel? Esta é a sociedade que nós queremos para os nossos filhos?
Entendo que o não, dito pela menina assassinada, é o não que os pais deverem começar a dizer diante destes “assaltos”. É o grito de desespero que temos que começar a dizer diante de uma tecnologia moderna que está agredindo os mais indefesos, sem saber onde os levará.
Esta criança pagou com o sangue um mal que, se a sociedade não tomar enérgicas e urgentes medidas, semeará ainda muito mais vítimas.
Dom José Negri PIME
Bispo Diocesano de Blumenau