Papa ouve uma confissão na Basílica Vaticana – EPA – 07/04/2015 12:49
Cidade do Vaticano (RV) – “A Confissão é o sacramento da ternura de Deus, o seu modo de abraçar-nos.” É o que diz o Papa Francisco num seu recente tuíte: um convite a recorrer ao Sacramento da Reconciliação, muitas vezes repetido nestes seus dois anos de Pontificado. A propósito, a Rádio Vaticano perguntou ao renomado téologo italiano, arcebispo de Chieti-Vasto, Dom Bruno Forte, o que lhe sugere o convite de Francisco à Confissão como ternura e abraço de Deus:
Dom Bruno Forte:- “Sugere uma imagem evangélica, a do Pai do Filho pródigo que está à janela, de longe vê o filho voltar, corre a seu encontro e o abraça. Parece-me que o Papa Francisco tenha querido evocar a profunda misericórdia de Deus, o fato que o Deus de Jesus Cristo é um Pai que nos ama, que nos respeita mesmo quando escolhemos algo que é contra a sua vontade e Ele está sempre pronto a acolher-nos, a esperar nosso retorno e a fazer festa quando voltamos. Portanto, mais que a visão do tribunal – que por vezes no passado havia dominado a visão do Sacramento da Penitência, onde o sacerdote era de certo modo o juiz que devia absolver –, estamos diante da imagem de um encontro de amor, de uma espera, de um acolhimento festivo, de uma misericórdia transbordante.”
RV: O senhor recorda a imagem de Deus como a de um Pai que perdoa sempre. O Papa Francisco disse isso no início do Pontificado: “Deus jamais se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir perdão”. Por que se perde a confiança no perdão de Deus?
Dom Bruno Forte:- “O mecanismo do pecado é um mecanismo que atinge profundamente a integridade da pessoa humana e o primeiro efeito, devastador, do mal, é o mal que se faz a si mesmo. Perde-se o sentido da própria dignidade e, propriamente por isso, a confiança nas possibilidades que Deus nos deu. Eis o motivo pelo qual o rosto da misericórdia é fundamental para reencontrar o caminho da reconciliação. Um Deus juiz manteria distante aqueles que pecaram. Um Deus de infinita misericórdia, como o Papa Francisco ama ressaltar, é um Deus que nos atrai, que convida o coração a confiar n’Ele, apesar de tudo.”
RV: Numa de suas missas na Casa Santa Marta, falando sobre a Confissão, o Papa disse: é preciso ter simplicidade e também coragem. Por que essas qualidade muitas vezes parecem ter desaparecido dos cristãos, quando recorrem ao Sacramento da Reconciliação?
Dom Bruno Forte:- “A simplicidade é necessária porque ser simples significa ser verdadeiro, ou seja, saber colocar-se diante de Deus sem álibi e sem defesas. Sem aquelas superestruturas que complicam as relações humanas e, por vezes, complicam também nossa relação com Deus. O Papa Francisco não se cansa de recordar que Deus é amor e que, portanto, toda relação com Deus deve ser vivida no signo do amor, que significa, da confiança, da liberdade do medo e da coragem de reencontrar no amor a força para ser você mesmo segundo o desígnio de Deus. No fundo, a coragem é uma virtude inseparável da confiança e do amor. Se você não tem amor, se não tem confiança, se não se sente amado, também a coragem vacila. Se, ao invés, há tudo isso, a coragem lhe faz abrir àquilo que um grande teólogo evangélico, Karl Barth, chamava as “impossíveis possibilidades de Deus”.” (RL)