Nesta manhã, 04 de julho de 2020, fui surpreendido com a notícia da morte do Pe. Higino Rohden. Essa comunicação da PASCOM da Diocese de Joinville despertou em mim gratas, edificantes, recordações.
Pe. Higino acolheu-me quando, aos 10 anos, fui de carroça com meu pai para o então Seminário Nossa Senhora da Salete, em Taió . Era o dia 06 de fevereiro de 1961. Três dias depois, completava a idade de 11 anos. Quanto ao nome do seminário, pouco tempo depois, mudou-se para Seminário Nossa Senhora de Fátima.
O sacerdote, naquele tempo, exercia o cargo de prefeito de disciplina. Acompanhava os seminaristas vinte e quatro horas por dia. Pela primeira vez, eu deixava minha casa para ir tão longe, 25 quilômetros. Assim me parecia. Na verdade, a distância era sentida pela dor de estar distante do lar que me viu nascer e crescer. Pe. me viu tomado pela saudade. Hoje me dou conta que foi um verdadeiro milagre ter permanecido no seminário. Naquele primeiro dia, até sentia dores abdominais. Uma dor tão diferente que nunca havia sentido. Era mais do que isso: dizia ao Pe. Higino e ao meu pai, ciente de que este estava prestes a voltar para casa, que era dor de cabeça. Eram muito fortes os laços afetivos que me ligavam à minha mãe, ao meu pai, aos irmãos e irmãs. Pois tínhamos uma belíssima convivência familiar. Destacava-se, como diz Papa Francisco, o “tempero da fé”. Éramos praticantes da fé cristã/católica. De manhãzinha, ao acordar, juntos, acomodados aos pés da cama, literalmente, rezávamos as rações da manhã.
Acostumei-me à disciplina da vida em comunidade segundo os princípios daqueles tempos. Diante da conversa fora de hora, ausência em alguma atividade comunitária, displicência no trabalho, Pe. Rohden, através do orifício da sua batina, puxava do bolso da sua calça uma cadernetinha e anotava o nome do infrator e o ponto que ia diminuindo do número 10.
Guardo imensa gratidão por este sábio e perseverante educador porque, com ele, aprendi as primeiras e sistemáticas noções de música. Tanto em sala de aulas, deliciava-me dom esses inícios como, na prática, vendo e ouvindo o polivalente mestre regendo entusiástica e energicamente o coral de voes iguais do Seminário no coro/mezzanino da capela.
O gosto pelo canto e pela música, eu incorporei na família. Meu pai gostava de cantar. Possuía invejável voz. Habituei-me a vê-lo e ouvi-lo na igreja puxando e animando os cantos. Quando falecia alguém do lugar, a distância e as condições de então não permitiam a vinda do padre. Era meu pai que oficiava a cerimônia do enterro. Intermináveis cortejos fúnebres, em duas filas, pela rude estrada, não eram problemas para que Seu Gregório animasse as orações e os cantos. Sua voz ecoava pelas vargens e encostas. E a comunidade rezava recolhida, alto e bom som, harmoniosa. Além de meu pai, meus tios e tias formavam belo coral, inclusive de cantos populares, apreciando também hinos em italiano. Não faltavam instrumentos como o violino, o cavaquinho, a flauta e a escaleta. Tardes e noites adentro eram animadas por poesias, histórias, nostalgias, cantadas. Eram ocasiões em que as nonas e vizinhas se esmeravam em preparar boa comida, tudo fruto da terra e do trabalho próprio.
Quase escapei do assunto descrevendo essas recordações. No entanto, senti necessidade de, assim, frisar quanto Pe. Higino para mim representava nesse aspecto da música. E representa até hoje.
Pe. Higino Rohden, na casa do Pai, descansa, goza das melodias da felicidade sem fim! Obrigado, muito obrigado por fazer parte da minha vida, com positivas e edificantes marcas que o tempo não apaga!
Requiescant in pace – et lux aeterna luceat eis, Domine!
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