Sacerdotes durante a Missa do Crisma – L’Osservatore Romano
02/04/2015 09:41
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa celebrou, na manhã desta Quinta-feira Santa (02/04), a Missa do Crisma, na Basílica Vaticana. Francisco abençoou os santos óleos que serão utilizados ao longo do ano nos sacramentos do Batismo, Crisma e Unção dos Enfermos.
O tema central da homilia do Papa foi o cansaço dos sacerdotes. “Sabem quantas vezes penso nisto, no cansaço de todos vocês?”, perguntou Francisco. E disse: “Penso muito e rezo com frequência, especialmente quando sou eu que estou cansado. Rezo por vocês que trabalham no meio do povo fiel de Deus, que foi confiado a vocês; e muitos fazem isso em lugares tão isolados e perigosos. E o nosso cansaço, queridos sacerdotes, é como o incenso que sobe silenciosamente ao Céu. O nosso cansaço eleva-se diretamente ao coração do Pai”, disse o Papa.
Nossa Senhora
Francisco encorajou os sacerdotes a perceberam também que Nossa Senhora está ciente deste cansaço e que imediatamente faz nota-lo ao Senhor. “Como Mãe, sabe compreender quando os seus filhos estão cansados, e só disso se preocupa. ‘Bem-vindo! Descansa, meu filho. Depois falamos… Não estou aqui eu, que sou tua Mãe?’”, refletiu Francisco.
Repouso merecido
Ao citar uma chave da fecundidade sacerdotal que, de acordo com o Papa, está na forma como os sacerdotes repousam e como o Senhor cuida do cansaço deles, Francisco afirmou: “Como é difícil aprender a repousar”, e prosseguiu: “Nisto transparece a nossa confiança e a consciência de que também nós somos ovelhas”.
Contudo, Francisco convidou os sacerdotes ao discernimento: “Sei repousar recebendo o amor, a gratidão e todo o carinho que me dá o povo fiel de Deus? Ou, depois do trabalho pastoral, procuro repousos mais refinados: não os repousos dos pobres, mas os que oferece a sociedade de consumo?”, ponderou Francisco.
Compromissos dos sacerdotes
O Papa prosseguiu sua reflexão falando sobre os deveres dos sacerdotes, os quais repassou brevemente: “levar a Boa-Nova aos pobres, anunciar a libertação aos cativos e a cura aos cegos, dar a liberdade aos oprimidos e proclamar o ano de graça do Senhor. Isaías diz também cuidar daqueles que têm o coração despedaçado e consolar os aflitos”, recordou Francisco. De maneira espontânea, o Papa quis compartilhar suas reflexões acerca de três tipos de cansaço sobre os quais o pontífice meditou:
O cansaço do povo, das multidões
Este é um “cansaço bom e saudável”, disse o Papa, e acrescentou “É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima para baixo”.
O cansaço dos inimigos
Francisco alertou que o diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus ouvidos não suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para silenciar ou distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo. Não se trata apenas de fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso também defender o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii Gaudium, 83).
“O maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num instante aquilo que construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é preciso pedir a graça de aprender a neutralizar: neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender”, advertiu o Papa.
O cansaço de nós próprios
Ao concluir, Francisco citou este cansaço que, para ele, é o mais perigoso uma vez que os anteriores derivam do fato dos sacerdotes estarem expostos, de terem saído deles mesmos para ungir e servir. “Este cansaço é mais auto-referencial…Trata-se do cansaço que resulta de ‘querer e não querer’”, finalizou o Papa, ao exortar a todos os sacerdotes para que possam aprender a estar cansados, “mas com um cansaço bom”.